Ok, eu sei, reclamar da falta de tempo já virou commodity. Ainda assim, não parece estranho que cada vez mais a sensação nossa de cada dia seja a de ter menos horas num dia, menos dias num mês, meses num ano, anos em uma vida?
Talvez por isso, ou justamente por isso, a gente esteja vivendo mais ou menos como a editora Chantal Sordi descreve em Velozes e furiosas: comemos rápido, compramos rápido, enjoamos rápido, namoramos rápido, trocamos de namorado rápido, viramos a página rápido, escutamos áudios acelerados e músicas muito mais rápido do que o imaginado por quem as compôs. Como se quiséssemos sugar a vida.
O resultado, porém, está escancarado: nós é que estamos sendo sugados. Daí outra reclamação que virou lugar-comum pós-pandemia: tá todo mundo exausto. E querendo um pouco de auto-indulgência, mais festas do que dietas à la Gwyneth Paltrow.
Sim, nesta edição da ELLE View, paramos para refletir como Cronos entrou em colapso nervoso pós-revolução tecnológica e seus filhos-feeds famintos. O diretor de moda, Luigi Torre, por exemplo, narra a experiência pessoal: faltou tempo para escrever o texto que você lê aqui, que dirá para conseguir digerir o desfile da Margiela antes de a semana de moda de Nova York começar, ser engolida pela de Londres, Milão e virar passado quando a de Paris chegar.
Os repórteres Marina Santa Clara e Pedro Alexandre Sanches também saíram a campo para mostrar como os efeitos do TikTok, 30 segundos equivalem à eternidade, já extrapolaram o uso do aplicativo e veem ditando as novas regras de produção e consumo dos produtos culturais. Assim como a moda, a cultura está a 200 por hora, e a simples ideia de ver um longa-metragem parece coisa de dinossauro sem wi-fi.
Se falta tempo, irmã, não é de estranhar que hoje tudo precise mesmo ser otimizado, a beleza, o guarda-roupa, a rotina. Vem daí a ideia do editorial criado pela editora de moda Suyane Ynaya, com a modelo Juliana Nalú: looks day n’ nite, que duram 24 horas por dia, inclusive em dias que parecem ter 12 horas.
Juliana Nalú: como diria Bauman, são tempos líquidos Ivan Erick
Quem vive como o coelho de Alice no país das maravilhas entrando na toca – “É tarde, é tarde, é tarde até que arde” – pode tirar proveito ainda do report sobre a semana de moda masculina, que tem inspirado cada vez mais a feminina, e veio repleta de peças pá-pum, pôr e sair, curiosamente, inspiradas no passado, Daddy Issues. “Chegaram a apelidar o visual de grandpacore, ou estilo vovô. Na verdade, é mais papai-vai-ao-escritório, com clássicos do guarda-roupa masculino em destaque, como a alfaiataria completa, o trench coat bege e as camisas brancas”, escreve o editor de moda Gabriel Monteiro (novidade: você pode baixar a matéria e ler quando quiser. Offline, inclusive).
Sobrou um tempinho depois de tantas dicas? Delicie-se com os contos da escritora e psicanalista Roberta D’Albuquerque, que brincam justamente com a linha temporal, e junte-se à nossa nova colunista e ELLE girl de carteirinha, Nathalia Levy, em Tech tech, coluna de tecnologia que vai bater todos os meses à sua porta. “Será que a aceleração da tecnologia nos levou ao marasmo?”, indaga Nath neste mês. Confira e tire suas próprias conclusões.
E mais: o boom nos preços do mercado de luxo, a falsa ideia de pele saudável, as tendências de beleza para 2024 e o climão de fim de mundo te esperam.
Um beijo e até a próxima edição, que, claro, já, já tá aí na sua tela.