MFW: Versace inverno 2024

Com cabelo platinado, boca carnuda e uma preferência por olhos pretos, Donatella Versace possui uma das imagens mais imponentes entre as estilistas de moda. É difícil, então, que, ao se tratar da italiana, o clássico cumprimento de fim de desfile passe despercebido. Você deve se lembrar que, na temporada passada, ela usava uma saia rodada e uma bota de boneca em cores suaves. As peças faziam parte da coleção que havia acabado de ser apresentada. No inverno 2024 da Versace, porém, o visual doce deu lugar ao bom e velho all black em sua versão de estrela do punk.

“O alfinete é sobre rebelião, e eu sou punk na alma”, afirmou Donatella, em 2013, em entrevista à Dazed. A declaração é, até hoje, uma das mais compartilhadas da designer. Embora o alfinete, símbolo máximo do movimento punk, tenha sido introduzido na etiqueta ainda na era de Gianni, a contribuição veio da irmã. Após se recusar a voltar para mais uma prova de roupa, em 1993, Donatella deu um jeitinho no vestido feito pelo primogênito com o instrumento. Mesmo que, no improviso, a proposta funcionou, rendeu uma coleção inteira e foi imortalizada no corpo de Elizabeth Hurley.

Versace, inverno 2024. Foto: Getty Images

A história icônica, porém, não foi suficiente para alguns. Anos depois, em uma coleção da estilista, o uso dos alfinetes foi detonado. Donatella teria assassinado o movimento punk, segundo uma crítica. E é justamente para ele que a italiana olha nesta temporada.

Na noite desta sexta-feira (23.02), em Milão, o cabelo da mulher e do rapaz Versace estava espetado, e os seus olhos estavam delineados por uma sombra escura. Enquanto a música pesada entoava pelo salão, eles cruzavam a passarela vestindo preto e calçando botas que ultrapassavam os joelhos. Entre as camisas de gola pontuda, leggings e transparências, a imagem era a de um legítimo astro do punk com os adicionais que fazem a Versace ser a Versace 一 a estampa de Medusa, a oncinha e o bodycon, claro.

Versace, inverno 2024. Foto: Getty Images

Um dos destaques da coleção vai para o momento em que os corsets surgem em vestidos com uma espécie de drapeado superestruturado na saia. Uma das peças, aliás, já estava sendo usada por Anne Hathaway, sentada na fila A. Nas tendências, havia um pouco do tal do indie sleaze, uma referência aos anos 2010 em cintos ultrafinos (eles também apareceram na Gucci), calças rasgadas e saias de cintura alta. Caso você tenha sido um jovem na década, provavelmente, usou um pouco disso para balada. Na cartela de cores, além do preto, também havia espaço para o vermelho, marrom e alguns lapsos brilhantes.

A ironia é que não houve nem um único resquício de alfinete. A escolha dificilmente foi à toa. Ao longo das últimas décadas, Donatella resiste aos altos e baixos, conduzindo o império multimilionário de sua família com estratégia, ousadia e uma dose de perversidade feminina. Mais que tudo, a italiana é uma sobrevivente 一 da indústria e da vida. Não precisaria, portanto, do símbolo mais óbvio do punk para evocar a atitude rebelde em sua passarela.

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