“The crown”: figurinistas contam como foi recriar os looks de Diana e Kate Middleton

Ninguém deu mais trabalho para as figurinistas de The crown (Netflix) do que Lady Diana. Os figurinos da série sempre precisaram trafegar na linha tênue entre reproduzir com fidelidade looks famosos da realeza e expressar também as personalidades dessas personagens inspiradas na vida real, mas ficcionais. Com Diana, foi mais complicado, por se tratar de um ícone fashion cujos passos foram acompanhados pelo mundo inteiro, diferentemente de outros personagens que aparecem na série. 

Amy Roberts (vencedora do Bafta em 2012 por Call the midwife e do Emmy por The crown em 2020), que assumiu o figurino na terceira temporada, e Sidonie Roberts (também vencedora do Emmy por The crown em 2020), que entrou na produção em seu quinto ano, sabiam quais looks de Diana precisavam ser fiéis aos originais. O vestido de noiva na temporada 4, o vestido da vingança na temporada 5 e o maiô azul das férias na Riviera Francesa na temporada 6 eram alguns deles.

Até essa progressão tem uma narrativa, da princesa dos contos de fada para a mulher tentando se recuperar da traição, do divórcio, do escândalo e do afastamento da Família Real, culminando com se despir de tudo isso e encontrar seu verdadeiro eu, pouco antes de sua morte em um acidente de carro.

Diana é a estrela da primeira parte da sexta e última temporada, cujos quatro episódios estrearam em 16 de novembro. A segunda parte, que estreia na Netflix nesta quinta-feira (14.12), mostra a Rainha Elizabeth (Imelda Staunton) com medo da perda de popularidade, e o Príncipe William (Ed McVey) lidando com a morte trágica e precoce da mãe, passando a ser cobiçado pelas garotas e iniciando uma relação com Kate Middleton (Meg Bellamy). A futura Princesa de Gales é uma jovem estudante da mesma faculdade de William e se veste ainda despojadamente, bem diferente da sua atual imagem, sempre impecável. Um dos episódios reproduz o famoso desfile de moda em que ela apresentou um vestido transparente. 

Na entrevista a seguir, Amy e Sidonie Roberts falam à ELLE sobre os desafios de criar os figurinos para Diana e Kate Middleton:

O icônico maiô azul de Diana usando nas férias na Riviera Francesa, na temporada 6 de The Crown Foto: Divulgação

Diana é um ícone da moda, e suas imagens são muito conhecidas em todo o mundo, o que não é o caso de outros membros da realeza. Além disso, existem vários filmes sobre ela, como Spencer (2021), dirigido por Pablo Larraín e estrelado por Kristen Stewart. Como fizeram sua versão dessa história?
Sidonie Roberts – Sem dúvida, há mais interesse nela do ponto de vista da moda. Existem muitas fotos da Rainha ou de Margaret (irmã de Elizabeth) por aí, mas acho que o interesse em termos de moda é maior com Diana. Tivemos sorte porque acompanhamos sua trajetória muito antes de ela virar esse ícone fashion. Nós começamos com a personagem antes mesmo de ela chegar ao palácio. Então, em termos de figurino e de história, pudemos viver com Diana um pouco mais e conseguimos estabelecê-la desde jovem, inclusive psicologicamente, para depois entender onde ela vai parar. Tivemos três temporadas com ela, começamos a aprender sobre suas nuances como se fosse uma amiga.

Mas não sentiu nenhuma pressão?
Sidonie – Em algum momento, tive de esquecer que ela era um ícone da moda pois isso pode ser paralisante. Ela é uma mulher com muito estilo para a época, sem dúvida. E isso dá medo e exerce certa pressão, sim. Por outro lado, eu só tinha 9 anos quando ela morreu. E quando a Amy generosamente me deu as rédeas com Diana, me disse: “Feche os olhos. De que você se lembra do vestido de noiva?”. É essa essência de uma pessoa que tentamos criar, com nosso próprio toque. Minha memória de Diana era o que Amy estava querendo transmitir.

“Não estamos fazendo moda, tudo é guiado pelo personagem, por seu lugar na trama e na sociedade” Amy Roberts

Diana tinha grifes favoritas. Você foi atrás delas ou quis se afastar completamente?
Sidonie – Fomos atrás apenas quando estávamos comprando peças vintage. Quando estávamos criando peças, não, pois somos figurinistas, e não designers de moda. No fim, teríamos cozinheiros demais na nossa cozinha. É a nossa história, tudo o que estamos tentando fazer é guiado por uma narrativa.

É mais desafiador criar figurinos para uma época próxima do que remota, como os anos 50 ou 60?
Amy Roberts – Sem dúvida, a chance de críticas é maior. Mas você tem de ignorar. Tão importante quanto acertar os anos 1990 ou 2000 é acertar os 1850. Porque você pode pensar que conhece o período, mas realmente o domina? Pensou a fundo sobre ele? É um pouco mais profundo do que “ah, eu usei isso”. Como Sid disse, não estamos fazendo moda, tudo é guiado pelo personagem, por seu lugar na trama e na sociedade. Na sexta temporada, temos Kate, que é uma garota de classe média alta. É preciso entender as nuances, não só colocá-la em um jeans de 2000.
Sidonie – As pessoas têm mais opiniões. Com o período elisabetano, por exemplo, se você trabalha como figurinista ou historiadora, as pessoas presumirão que está tudo correto. Também é verdade que, nos períodos mais recentes, mesmo os anos 1960, 1970, por causa da Amy, incluímos nuances que você só entende quando é uma experiência vivida, e não apenas pesquisada.

Meg Bellamy como Kate Middleton e Ed McVey como Príncipe William Foto: Divulgação

A Kate Middleton que conhecemos na sexta temporada é uma estudante universitária. Mas sabemos que, na realidade, ela se torna uma princesa. Como foi criar seus figurinos?
Amy – Na nossa história, você não vê a transição para a Kate de agora. Ela sempre foi linda, mas não temos a garota impecável das capas de revistas, como Diana era. Na série, a conhecemos na escola, ainda jovem, indo para a universidade e vivendo esse tipo de vida. É interessante para o público, sabendo quem ela é agora, que eles se casaram e o que isso significa para os dois e para a monarquia. Como isso ajudou a monarquia e a tornou bastante popular novamente. Não chegamos a essa fase. Mas é divertido as pessoas verem: “Ah, ela era assim”.
Sidonie – É semelhante ao que falamos logo no início sobre Diana e ter a sorte de mostrá-la antes dela ser princesa. A Kate aqui é uma garota normal de classe média, antes da fama. É interessante psicologicamente entender como alguém se desenvolve.
Amy – Sim, também adoro ver Diana quando ela estava no apartamento com suas colegas, seus cardigãs, e depois progredindo para se tornar esse ícone extraordinário. É muito mais do que apenas roupas.
Sidonie – Sim, contamos sua história por meio das roupas. Você vê a crisálida e a borboleta.

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Khalid Abdalla (Dodi Fayed) e Elizabeth Debicki (Princesa Diana) Foto: Divulgação

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