Cabernet Franc, a uva tinta da onda

Quer vinhos tintos elegantes, fáceis de beber, porém com estrutura e grandes possibilidades de harmonização? Cabernet Franc, a uva que sacode a América Latina, pode ser uma boa resposta.


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Luigi Bosca de Sangre Cabernet Franc 2022. Foto: Divulgação



Sabe aquela festinha em que fica combinado de cada pessoa levar um vinho? Pode ter certeza de que pinta Cabernet Sauvignon na jogada, até porque há vasta oferta de rótulos bem acessíveis em qualquer lado. Seu perfil padrão é facilmente reconhecível: encorpado, alcoólico, cheio de taninos, de cor intensa, cheirão de fruta negra madura, muitas vezes cozida, lembrando compota. Todo mundo já tomou um bocado desses vinhos polpudos e pesados, estilo que a sommelière e educadora Alexandra Corvo, mestra na escola Ciclo das Vinhas, identifica como “vinho-bocona”.

Tá. Mas se o assunto é Cabernet Franc, o que a Sauvignon tem a ver com isso? Se você busca por vinhos tintos elegantes (tendência mundial de consumo), a bocona superfrutada dos Sauvignon, que conhecemos bem, é um parâmetro de estilo a não ser escolhido. Os Franc geralmente têm taninos mais “magros” (não amarram tanto a língua), notas herbais e de especiarias evidentes, que podem trazer pimentas branca e preta, pimentão, menta, eucalipto, canela. Se trabalhada delicadamente, a uva vai aportar as mesmas frutas negras de maneira vivaz, por causa da acidez mais elevada, natural da variedade, o que é traduzido como frescor. São mais complexos, enfim. “Muitas camadas”, diriam os analistas de redes sociais.

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Casarena Estate Cabernet Franc.

Ainda são vinhos bastante estruturados, mas talvez tragam a resposta a quem quer bebidas mais delicadas. Se colocarmos Pinot Noir no extremo do que possa definir delicadeza em tintos, é justo dizer que Cabernet Franc seja uma porta de entrada para drogas mais leves. Outra: podem ser vinhos bastante longevos, para quem tem paciência de guardar e acompanhar sua evolução ao longo dos anos. (Andei provando alguns Cabernet Franc brasileiros velhuscos, da década de 80, e, olha, eles estavam lindos, evoluídos e inteiraços.)

Nada contra a Cabernet Sauvignon, que também pode gerar vinhos bem afinados, dependendo de onde a uva é cultivada e das escolhas de vinificação. Agora, se você acaba se empapuçando já na segunda taça de um vinho pancadão, dê uma chance à Franc, mais fácil de beber. É cada vez mais comum topar com ela por aí: virou modinha na América do Sul, sobretudo na Argentina, e também há bons rótulos sendo produzidos no Chile, no Uruguai e no Brasil. Alexandra, porém, aconselha que se conheça vinhos de Franc em dois de seus melhores terroirs: as regiões francesas de Bordeaux e do Vale do Loire.

No habitat natural

Embora seja uma das três principais uvas do famoso corte bordalês, a Cabernet Franc colabora um tiquinho na mescla, deixando mais espaço para Cabernet Sauvignon e Merlot brilharem. Ganha força nas sub-regiões de Pomerol e Saint-Émilion, margem direita de Bordeaux, onde é cortada com quantidades mais ou menos equivalentes de Merlot, deixando a Sauvignon na rabeira.

Muito resumidamente, Merlot entra com a fruta abundante e Franc, com taninos marcados e acidez que garantem estrutura e longevidade à bebida. Château Cheval Blanc, diz quem já o bebeu, é uma das expressões máximas do terroir de Saint-Émilion. “Um vinho verdadeiramente majestoso e etéreo”, relata Jancis Robinson, crítica inglesa das mais respeitadas.

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No Vale do Loire – zupt! – a Cabernet Franc atinge seu zênite, ao menos na visão de quem quer frescor. Seu melhor pedaço é a sub-região de Chinon, onde ela se desenvolve de maneira diferentona e é bastante vinificada como monovarietal, ou seja, sem mistura com outras uvas. “São vinhos cheios de juventude, aromas de pimenta preta, violetas. A fruta negra fica atrás, numa boca absurdamente ácida e arisca. Chamo esses vinhos de arrepiados, com seus taninos magrinhos, sem recheio, frente a uma acidez bem evidente”, diz Alexandra Corvo. 

Com o que ela vai bem?

Não se trata de um fenômeno de popularidade tipo Lady Gaga, que lacra polêmicas a cada vídeo lançado. Quem sabe das coisas, porém, já tem Cabernet Franc na sua lista de vinhos para diversas ocasiões, uma vez que são muitas as possibilidades de harmonização. Um Franc mais estrutrurado, de taninos granulosos, tipo Bordeaux, e os produzidos na Toscana vão casar com carnes suculentas ou defumadas, preparos com molhos de frutas vermelhas ou de tomate. Lembre-se de que as ervas têm superimportância na harmonia com esse vinho, que normalmente tem um tanto de pimenta e de pimentão no aroma. Se o prato é perfumado com ervas, especiarias e elementos levemente picantes, há boas chances de casamento.

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Gran Ombú Cabernet Franc, da Braccobosca. Foto: Divulgação

Os Franc magrinhos e arrepiados vão bem com queijos ácidos, como o de cabra (um clássico do Loire), com camembert, feta e uma pedida bem brasileira: queijo da Serra da Canastra.  Ou com aves e carne de porco. Para vegetarianos e veganos, é um vinho versátil, que abraça vegetais grelhados, tostadinhos, mesmo os de harmonização mais difícil, como berinjela e azeitonas. Podem brilhar ao lado de uma terrine de cogumelos, pimentão e abobrinha, tudo grelhado antes da montagem – e com ervas perfumosas como alecrim e sálvia.

Uma história sul-americana

Foi Robert Parker, crítico estadunidense influentíssimo, quem chamou atenção do mundo para a Cabernet Franc da América do Sul. Deu 100, nota máxima, ao rótulo argentino Gran Enemigo Single Vineyard Gualtallary 2013. A safra 2019 foi avaliada novamente com 100 pontos pela revista Wine Advocate, fundada por Parker, e ganhou outros 100 de outro crítico bambambã, James Suckling. “O vinho desenvolve-se muito lentamente no copo e apresenta camadas e camadas de aromas, mas tudo de forma muito sutil”, descreveu Parker.

GRAN ENEMIGO gualtallary single vineyard

Foto: Divulgação

Parker, fanzão de Bordeaux, fez o planeta entrar na onda dos vinhos-bocona. As bebidas encorpadas, muito extraídas e trabalhadas com bastante contato com madeira, viraram sinônimo de vinho bom, bonito e bacana. O homem virou guru: o que dizia era lei. Produtores do mundo todo perseguiram o estilo dos vinhos intensos bem pontuados pelo crítico, fenômeno apelidado de “parkerização”. Olha ela aí de novo: Cabernet Sauvignon, principal uva bordalesa, virou estrela absoluta, com seus vinhos parrudões. Ainda é a uva mais plantada no planeta.

Embora vinhos mais leves, elegantes e menos extraídos ganhem adeptos, sobretudo entre o público jovem, Alexandra ainda vê prevalecer, na América Latina, o estilo parrudão que faz a cabeça de Parker – Cabernet Franc incluída. E o ranking da Wine Advocate, apesar de ser considerado ultrapassado por moderninhos, ainda exerce bastante influência sobre as decisões de consumidores e produtores. A partir dos 100 pontos concedidos ao Gran Enemigo, diversos vinhateiros do nosso continente passaram a cultivar e vinificar Cabernet Franc.

A uva do futuro no Brasil

“Cabernet Franc é a uva do futuro no Brasil”, crava o enólogo argentino Adolfo Lona, paradoxalmente mirando o passado de glória que ela teve por aqui. Ao chegar ao Rio Grande do Sul para trabalhar numa multinacional do vinho, em 1973, “totalmente ignorante do que se fazia no país”, logo identificou as boas possibilidades da Franc e passou a trabalhar com ela em algumas linhas de sucesso hoje extintas, como Baron de Lantier (é um dos Franc brasileiros que envelheceram muito bem).

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Old Fashioned Cabernet Franc, da vinícola brasileira Garbo. Foto: Divulgação

Lona explica que Cabernet Franc e Merlot (outra cepa que admira) têm maturação precoce. Estão prontas para serem colhidas antes do período de chuvas que muitas vezes arrasa as vindimas de verão do Rio Grande do Sul. Os aguaceiros podem trazer grandes perdas durante o período de maturação, encharcando as frutas, diluindo seus componentes, fazendo com que os bagos se rompam ou apodreçam. É o risco que se corre anualmente com uvas de maturação mais lenta, como a Cabernet Sauvignon (coitada, estamos dando um pau nela).

Contrariando os avisos da natureza, a Cabernet Sauvignon prevaleceu sobre a Franc, cuja cultura entrou em declínio – em parte por uma virose que atacou as vinhas de vários produtores, em parte maior pela tendência de mercado. Os vinhos parrudos já eram parâmetro de bom gosto, estabelecido por quem batia continência para Parker. “Uvas como Cabernet Sauvignon e Chardonnay tornaram-se comercialmente mais apropriadas, sem que se fizesse um estudo minucioso das condições do solo e do clima para sua cultura. Cabernet Franc e Merlot foram abandonadas”, diz.

A hora, no entanto, não é de lamentação. Lona enxerga o renascimento da Franc não apenas em terroirs do sul do país, mas nos novos territórios do vinho, que se expandem por sudeste, centro-oeste e sul da Bahia. Trabalha como consultor num projeto no estado do Rio de Janeiro, onde também identificou boas possibilidades para a cepa. “A Cabernet Franc naturalmente resulta em vinhos elegantes, desde que não se cometa a loucura de exagerar na madeira ou na extração das frutas. O mercado moderno já passou da fase do excesso”, aponta o enólogo, na direção oposta ao gosto pelos vinhos-bocona.

O que provar

Brasil

A Vinícola Cristofoli, de Bento Gonçalves, tem seguido os conselhos de Adolfo Lona e investido na Cabernet Franc. Sua primeira experiência com a uva está dentro de uma linha dedicada a vinificações diferentonas, em diversos estilos. Cristofoli Coleção Especial Cabernet Franc (R$ 179, na loja da vinícola) foi totalmente fermentado em barricas de carvalho e traz aromas de café, caramelo e tabaco em conjunto com taninos finos. 

Arte da Vinha Francamente Franc (R$ 245, na loja da vinícola) é queridinho entre os naturebas, pelo trabalho de vinificação de mínima intervenção e um resultado fresco, herbal e frutado, apesar da passagem de quatro meses por madeira. A safra 2023 ganhou medalha de melhor vinho brasileiro do ano no Guia Descorchados, que ranqueia os vinhos sul-americanos.

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A vinícola Arte Líquida, também adepta da vinificação natural, sem leveduras selecionadas, prepara a Franc em dois estilos, com uvas cultivadas por freis capuchinhos em Vila Flores. Franc Puro (R$ 130, na loja da vinícola) é leve, refrescante e vivaz, resultado de extrações e macerações curtas. Cabernet Franc Vila Flores (R$ 300, no mesmo site) tem estágio de dez meses em carvalho francês usado e de 15 meses em garrafa antes de ir para o mercado. Chega com frutas negras maduras, especiarias, o herbal característico da cepa e taninos levemente rugosos. Também papou prêmio de melhorzão: o da safra 2022 foi o vinho brasileiro eleito na edição mais recente do Guia Adega, lançada no final do ano passado.

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Gran Reserva Cabernet Franc, da Marzarotto. Foto: Divulgação

Alexandra Corvo manda uma dica boa de preço: Marzarotto Pleno Cabernet Franc (R$ 78, na Vinhos e Vinhos) tem três meses de passagem por carvalho francês e é um vinho redondo, de bom equilíbrio entre fruta e acidez. A mesma vinícola também produz o Gran Reserva Cabernet Franc (R$ 189, na Vinhos e Vinhos), que também promete vivacidade.

Outros interessantes Cabernet Franc brasileiros são Garbo Old Fashioned Cabernet Franc 2021 (R$ 158, na loja da vinícola), L.A. Cave Cabernet Franc 2018 (R$ 211, na loja da vinícola Luiz Argenta) e Salvattore Clássico Cabernet Franc (R$ 65, na loja da vinícola).  

Argentina

Quem está bem de cobres e quer começar a viagem pelos Cabernet Franc da Argentina de maneira opulenta pode ir direto para os premiadíssimos vinhos de El Enemigo, projeto do enólogo Alejandro Vigil. Gran Enemigo Single Vineyard Gualtallary 2020 (R$ 909,56, na Mistral) está disponível e deve chegar por aí o Gran Enemigo Single Vineyard El Cepillo safra 2021, eleito o melhor Cabernet Franc argentino na edição 2025 do Guia Descorchados. Ambos não têm apenas Franc, mas 15% de Malbec. El Enemigo Cabernet Franc 2020 (R$ 294,20, na Mistral) faz parte da linha de entrada da vinícola.

Luigi Bosca de Sangre Cabernet Franc 2022 (R$ 265,20, na Decanter) é um exemplar com caráter de fruta madura, toques de pimenta e tabaco, notas tostadas e de baunilha.

Susana Balbo BenMarco Cabernet Franc 2021 (R$ 164, na Via Vini) está na linha de vinhos de
fermentação espontânea da casa, o que resulta em um vinho polpudo, estruturado, um tantinho terroso e, ainda assim, com frescor.

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BenMarco Cabernet Franc 2021, da vinícola Susana Balbo. Foto: Divulgação

Argento Single Vineyard Finca Agrelo Cabernet Franc (R$ 224, na Famiglia Valduga) dá um banho de framboesas maduras e também traz ervas aromáticas ao nariz e à boca. 

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Rutini Single Vineyards Gualtallary Cabernet Franc. Foto: Divulgação

Alexandra indica um vinhão de abafar banca, Rutini Single Vineyards Gualtallary Cabernet Franc (R$ 603, na loja física da Zahil), pot-pourri de frutas como ameixa, cereja, blueberry, com notas mentoladas e de especiarias.

De preço mais amigável, Casarena Estate Cabernet Franc 2023 (R$ 129, na Wine Brands) é papo firme para quem quer se inciar na onda do Franc sul-americano. Jovem e com acidez suficiente para torná-lo fácil de beber, vem com aromas de pimentão, menta e muita fruta negra fresca. 

Sexy Fish Cabernet Franc (R$ 75,90, na Casa Flora) é outro fresquitcho que entrega a tipicidade da uva de forma simples e faz bem ao bolso.

Outros argentinos de boa cepa são Alta-Yari Cabernet Franc Reserva 2023 (R$ 156, na Decanter), La Celia Pioneer Reserva Cabernet Franc 2021 (R$ 149,91, na TodoVino) e Andeluna Pasionado Cabernet Franc (R$ 479, na World Wine).

Uruguai

Uruguai já entrou na onda da Cabernet Franc faz tempo. Por influência marítima, boa amplitude térmica e pelo trabalho delicado de algumas vinícolas, os vinhos de Franc ganham um caráter bem agradável, fluido, de ótima acidez e os tais taninos finos naturais da variedade. 

GARZON Petit Clos Cabernet Franc 2018

Garzón Petit Clos Block 560. Foto: Divulgação

Gran Ombú Cabernet Franc (R$ 445, no Empório do Mundo), elaborado pela Braccobosca, tem essas qualidades e foi eleito diversas vezes o primeirão do Guia Descorchados e em outras pontuações. Esse ano dividiu o pódio com Garzón Petit Clos Block 560 (R$ 598, na World Wine), vinho que une sutileza sobre uma estrutura firme de taninos. Manja quando um especialista fala em vinhos elegantes? Esses dois são exatamente chiques.

Chile

Entramos no Chile no modo econômico, mas com muito sabor. Tabali Pedregoso Cabernet Franc (R$ 129, na Casa Flora) vem da região de Limarí, que gera uvas com amadurecimento perfeito e acidez vibrante – a tal influência das brisas marítimas de que acabamos de falar.

Los Vascos Cromas Cabernet Franc 2020 (R$ 338,11, na Mistral) é um Franc bem sedoso, com toques apimentados, obra da família Rotschild, aquela do Château Lafite de Bordeaux. 

LOS VASCOS cromas cab franc

Los Vascos Cromas Cabernet Franc 2020. Foto: Divulgação

Maquis Franco (R$ 654,50, na Bebidas do Sul) é um vinho trabalhado longamente em carvalho francês, polpudo e encorpado. A acidez viva da fruta, porém, equilibra o conjunto de profunda complexidade. Categoria escândalo.

Itália


Olho nos Franc do Vêneto. Alexandra nos sugere Borga Cabernet Franc Veneto 2021 (R$ 200, na Paraju Vinhos), vinho que não passa por madeira, vem fresquinho, cheio de fruta, ao estilo do Vale do Loire. 

LW MACCHIOLE paleo rosso

Paleo Rosso, da Le Macchiole. Foto: Divulgação

Na categoria luxo, um dos Cabernet Franc mais celebrados da Itália é Paleo Rosso (R$ 1.504,86 a safra 2018, na Mistral), da vinícola Le Macchiole. Foi apontado como “a versão mediterrânea do Cheval Blanc” por Robert Parker, recebeu pontuação altíssima de todos os críticos importantes e os cobiçados tre bicchieri do guia italiano Gambero Rosso. Vem de Bolgheri, sub-região italiana da Toscana mais próxima ao mar.

França

Essa volta toda para chegar à França, berço da Cabernet Franc. Les Bois de Beaumont 2018 (R$ 221, na de la Croix) é a sugestão de Alexandra Corvo para quem quer conhecer a magia dos vinhos arrepiados de Chinon, no Loire, por um preço tranquilo. Tem fruta boa no nariz e na boca, taninos muito fininhos. Fácil de beber e de suficiente complexidade para quem quer harmonizá-lo com carnes e queijos maturados. Guy Saget Saumur Champigny 2017 (R$ 250,29, na Mistral) e La Foulée Saumur Champigny (R$ 385, na Cellar Vinhos) são outros dois bambas frescos e frutados do Loire, que podem ser servidos resfriados no almoço de final de semana.

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Preços pesquisados em abril de 2025 e sujeitos à alteração.

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