14 restaurantes para unir quem é vegetariano e quem é carnívoro à mesa

Houve uma época em que ser vegetariano significava ter que se contentar com a seção de saladas ou com uma massinha no cardápio. Também houve uma época em que carnívoros convictos não entravam nem amarrados em restaurantes sem proteína animal no menu. 

Assim como endereços vegetarianos hoje estão a léguas da soja liofilizada, as casas convencionais têm se dedicado cada vez mais a desenvolver menus com delícias vegetarianas fora do lugar-comum e para lá de saborosas. Muitas preparações são feitas com técnicas historicamente carnívoras: linguiça de couve-flor e tartar de chuchu são alguns dos exemplos dessas criações.

Em um país que ama carne, o conceito de alimentação vegetariana levou tempo para fincar raízes, mas o número de adeptos tem subido. Conforme mostrou uma pesquisa do Ibope de 2018, 30 milhões de brasileiros acima dos 16 anos concordam parcial (6%) ou totalmente (8%) com a afirmação “sou vegetariano”. Esse número representa um aumento de 75% em relação ao mesmo levantamento feito em 2012.

Com o contínuo crescimento desse mercado, o jardim da gastronomia brasileira desabrochou e pratos apetitosos sem carne brilham não só nas escolhas dos simpatizantes, mas também entre carnívoros antes inveterados.

A chef Anna Dolezal, do Sítio Gastronômico, em Petrópolis (RJ), diz que os vegetais dos pequenos produtores da região são os ativos de suas deliciosas receitas: “O que me inspira a criar pratos vegetarianos são os tubérculos frescos que temos aqui na região, de pequenos produtores que estão conosco desde o início. E aí eu busco agradar não só quem é vegetariano. Surpreender os carnívoros com os sabores dos vegetais também está no objetivo. Temos pratos vegetarianos desde a abertura do restaurante porque gostamos de explorar esses vegetais da colheita local”.

Pensando em ter um lugar onde tanto carnívoros quanto vegetarianos têm a oportunidade de comer bem, o chef Lucas Diniz, do carioca Nusa Café, em Ipanema, se adaptou ao cenário com um leque de inspirações na manga: “Acho importante ter pratos vegetarianos no cardápio para abranger todos os públicos. É importante também desmistificar que, para um prato ser bom, ele precisa necessariamente de um insumo de origem animal. Eu me inspiro através da enorme variedade de vegetais, legumes, frutas, leguminosas e grãos que estão presentes na culinária brasileira, além das infinitas possibilidades de sabor que são obtidas através da combinação desses elementos”.

Para a chef Mari Sciotti, do restaurante paulistano Quincho, em Pinheiros, a chave para o sucesso de suas criações depende da abundância de bons ingredientes e carinho: “Para mim, o que faz um prato vegetariano ser bom é não partir do ponto de ele ‘ser vegetariano’. Todo prato, para ser bom, deve buscar pilares como construção de sabor, texturas e bons ingredientes associados a boas técnicas. Não acho que a restrição deva ser o ponto de partida de um prato, e sim a abundância. Mão boa de tempero e amor também dão um toque especial a tudo!”.

Em busca de um lugar para reunir os amigos que são e os que não são vegetarianos? Então, confira um roteiro com endereços sem carne no cardápio, que conquistam todos os paladares, e restaurantes de várias especialidades que dão atenção especial aos vegetais.

São Paulo

Animus

O restaurante em Pinheiros, cuja cozinha autoral e criativa privilegia os ingredientes brasileiros, está com novo menu e, das 17 opções salgadas, sete são vegetarianas. “Muita gente subestima os vegetais, mas eles têm um potencial enorme. Dá para trabalhar sabores, texturas e combinações. O que me inspira é justamente essa abundância de ingredientes e técnicas para a criação, além dos desafios! É fácil alguém gostar de um polvo ou proteína bovina, mas surpreender com um repolho ou uma vagem é mais difícil”, diz a chef Giovanna Grossi.

Alho poró confitado: boa novidade no cardápio do Animus. Foto: Thays Bittar

A vagem assada é um dos hits da casa: o vegetal ganha várias camadas de sabor com coulis de azeitona preta, castanha-de-caju caramelizada e queijo Guaianá, maturado por cerca de 45 dias (R$ 42). No risoto de cevadinha (R$ 40), a chef lança mão de tomates assados, stracciatella e manjericão para acompanhar o grão. 

Alho poró confitado, creme de queijo Cuestinha, pesto e avelã (R$ 44) e o creme de cogumelos enoki defumado, crocante de cacau e pinoli (R$ 46), um dos pratos servidos durante o programa Iron Chef Brasil, fazem parte das novidades. O creme pode receber adicional de trufas brasileiras (Sapucay) ou trufas negras italianas por R$ 75 a mais.

Animus: Rua Vupabussu, 347, Pinheiros, tels.: (11) 2371-7981 / (11) 98705-9388

A Casa do Porco

Experts em porco, os chefs Janaína Torres Rueda e Jefferson Rueda se aventuram em um menu degustação vegetariano pensado do zero, sem lançar mão de adaptações dos pratos com carne que compõem o menu degustação tradicional.

Batizado de “Da terra saímos e para ela voltamos”, o cardápio é inspirado nos legumes do Sítio Rueda e segue os mesmos passos da versão carnívora. Assim, o número de etapas, as sobremesas e a aparência dos pratos são os mesmos.

A degustação começa com melancia, melão, batata doce e pitaya curados, que chegam à mesa com crocantes de mandioca com coco assado e de polenta com patê de lentilha. Na sequência, sanduíches recheados com beterraba, caju com crocante de cebola (paulistano veggie) e linguiça de couve-flor fazem as honras. Tartar de chuchu e rabanete e churrasco de mandioca com glacê defumada chegam em seguida. A sopa de cebola de Janaína é servida com cogumelos, e um tofu defumado vem acompanhado por uma atração da horta como prato principal. De sobremesa, creme de mamão, caramelo e sorvete de jabuticaba. A experiência custa R$ 290, mais R$ 210 com harmonização com coquetéis autorais, vinho brasileiro, cerveja Session IPA da casa produzida pela Blondine e vermute de jabuticaba da chef.

Sushi de cogumelo: A Casa do Porco também faz vegetarianos felizes. Foto: Mauro Hollanda

Quem não quiser pedir o menu degustação também encontra alternativas no cardápio à la carte, como sushi de cogumelos, tucupi negro e nori (R$ 42, 4 unidades) e torresmo de queijo, goiabada e picles de cebola-roxa (R$ 44, 6 unidades).

A Casa do Porco: Rua Araújo, 124, República, tel.: (11) 3258-2578. Link para reservas: https://linktr.ee/acasadoporcobar.

Quincho Cozinha e Coquetelaria

Queridinho de 10 entre 10 vegetarianos e entusiastas, o Quincho, em Pinheiros, mostra como vegetais podem brilhar no prato em diferentes versões. Usando técnicas como assar os ingredientes na brasa ou no forno de pizza misto (a lenha e a gás), que chega a atingir 500ºC, a chef Mari Sciotti levanta a potência dos legumes a cada preparo.

“As técnicas estão presentes, claro, afinal toda cozinha o faz, mas a base que escolhemos é de voltarmos ao simples, o que nos mostra que a comida criativa não precisa ser muito complexa”, explica Mari. 

Babaganoush de abobrinha: abundância de sabor. Foto: Bianca Mirabilli

Alguns destaques são o babaganoush de abobrinha (R$ 59), composto por creme de amêndoas, melaço de romã, óleo de curry da casa, abobrinha marinada e amêndoas defumadas, acompanhado por chapati integral (vegano) e quiabos tostados no forno (R$ 46), finalizados com cebola crispy, paçoca de semente de coentro e folhas de shissô. São servidos com molho de inspiração oriental, com base de pimenta coreana gochujang, vegetais e frutas.

Quincho: Rua Mourato Coelho, 1.140, Pinheiros, tel.: (11) 2597-6048.

Taraz

A casa é inspirada na cozinha sul-americana e tem assinatura de Felipe Bronze, chef com duas estrelas no guia Michelin e personalidade frequente de programas de gastronomia da televisão brasileira. Só isso já causaria um burburinho, mas não custa acrescentar que o restaurante fica no belíssimo hotel Rosewood, um dos hotspots mais badalados de São Paulo desde a sua inauguração, em 2022, e tem vista para um pátio de oliveiras.

Burrata, tomates assados e várias camadas de sabor. Foto: Rubens Kato

O menu traz ótimas opções vegetarianas, como a pizza fugazzeta (R$ 55), que leva cebolas-roxas frescas e assadas, creme de cebolas tostadas, queijo Guiana e Vale do Texto e tomilho, a burrata e tomates assados (R$ 80), com amêndoas tostadas, manjericão, maracujá, vinagrete de Jerez e melado, e o avocado (R$ 56), que nesta versão vem com maçã-verde, picles de chuchu, lâminas de chuchu tostado, caldo de huacatay (erva peruana) com jalapeño e trevo, pimenta dedo de moça, cebola-roxa e biju.

Taraz: Hotel Rosewood, rua Itapeva, 435, Bela Vista, tel.: (11) 3797-0500.

Capim Santo

Com matriz em Trancoso, na Bahia, a cozinha da chef Morena Leite esbanja tropicalidade brasileira  em receitas como a moqueca de banana-da-terra com palmito e castanha-de-caju (R$ 63), servida com arroz de coco e farofa de dendê.

Moqueca de banana: brasilidade vegetariana. Foto: Mario Rodrigues

Outro prato tentador é a feijoada vegana (R$ 79), feita com feijão preto, legumes frescos e tofu defumado, acompanhada de arroz branco, farofa, couve mineira com alho frito e laranja, para ser provada na serenidade do jardim do Solar Fábio Prado, onde o restaurante está instalado.

Capim Santo: Avenida Faria Lima, 2.705, Jardim Paulistano, tels.: (11) 3032-2277 e (11) 98189-0082.

Luce

Conhecido por sua gastronomia italiana contemporânea, o restaurante elabora porções veganas com farinhas e insumos vindos da Itália. Entre elas, o gnocchi de batata-doce, pesto vegano, tomates confit e nozes para finalizar (R$ 69) e o Cuscinetto (R$ 79), uma pasta feita na casa recheada com creme de abóbora e servido com pesto, creme de castanhas e avelãs tostadas.

Luce Rua Oscar Freire, 45, tel.: (11) 994574554 | Pátio Higienópolis,  av. Higienópolis, 618, tel. (11) 91476-4545.

Banzeiro

Em São Paulo desde 2019, o restaurante de Manaus do chef Felipe Schaedler é famoso por aproximar os paulistanos de produtos amazônicos, como pirarucu, tambaqui e até formiga, mas ainda sobram criatividade e inovação para receitas autorais sem insumo animal, explorando a comida regional. É o caso do nhoque de banana e fonduta de grana padano (R$ 72) e da salada de feijão-manteiguinha com castanhas frescas e cogumelo Paris (R$ 42).

Nhoque de banana e fonduta de banana: de dar água na boca. Foto: Rubens Kato

Banzeiro: Rua Tabapuã, 830, Itaim Bibi, tel. (11) 2501-4777.

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Rio de Janeiro

Brota

No Rio, a cozinha vegetariana está bem representada com a volta do Brota, dessa vez em um charmoso casarão arborizado em Botafogo. Comandado pela chef Roberta Ciasca, do Miam Miam, a casa oferece pratos como a polenta cremosa de fubá de milho crioulo com parmesão, pesto, palitos de abobrinhas grelhadas, cebolinha assada, alho poró e castanha do caju (R$ 52). O fubá de milho é plantado, colhido e moído pelo Maravilhas São José, pequeno agricultor do interior de São Paulo.

Polenta de milho crioulo, feita com fubá de pequeno produtor. Foto: Alex Woloch

Outra pedida acertada é o curry tailandês, molho à base de leite de coco, coentro, gengibre e especiarias servido com legumes, cogumelo, arroz e farofa de gergelim (R$ 72).

As brotinhas, dupla de bolinhos de arroz integral com recheios como tomate, pesto e azeitonas (R$ 28) têm sabor intenso e podem ser pedidas nas versões vegana e vegetariana, ambas crocantes por fora e cremosas por dentro.

Além disso, há uma vitrine com diversos acepipes que podem ser pedidos em um prato degustação, com algumas pequenas porções, para compartilhar (R$ 88).

Brota: Rua Conde de Irajá, 98, Botafogo, tel. (21) 99728-6597.

Nusa Café

Da cozinha do pequeno e aconchegante café em localização privilegiada em Ipanema, sai a disputada feijoada vegana (R$ 45) preparada à base de feijão preto, tofu defumado, abóbora cabotiá, cenoura, batata baroa, brócolis, pimentão vermelho e finalizada com brotos. Para acompanhar, arroz branco soltinho, a clássica couve refogada e farofa crocante de castanha.

Waffle veggie de pão de queijo: boa pedida. Foto: Divulgação

Ainda na lista, destacam-se o toast de figo com nozes no pão rústico com queijo de cabra, figo, nozes caramelizadas e mel  (R$ 29), o carbonara cogumelo (R$ 48), substituindo o guanciale pela linguiça de cogumelo, e o waffle veggie de pão de queijo com guacamole (R$ 29). O ótimo atendimento e a decoração na vibe Bali também valem a visita.

Nusa Café: Rua Vinicius de Moraes, 129, Ipanema, tel.: (21) 3228-3562.

Sítio Gastronômico

A uma hora e meia do Rio de Janeiro, em Secretário, distrito de Petrópolis, a imensa área verde e os morros no entorno do restaurante são pano de fundo para refeições com comida apetitosa, proporcionando uma sensação de bem-estar. O estabelecimento, que lembra uma casa de campo, disponibiliza opções vegetarianas no menu degustação tradicional (R$ 188, por pessoa) com entrada, principal e sobremesa.

Bombom de baroa, queijo de cabra e cogumelos. Foto: Tomas Rangel

A sequência começa com legumes da horta, creme de boursin, salsa de avelãs e mel, segue com bombom de baroa, queijo de cabra e cogumelos e é finalizada com doces como torta basca de queijo gorgonzola Serra das Antas, sorvete de mel e amêndoas ou choux de tiramissu, caramelo de café e mousse de chocolate.

Sítio Gastronômico: Estrada Francisco Guimarães, n° 1100, Pedro do Rio, tel. (24) 99926-5873.

Pitanga

A vista para a Praia de Itacoatiara, em Niterói, já é um excelente pretexto para comer no restaurante plantado à beira-mar, com deck que dá para a praia. Mas a chef Jess Hulme, formada no Le Cordon Bleu londrino, elaborou um cardápio à altura da paisagem. Há menu degustação vegetariano (R$ 245, por pessoa) e menu à la carte, com pratos inspirados em viagens da chef, como a massa fresca do dia, adaptada para vegetarianos (R$ 118), e o rekakat de boursin, zaatar e mel de tâmara (R$ 59).

Dashi com shimeji e moyashi: delicado e saboroso. Foto: Luiza-Chataignier

O menu degustação inclui entradas como dashi, shimeji, moyashi, óleo de gergelim e cebolinha, e snack de amendoim, tomate e citronete de chuchu. Depois chegam pratos como sorbet de uva verde com gengibre, e legumes grelhados, milho verde, rabanete e agrião, e pupunha, tobiko e espinafre. O percurso acaba com fondant de chocolate branco e amora.

Pitanga: Rua das Orquídeas, 8, Itacoatiara, tel. (21) 2610-9778.

Nosso

Musseline de grão-de-bico, missô, castanhas, chilli oil, gergelim e coentro compõem a abobrinha braseada (R$ 52), um dos pratos vegetarianos do novo cardápio do gastrobar comandado pelo chef Bruno Katz. O falafel (R$ 48), servido com coalhada, picles, tomate semidesidratado, azeite verde e folhas aromáticas, é outra invenção do cozinheiro, que também imprime sua marca nas casas Chanchada e Katz–sū, este último bem novo, no Jardim Botânico.

Falafel no capricho. Foto: Tales Hidequi

Nosso: Rua Maria Quitéria, 91, Ipanema.

Fare Trattoria e Pizzaria

Recém-inaugurado no Shopping da Gávea, o estabelecimento de inspiração italiana diz a que veio com amplo cardápio desenvolvido pela chef Monique Gabiatti, ex-Masterchef.  A couve-flor gratinada na fonduta de grana padano (R$ 44) e a polenta toscana (R$ 59), servida com ragu de cogumelos porcini e paris, salsa de trufa negra e redução de creme de leite são escolhas certeiras das opções vegetarianas.

A clássica couve-flor gratinada em alto estilo. Foto: Diana Cabral

Fare Trattoria e Pizzaria: Rua Marquês de São Vicente, 52, Loja 173, Gávea, tel. (21) 99712-2056.

D’Amici

Restaurante italiano, com influência do norte do país, o D’Amici tem ambiente sofisticado, mas sem grandes formalidades. Dentro de suas receitas reconfortantes, serve pratos vegetarianos substanciosos, como o Melanze Gratinate (R$ 57), berinjela ao pomodoro rústico gratinada com parmesão e muçarela, e o Shiitake alla Griglia (R$ 69), que consiste em cogumelos grelhados com azeite trufado.

Melanze Gratinate: pura comfort food. Foto: Diana Cabral

D’Amici: Rua Antônio Vieira, 18, Leme, tels. (21) 2543-1303, (21) 2541-4477 e (21) 99219-7836 | Rua Aléssio Venturi, s/n, tels.: (21) 3796-5738 e (21) 99001-7774.

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