O que esperar da quarta e última temporada de “Succession”

Em entrevista à ELLE, Kieran Culkin e J. Smith-Cameron dão pistas sobre os episódios finais, reescritos até o último minuto.


Jeremy Strong (Kendall), Sarah Snook (Shiv) e Kieran Culkin (Roman) Divulgação



Succession, a série vencedora de 13 Emmys que já entrou no rol das melhores de todos os tempos, retorna para sua quarta temporada neste domingo (26.03), às 22h, na HBO e HBO Max. Os dez novos episódios serão também os últimos da saga pela sucessão de Logan Roy (Brian Cox) no comando da Waystar Royco, uma informação que pegou o público – e parte do elenco – de surpresa.

No final da terceira temporada, quando Logan negociava a fusão com uma empresa de tecnologia liderada por Lukas Matsson (Alexander Skarsgaard), ele ameaçou deixar os filhos Kendall (Jeremy Strong), Siobhan (Sarah Snook), Shiv para os íntimos, e Roman (Kieran Culkin) para trás. Os três tentaram contra-atacar, mas foram traídos duplamente pela mãe, Caroline (Harriet Walter), separada de Logan há anos, e por Tom Wambsgans (Matthew Macfadyen), o marido de Shiv.

Nos dez episódios finais, eles lidam com os efeitos da traição, tentando montar uma companhia de mídia menos tradicional, mas acabam entrando em guerra direta com o pai ao atrapalhar a aquisição de uma empresa pela Waystar.

Em entrevista com a participação da ELLE, Kieran Culkin, 40, e J. Smith-Cameron, 65, que interpreta a executiva Gerri Kellman, braço-direito de Logan e assediada por Roman, com quem tem uma relação bastante complexa, falaram sobre a quarta temporada, o fim e o legado da série criada por Jesse Armstrong:

A popularidade da relação de Gerri e Roman
J. Smith-Cameron: “Fui pega totalmente de surpresa. É uma coisa bizarra. Acho que Kieran e eu, de uma forma muito particular, temos uma espécie de química que foi bem aproveitada. Mas ainda me surpreende. Eu não tinha certeza de como as pessoas reagiriam, se ficariam horrorizadas, achariam absurdo ou pensariam: ‘Por que não?’. E é um pouco de tudo. Eu acho que só é sexual na cabeça do Roman, mas, com o tempo, ele conseguiu deixá-la com uma pulga atrás da orelha. E Roman é um personagem incrível, que causa repulsa e é irresistível. Acho incrível ter um monte de gente torcendo pelos dois”.

“Nós descobrimos gradualmente que seria a última temporada, porque acho que Jesse (Armstrong) também não tinha certeza no começo da quarta temporada que seria o fim” J. Smith-Cameron

A maturidade de Roman
Kieran Culkin: “No início da quarta temporada, ele é um pouco a voz da razão. Ele acredita no negócio que está montando com os irmãos. E quer continuar com o projeto, até porque acha que os irmãos estão tentando apostar em outra coisa por razões imaturas, para se vingar do pai. O Roman cresceu durante as quatro temporadas. Na primeira, ele estava completamente por fora. Na segunda, ele tinha a posição na empresa, mas não estava preparado. E agora eu acho que não só ele seria totalmente capaz de tocar um negócio com seus irmãos como de ser o CEO da Waystar”.

Roman é igual a Kieran?
Kieran Culkin: “Eu compartilho a altura, o peso, a cor de cabelo. Seria ótimo ter a conta bancária. Mas, sério, há aspectos da minha personalidade que são acentuados. Eu não sei identificar o quê. Não sei fazer a coisa de me transformar totalmente para ser uma outra pessoa, porque aí não sinto que está vindo de um lugar verdadeiro. Cada personagem que interpreto tem alguma verdade que compreendo neles, ou seja, há algo que se conecta comigo ou minha vida. Mas eu não sou o Roman”.

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Kieran Culkin (Roman) e J. Smith-Cameron (Gerri)

Em quem Smith-Cameron se inspirou para fazer Gerri
J. Smith-Cameron: “Eu tenho algumas amigas que estão na área corporativa e são duronas, aguentam muito mais do que pessoas em outras áreas. Gerri sempre tenta estar dois passos adiante mentalmente. Acho (o personagem) bastante interessante para mim, mas também para o público ver como uma mulher se mantém nesse mundo tão masculino”.

A culpa dos pais
Kieran Culkin: “Eu colocaria um grande peso na parentalidade na maneira como os filhos de Logan são. A mãe não sabe se comunicar, no momento em que algo fica sério, ela simplesmente foge. Caroline basicamente abandonou os filhos. Claro que, em sua perspectiva, eles é que foram morar com o pai. Mas ela é a mãe, se quisesse, teria ficado com os filhos. E aí o pai estava sempre trabalhando. Eles tiveram de se virar. A comunicação nunca foi encorajada nem a expressão dos sentimentos. Roman sabe que não vai ouvir um ‘eu te amo’ do pai, então se apega aos pequenos gestos. Eles não estão indo muito bem na vida, apesar de todo o dinheiro e seus privilégios, porque não tiveram pais que os guiassem. Eles só sobrevivem por causa dos privilégios que têm, mesmo. E é por isso que, apesar de tudo, os irmãos se amam. Roman era o que mais tinha a perder ao romper com o pai, mas ter um negócio com os irmãos é uma chance de comunicação e de ser uma família”.

Como termina
J. Smith-Cameron: “Gerri é uma estrategista, mas ela ficou entre Logan e Roman no final da temporada anterior. E como sempre acontece em casos de assédio sexual, a mulher costuma ser ostracizada e culpada. Então, o início é bastante incerto. Minha experiência é que ela observa tudo muito atentamente, caminhando em um campo minado, mas se sai muito bem. É cheio de altos e baixos. A verdade é que não sei como vai ser o final. Me disseram para não contar nada, mas eu não sei nada. Porque os episódios foram reescritos até o último minuto, eu não sei o que vai entrar ou não”.

Succession não segue as normas da televisão. Nunca explica demais as coisas. Sempre acredita que o público vai estar prestando atenção” J. Smith-Cameron

É o fim
J. Smith-Cameron: “Nós descobrimos gradualmente que seria a última temporada, porque acho que Jesse (Armstrong) também não tinha certeza no começo da quarta temporada que seria o fim. Nós tínhamos esperança e ficamos na expectativa por um tempo. Mas aí ficou claro que a história da sucessão estava sendo encerrada. Acredito que todos nós estamos de coração partido. Porque eu acho que minha personagem ainda tinha mais vida. E a mesma coisa com a maior parte dos personagens. Mas confiamos em Jesse, que está pensando na qualidade. Isso é admirável. Só que estamos muito tristes”.

Como foi a despedida
Kieran Culkin: “Estou tentando processar ainda. Foram muitas despedidas, porque um grupo de atores encerrou em um dia, depois foi outro e finalmente o meu. E no meu último dia, eu me lembrei de algo que a Sarah (Snook) tinha me dito no meio da terceira temporada. Ela falou: ‘Eu e você nunca mais vamos ser escalados para fazer nada juntos. Nunca. Quando a série acabar, nunca mais vamos fazer uma cena juntos’. Eu senti como se ela tivesse me dado um soco no estômago. Ela riu. E eu pensei que ia levar muito tempo para isso acontecer. Mas, quando terminamos nossa última cena, isso me veio à cabeça. Comecei a chorar e falei: ‘Não vou mais trabalhar com você’ (ele se emociona). E ela é a pessoa mais maravilhosa que eu conheço, e a melhor companheira de cena. Essa é a parte mais dolorosa, me abalou muito. O resto ainda não parece muito real. Ainda não processei. Mas essa parte de nunca mais sermos escalados para trabalhar juntos parte meu coração”.

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Brian Cox (Logan) Divulgação

O legado de Succession
J. Smith-Cameron: “Acho que foi um marco. Mas ficamos chocados e maravilhados com tantas pessoas no mundo apreciando a série. Porque ela não segue as normas da televisão. Nunca explica demais as coisas. Sempre acredita que o público vai estar prestando atenção. Espero que se torne o padrão. E acho que vai ser uma daquelas séries citadas entre as grandes, como Família Soprano e The wire. Mas, claro, eu sou um pouco suspeita para falar”.

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