Ariana Grande, Cynthia Erivo e Jon M. Chu falam sobre Wicked: Parte 2
Atrizes esmiúçam as transformações de Glinda e Elphaba, enquanto o diretor explica as diferenças entre os dois filmes.
“Foque nas garotas.” Com esse conselho vindo de quem já tinha feito Wicked antes, o diretor Jon M. Chu abraçou o desafio de adaptar para o cinema o bem-sucedido musical, em dois filmes.
O primeiro, lançado há um ano, contém as canções mais conhecidas e apresenta o conflito de Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande), que se transforma em amizade. No segundo, Wicked: Parte 2, que estreia nesta quinta-feira (20.11) nos cinemas brasileiros, as duas estão separadas.
Elphaba é pintada como uma bruxa má, enquanto Glinda é a bruxa boa aliada do regime de Oz (Jeff Goldblum).
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Quem conhece o musical sabe que o segundo ato tem seus problemas. As músicas não têm o mesmo apelo, e a história é bem corrida. Ampliar a duração da peça de duas horas e meia para cinco horas dos dois filmes somados era uma chance de destrinchar melhor as personagens, seus encontros e desencontros.
Chu e parte do elenco – Cynthia Erivo e Jonathan Bailey, intérprete do Príncipe Fiyero, prometido de Glinda, mas que se sente atraído por Elphaba – vieram ao Brasil no início de novembro para a primeira pré-estreia mundial. O voo de Ariana Grande teve um problema, e ela precisou cancelar a visita, gerando muito barulho entre os fãs. Em São Paulo, Chu conversou com a imprensa, com a participação da ELLE.
Enquanto isso, Ariana Grande e Cynthia Erivo participaram de entrevistas por videoconferência com a imprensa internacional, também com a presença da ELLE, em que falaram sobre as diferenças entre a parte 1 e a 2 e o que aprenderam com a experiência:

Cynthia Erivo como Elphaba em cena do filme Foto: Divulgação
A separação em dois filmes
Jon M. Chu: “No primeiro filme, queríamos mostrar o conto de fadas. No segundo, tudo desmorona. Como você reconstrói uma história depois disso? Como você constrói um conto de fadas? As possibilidades para isso ainda existem? Você ainda pode ter esperança e alegria em um mundo que é uma bagunça?”.
A diferença do primeiro para o segundo filme
Jon M. Chu: “O primeiro filme propunha uma resposta: seja fiel a quem você é, defenda-se. Não é fácil ser corajoso. O segundo é mais um desafio, uma pergunta: quem somos nós? E isso pode ser interpretado de maneira mais política. O que acontece quando alguém tem poder? Elphaba também pode ser uma figura como Jesus Cristo, que nos dá um livro e diz: ‘Vocês decidem. Quem vão ser?’. Não se trata de dizer: ‘É assim que você precisa ser’”.
“A Elphaba da segunda parte sabe muito bem o poder que tem. Ela tem uma compreensão de quem é e do que deve fazer. E que está experimentando a solidão por causa da escolha que fez no filme anterior” Cynthia Erivo
Ariana Grande: “No primeiro filme, Glinda está muito enfeitiçada, precisando de validação externa. Ela tem essa fachada da qual se orgulha muito, é muito querida, amada e tem essa aparência radiante. No segundo filme, isso ainda está lá, mas distorcido. Sua luz não está sendo usada para o bem. A cada passo, você vê essa bolha de privilégio sendo corroída, lentamente. Ela é convidada a olhar para além de si mesma. O primeiro momento em que ela realmente consegue fazer isso é no primeiro filme, no salão de baile. Havia uma bondade silenciosa nela, uma pessoa com consciência superior dentro dela, que estava apenas sob o feitiço dessas projeções dos pais e da sociedade. Ninguém acreditava nela. E isso é semelhante ao que a Elphaba sentiu. Ambas foram levadas a acreditar que não eram suficientes, e acho que elas reconhecem isso uma na outra. Ambas sentem essa pressão enorme, mas ela se manifesta de maneiras completamente diferentes. É por isso que uma precisa da outra”.
Cynthia Erivo: “A Elphaba do primeiro filme está descobrindo quem é. Está na defensiva, presumindo que ninguém a aceitará. Ela se fecha e está pronta para fazer a piada, para que ninguém faça com ela. É uma criança que não recebeu amor, que se sentiu sozinha durante grande parte da vida. Mas que tentou ser a melhor filha e irmã possível. E precisa descobrir como controlar o poder que possui. Já a Elphaba da segunda parte sabe muito bem o poder que tem. Ela tem uma compreensão de quem é e do que deve fazer. E que está experimentando a solidão por causa da escolha que fez no filme anterior. Ela também explora sua vulnerabilidade, sua sensualidade e seu amor. Quando você assiste ao número musical de ‘No good deed’, parece que é uma pessoa forte e poderosa, agora na defensiva. Mas, na verdade, é alguém que se rendeu, que está no seu momento mais frágil. Ela perdeu muito e não tem mais forças para lutar contra as coisas que dizem sobre ela. Se todos concordam que ela é má, é isso que será. É um momento de dor e tristeza genuínas. Agora ela é uma mulher, não uma menina.”
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Foto: Ariana Grande como Glinda
Canção favorita
Ariana Grande: “‘Thank goodness’ foi escrita para a minha personagem, mas reconheço muitos momentos semelhantes na minha carreira em que talvez tenha sentido esse mesmo tipo de pressão. Precisar me apresentar em meio à confusão, para dar aos outros a esperança e a luz que você também anseia no seu coração e que está aprendendo a encontrar para si mesma. Já vivi esse momento antes. Embora eu mantenha minhas experiências pessoais bem separadas da minha atuação, uso nos gatilhos da Glinda.”
Crescimento via Wicked
Ariana Grande: “Este projeto realmente curou minha relação com a criação em geral. O filme me transformou por dentro e por fora. Me apaixonei novamente por isso. Por muito tempo minha fama foi mais importante do que o meu trabalho ou a minha arte. Amo atuar, amo meu trabalho, sempre fui uma pessoa criativa. Foi muito bom me sentir vista pelo meu trabalho de uma forma que talvez não sentisse há muito tempo.”
“O filme me transformou por dentro e por fora. Me apaixonei novamente por isso. Por muito tempo minha fama foi mais importante do que o meu trabalho ou a minha arte” Ariana Grande
Cynthia Erivo: “Sempre me senti estranha, diferente. Já tinha me aceitado, mas essa experiência e essa personagem me fizeram me apaixonar por todas as minhas diferenças. Principalmente porque conheci muitas outras pessoas que se apaixonaram pelas suas diferenças, que conseguiram expressar: ‘Sinto que não me encaixo, mas por causa de Elphaba agora sinto que pertenço, que a minha diferença é o que me torna especial’. E isso realmente teve um efeito profundo em mim, pois agora não tenho outra escolha senão me apresentar sempre como sou por completo e me dedicar totalmente ao trabalho em que estou envolvida. Essas personagens podem realmente impactar as pessoas. É um dom especial que não deve ser desperdiçado. Fisicamente, quando comecei esse trabalho, tive que raspar a cabeça para pintá-la de verde. Raspei todos os dias por quase um ano. Quando finalmente me desapeguei da personagem, percebi que realmente gostava do que via sem nada para esconder. E continuei. Fazer isso mudou a forma como eu vejo a beleza, e talvez tenha mudado a forma como outras pessoas a veem. A beleza está nos olhos de quem vê”.

Cynthia Erivo, Ariana Grande e o director Jon M. Chu no set de Wicekd: Parte 2 Foto: Divulgação
A relação de Ariana e Cynthia
Ariana Grande: “Foi um privilégio trabalhar com Cynthia. Eu a amo e respeito demais, como companheira de cena e ser humano. No segundo filme, tanto Glinda quanto Elphaba passam pela mesma solidão, que se manifesta de maneiras diferentes. Elphaba está literalmente sozinha na floresta, sem sua melhor amiga. E Glinda, cheia de gente em volta dizendo que a ama, mas extremamente solitária. Foi lindo compartilhar isso com a Cynthia”.
Cynthia Erivo: “Há algumas pessoas que me mudaram para melhor. Ari definitivamente foi uma delas. Sou muito séria no meu trabalho. Não costumo dar risada aleatoriamente no set. Mas pela primeira vez, houve uma espécie de brecha na minha armadura com ela (Ariana)”.
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