Com Jacob Elordi, “Saltburn” traz doses altas de provocação

Elenco e diretora falam sobre o filme que chega ao Prime Video sobre a relação doentia do protagonista com a família aristocrata do garoto por quem se encanta.


Jacob Elordi em Satlburn
Jacob Elordi em "Saltburn" Foto: Divulgação



Em Saltburn, Emerald Fennell mostra que veio mesmo provocar. Ela já tinha dado sinais de sua ousadia em sua estreia com Bela vingança (2020), filme em que sua protagonista, interpretada por Carey Mulligan, se recusa a ser uma vítima, virando a mesa do poder, e pelo qual a diretora levou o Oscar de melhor roteiro original. Mas em Saltburn, que estreia nesta sexta-feira (22.12) no Prime Video, ela vai um pouco mais longe. 

O protagonista da trama é Oliver (Barry Keoghan, que concorre ao Globo de Ouro pelo papel, depois de indicado ao Oscar de ator coadjuvante por Os banshees de Inisherin, de 2022). O personagem chega à Universidade de Oxford e imediatamente se encanta por Felix (Jacob Elordi, de Euphoria e Priscilla). Oliver faz de tudo para se aproximar do rapaz – e consegue. Acaba sendo convidado para passar o verão na mansão da família aristocrática de Felix, formada pelo pai, James Catton (Richard E. Grant, indicado ao Oscar por Poderia me perdoar?, de 2018), pela mãe, Elspeth (Rosamund Pike, que disputa o Globo de Ouro pelo filme e concorreu ao Oscar por Garota exemplar, de 2014), e pela irmã mais nova, Venetia (Alison Oliver, da série Conversas entre amigos, de 2022).

Os Catton tratam Oliver e outros agregados, como Pamela (Carey Mulligan), chamada por eles de Pobre Querida Pamela, e Farleigh (Archie Madekwe) como brinquedos descartáveis. Eles são incapazes de demonstrar emoções, mas não são monstros. E Oliver também não é um coitado. Há muitas reviravoltas, cenas absurdas e outras que parecem feitas para chocar.

“Em cada lugar em que exibimos, a resposta foi diferente. Tivemos berros, gritos agudos, contorções. Nojo, desespero, amor, ódio. Uma montanha-russa”, disse Emerald em uma coletiva com participação da ELLE. “É muito empolgante quando você consegue sentir essa reação visceral.” A seguir, trechos da entrevista com a diretora e os atores Rosamund Pike, Jacob Elordi e Barry Keoghan.

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A mansão de Saltburn Foto: Divulgação



A ARISTOCRACIA BRITÂNICA

Emerald Fennell: “Tenho interesse nos centros de poder e no que eles fazem conosco. E o sistema de classes britânico é algo único. Estou questionando a nossa relação com essas casas majestosas, com as pessoas, porque todos nós amamos isso. Sabemos que não devemos, mas queremos estar lá. E por mais que você se prepare, esses aristocratas tiram seu poder de forma muito interessante, com encanto, carinho, amor, até ficarem entediados e te descartarem.”

“Estou questionando a nossa relação com essas casas majestosas, com as pessoas, porque todos nós amamos isso” Emerald Fennell

Rosamund Pike: “Emerald reflete sobre nossa obsessão por aquilo que não podemos ter. A aristocracia britânica define isso porque, por mais dinheiro que se ganhe, ou por mais que sua posição social se eleve, nós não podemos ter o que essas famílias têm naquelas casas e que foi transmitido de geração em geração. Mesmo que você seja um bilionário estadunidense e compre uma mansão, nunca terá o que eles têm. Nossa obsessão atual com as pessoas nas redes sociais é um pouco assim. Emerald identificou a natureza obsessiva gerada em todos nós pelo mundo online em que vivemos e associou à aristocracia britânica de 2007. Você pode passar pelas portas, mas nunca pertencerá. É cruel e sinistro.”

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Alison Oliver (Venetia), Jacob Elordi (Felix) e Barry Keoghan (Oliver) no filme Foto: Divulgação

POR QUE A HISTÓRIA SE PASSA EM 2007?

Emerald Fennell: “O que aconteceu há 15 anos não parece glamoroso. Não importa quão rico, quão bonito você seja, o que era moda há 15 anos ainda não voltou, não é cool. Há um efeito humanizador em ver a pessoa mais linda do mundo com uma pulseira Livestrong (da fundação criada pelo ex-ciclista Lance Armstrong) e uma tatuagem com Carpe Diem escrito. Quando você está falando sobre essas pessoas ricas e bonitas, precisa adicionar algo humanizador.”

FELIX DA VIDA REAL

Jacob Elordi: “Sempre tinha um desses na escola, aquele cara em torno de quem todos gravitavam. Eles em geral se chamavam William, eram bom em esportes, em falar, os professores adoravam e estavam sempre com o cabelo impecável.”

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Rosamund Pike como a matriarca Elspeth Foto: Divulgação

A MATRIARCA DOS CATTON

Rosamund Pike:
“Ela é uma matriarca muito incomum pois quase sempre está completamente desinteressada pelos filhos. Para amenizar a parte dela que não consegue realmente se conectar com eles, ela tenta se relacionar com pessoas de fora. É muito mais fácil se conectar com pessoas descartáveis, que podem ser convidadas a se retirar, do que com sua própria família. Oliver é um desses. Porque ele parece vulnerável e se beneficiará de seu olhar benevolente. E ela se sentirá melhor consigo mesma. Elspeth é emocionalmente anoréxica e se priva de qualquer sentimento real. Quando algo traumático acontece, ela sufoca isso com uma conversa trivial.”

“O figurino é uma arma. Este filme é sobre como nos apresentamos, como nos identificamos” Emerald Fennell

AS ROUPAS DE SALTBURN

Emerald Fennell: “Cada detalhe conta a história e delineia o personagem. Por exemplo, se alguém tem unhas lascadas ou uma manicure perfeita, se tem raízes (que evidenciam a tintura) de cinco centímetros no cabelo, se tem um bronzeado falso. O figurino é uma arma. Este filme é sobre como nos apresentamos, como nos identificamos. Oliver, por exemplo, comete o erro terrível de pisar em Oxford pela primeira vez parecendo ter feito um esforço (por aquele visual), pelo qual ele é imediatamente crucificado. Ele tem de aprender a ser cool. Já Felix, apesar de riquíssmo, tem suéteres comidos pelas traças, camisas de linho sempre amassadas. É cool, mesmo parecendo não se esforçar em nada para isso. Farleigh (Archie Madekwe), permanentemente lembrado de seu status de agregado, tem de se vestir bem para divertir, da mesma forma que Pamela. Os dois foram transformados em bobos da corte.”

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Alison Oliver como Venetia Foto: Divulgação

Rosamund Pike: “Eu vivi essa época, foi muito difícil. Todos estavam à espreita, esperando por um deslize para criticar as mulheres. Esse é um ingrediente do filme. Elspeth mostra isso em relação à sua filha, por exemplo, com uma impaciência desdenhosa com sua bulimia. As mulheres eram criticadas o tempo todo, por tudo.”

A PAIXÃO DE OLIVER POR FELIX

Emerald Fennell: “É uma história de vampiros. É um filme gótico. Mas não acho que Oliver seja o vampiro, ou pelo menos não é o único. Os Cattons sugam a vida de todos. Eles procuram brinquedos. Oliver é nosso herói. Mas a tragédia para mim, e de certa forma para ele, é que Oliver é um especialista, com o dom de saber o que as pessoas querem e se adequando e transformando para dar a elas aquilo que desejam. Ele está apaixonado por Félix, mas deseja a todos. Eu quero que o espectador tenha vontade de fazer sexo com todos os personagens e de assassiná-los também. A ideia é que as pessoas saiam do filme formigando e sem saber se aquela sensação é boa ou ruim.”

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O jantar em Saltburn Foto: Divulgação

DANÇANDO NU PELA CASA

Barry Keoghan: “Foi libertador. Não é algo que se faça normalmente. Você fica vulnerável. Mas foi divertido. Eu já dancei pelado pela minha casa, mas não fiz nada com um ralo de banheira nem fui a nenhum cemitério (ri sobre as cenas polêmicas do filme).”

SALTBURN É UM COMENTÁRIO SOBRE A SOCIEDADE?

Jacob Elordi: “Acho que é menos um grande comentário sobre a sociedade do que uma conversa particular que cada espectador vai ter consigo mesmo. Eles vão se olhar no espelho e se identificar com Oliver. Ou perceber que já fizeram algo que Felix ou Elspeth fazem. É uma jornada individual.”

LONGE DAS CONVENÇÕES 

Jacob Elordi: “Emerald Fennell é incrível em se afastar de convenções e do que as pessoas dizem sobre as coisas e simplesmente enxergar todos como imorais, problemáticos e complicados. Ela ama cada personagem da mesma forma, ainda mais Oliver, o que mostra o quanto Emerald é pirada da cabeça.”

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