SPFW N60: Angela Brito
Estilista caboverdiana Angela Brito se inspira na Pangéia para criar peças de alfaiataria atemporais.
Angela Brito é uma otimista. A estilista, nascida em Cabo Verde, criada em Portugal e radicada há mais de três décadas no Brasil, acredita no poder da internet para aproximar pessoas e criar conexões genuínas. Foi com esse olhar que ela se voltou à Pangéia – o supercontinente que, há cerca de 200 milhões de anos, reunia todas as terras do planeta em um só bloco.

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite

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Angela também não acredita em coincidências. Essa coleção começou a ser pensada em 2017, mas só agora, depois de apresentar Romaria (2023) e Crioula (2024), ela conseguiu alinhar as ideias. O resultado é uma continuação natural desses dois trabalhos.
Para a designer, o fato de a América do Sul e a África estarem lado a lado no antigo supercontinente não é mero acaso – nem o de Cabo Verde, sua terra natal, estar localizado entre as duas placas. “O Brasil é um país de essência crioula”, explica ela. “Você encontra os mesmos costumes no Caribe, nas Antilhas, em Cabo Verde, mas não nos reconhecemos assim. Sempre tento misturar os meus dois mundos.”

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite
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Seu objetivo é aproximar essas regiões e borrar as fronteiras que as separam.
Essa ideia ganha forma nas roupas por meio de quadrados sobrepostos de modo desordenado, mas harmônico. Há blusas com patchwork de tecidos diversos e peças com dobraduras que remetem a fissuras geológicas, enquanto rasgos e assimetrias representam a ruptura da Pangéia.
A paleta de cores é essencialmente preta e branca, com toques pontuais de vermelho. As tonalidades foram definidas após uma conversa da estilista com a geóloga Macarena Roca, que explicou serem essas as cores utilizadas em mapas – o vermelho, em especial, para destacar o que é relevante.
Técnicas artesanais marcam presença nas rendas redendê aplicadas nas costas e nos cós de saias e vestidos e nos Panu di Terra, tecidos tradicionais de Cabo Verde. A parte de trás de alguns looks traz desenhos do multiartista Dino de Santiago, que também cantou ao vivo durante o desfile. Neles, rostos se alinham e se misturam, criando novos contornos e, mais uma vez, aproximando o que um dia foi separado.

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite
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Os acessórios complementam a narrativa. As suladas, amarrações de pano utilizadas historicamente para carregar objetos junto ao corpo, viram bolsas de couro presas na cintura. Já os colares são feitos de semente de jabuticaba, fruta brasileira nativa da Mata Atlântica, pintadas e furadas manualmente.
É interessante como Angela Brito lida com ideias que, em outras mãos, poderiam facilmente se tornar caricatas, mas que ela transforma em exercícios de estilo sofisticados, atemporais. A alfaiataria, as sobreposições de calça e saia, os aventais com pregas, a cintura baixa e as blusas de decote quadrado reforçam o tema proposto sem abrir mão da funcionalidade: aqui, a roupa segue cumprindo seu papel utilitário.

Angela Brito, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite
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