Quando começamos a pensar no tema desta ELLE View, alguns assuntos já eram conhecidos por mim e pela equipe: quem se lembra da robô Sophia, que foi capa de dezembro de 2016 da ELLE, ainda na versão impressa?
O que eu nunca tinha parado pra pensar, como o repórter Pedro Camargo bem colocou na matéria “Não é feitiçaria, é tecnologia”, é o tanto que a inteligência artificial está presente na nossa vida, bem como o uso dos nossos dados pode estar determinando o nosso gosto, como revelou Jacqueline Lafloufa em “Seus dados podem te colocar em uma bolha fashion”.
Daí que mergulhar nas pautas dessa edição foi, para mim, como um batismo às vésperas de completar 49 anos – bem quando já estou mais para achar que chique mesmo é não encontrar seu nome nem nas buscas do Google, como disse uma vez a estilista Phoebe Philo. Portanto, não importa a qual geração você pertence, prepare-se também para muitas novas descobertas. A segunda edição da ELLE View é um verdadeiro estudo sobre como a tecnologia impacta o modo como nos vestimos, consumimos e nos relacionamos.
Para além de alguns desfiles das marcas de luxo, que passaram a ser experiências imersivas durante a quarentena, há semanas de moda inteiras dedicadas a todo tipo de inovação e até a criação de roupas que só existem no ambiente digital para dar um bom close no Instagram. Na matéria “O que você quer vestir – digitalmente – hoje?”, a editora Silvia Rogar conversou com estilistas e designers digitais do mundo todo – incluindo o Brasil – que estão liderando uma revolução silenciosa na moda e no que pode ser o futuro do #lookdodia.
Se o mundo dos humanos parou por conta da pandemia, a vida da avatar virtual parece estar mais movimentada do que nunca. Com contratos com marcas como Prada, singles lançados no YouTube e acumulando algumas polêmicas no Instagram, influencers digitais, como Miquela e Shudu, anunciam um futuro assustador (ou seria tentador?): vai ser cada vez mais difícil diferenciar o que é real e virtual. Prova disso é a Ellen, nossa primeira modelo 3D, criada pelo designer João Moura, com concepção do editor de moda Marcell Maia. Ela surge plena em nossa capa – e alguns de seus looks, como manda a cartilha das influencers virtuais, estão disponíveis para serem usados no The Sims (baixe aqui o arquivo), um dos games favoritos das geeks fashionistas.
E por falar em games, a maravilhosa repórter Isis Vergílio pesquisou a fundo esse universo, conversou com especialistas e criou um verdadeiro dossiê sobre como a representatividade importa e é urgente nessa indústria que, ao lado da TV, vem ajudando a construir cada vez mais as referências visuais e comportamentais de adultos e, principalmente, crianças. O resultado está em “Já é hora de mudar de fase nos games”.
A origem de muitas outras referências você pode conferir em “A moda dos crias”. Nesse ensaio/reportagem concebido pela editora de moda Suyane Ynaya, com texto de Karolyn Andrade e Gabriel Monteiro, você vai comprovar como a periferia sempre esteve conectada às experimentações tecnológicas, tanto na moda quanto na música. É da quebrada que vêm incontáveis tendências que depois ganham os holofotes por aí. Suyane assina ainda a matéria “Ode ao corpo feminino”, que traz uma entrevista com a fotógrafa e diretora de arte catalã Carlota Guerrero. Criadora de imagens potentes, Carlota reforça a nossa crença de que uma moda diversa e plural é o único caminho possível – seja qual for o próximo avanço tecnológico.
Beijos,
@susanabarbosa