Carta da editora

O incrível mundo realitizado.

Carta da Editora

Nós tivemos alguns ensaios. Os 15 minutos de fama, ou quart-d’heure de célébrité, começaram a ser esboçados no século 19, quando o escritor francês Alphonse Daudet cunhou a expressão, mais tarde erroneamente creditada a Andy Warhol. Tivemos 1984 e o grande irmão. O show de Truman. Mas o que a realidade traria na virada do 20 pro 21 nenhuma ficção foi capaz de antecipar. O mundo mudou via reality show, com a gente comendo pipoca em frente à tela. De presidente dos Estados Unidos às maiores influenciadoras dessas primeiras décadas (a.k.a. Kardashians), foram em programas de TV feitos para mostrar “gente como a gente”, a vida como ela é”, que despontaram os personagens que hoje ditam padrões, políticas e a maneira como nos relacionamos uns com os outros, quer gostemos ou não.

A vida espetacularizada, esmiuçada e, o principal, televisionada ou tiktokizada, como compara a colunista Nathalia Levy em Tech Tech, se transformou no maior fenômeno cultural da atualidade e, num país como o Brasil, também em ferramenta de ascensão social. “Não falo de meritocracia, mas de uma mulher que veio da periferia, que jamais imaginou estar onde está hoje”, diz Flora Babylon, 20 anos, nascida e criada no Jardim Capela, vencedora da segunda edição de Born to fashion e capa desta edição da ELLE View, que se debruça sobre o tema.

ensaio flora indice

Flora Babylon. Foto: Hudson Rennan.

Sim, dos reality shows iniciais, como Uma família americana e The real world, aos campeões de bilheteria, tipo BBB e MasterChef, falamos sobre o sucesso do formato, os perdedores que se deram bem  (alô, Sabrina Sato, Gil do Vigor e Bia do Brás, entre outros!), as tendências de moda que ganharam visibilidade em “corpos comuns”, a cultura do cancelamento, que veio na cola dos paredões – com repercussões bem reais no mundo físico –, a paixão movida por fandoms capazes de angariar milhões de votos e, o outro lado da moeda, destruir o “inimigo”. Polarização, veja bem, é puro suco de reality.

Imaginamos ainda, em um texto divertido da nossa colunista e psicanalista Roberta D’Albuquerque, como seria a “evolução” dos programas mais vigiados do mundo, entrevistamos o maior especialista do país em realidade paralela, Chico Barney, o colunista do UOL, que vive de observar o que acontece quando as câmeras são ligadas, e os cenógrafos responsáveis pelo décor do Big Brother Brasil, que a cada edição passa a fazer mais e mais parte da narrativa, suscitando até dúvidas sobre cores de parede e suas pseudomensagens subliminares.

Para terminar e relembrar, elencamos as tendências de moda e beleza que tiveram seus 15 minutos de fama, mas não sobreviveram ao julgamento do tempo – ou a vida real mesmo, aquela que acontece nos intervalos da programação.

Entre e espie à vontade. Esta View é feita pra você.

Um beijo e até a próxima edição!

Renata