Saint Laurent retorna à semana de moda de Paris

Após anunciar que não participaria mais do calendário de desfiles, marca retoma os formatos de apresentação pré-pandemia.


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Fotos: Getty Images



Quando Yves Saint Laurent conheceu Paloma Picasso, no fim da década de 1960, rolou uma admiração tão grande que uma de suas coleções mais famosas – e polêmicas – foi inspirada nela. Corta para 2021. Para marcar o retorno da Saint Laurent às passarelas da semana de moda de Paris, Anthony Vaccarello, atual diretor de criação da maison, também dedicou o verão 2022 à musa do fundador da maison e filha do célebre pintor cubista. E assim como aquela coleção de verão 1971 esta também promete dividir opiniões.

No primeiro encontro de Yves com Paloma, as primeiras características que mais lhe chamaram a atenção foram seus lábios vermelhos, os cabelos pretos, a paixão por peças dos anos 1940 e os acessórios extravagantes (mais tarde, ela se tornaria designer de joias). Tudo isso aparece na versão 2.0 de Vaccarello, da beleza aos looks. Só que em vez das referências 40’s, a imagem está mais para 80’s.

Vem daí os ombros marcados, os vestidos e blusas com mangas volumosas, meio infladas, as calças justas, a padronagem xadrez e os contrastes de preto, branco com cores primárias. Porém, não se trata de uma releitura qualquer. Os blazers da Saint Laurent são resultados de horas de estudo e provas. Diz que Vaccarello estava cansado de ver tanto paletó oversized com caimento errado no Instagram e decidiu mostrar como se faz. Os seus têm mangas 3/4 para ressaltar a silhueta do triângulo invertido, e alguns são levemente acinturados ou encurtados na barra.

Paloma também era conhecida por ignorar tradições e etiquetas, principalmente as do vestir. Adorava um high-low, misturava elementos de mundos diferentes, masculino e feminino, luxuoso e ordinário. Na passarela com vista para a Torre Eiffel, com uma mega cascata de água no centro, esses contrastes não são tão gritantes. Eles se resumem a uma série de macacões colados ao corpo, com decotes assimétricos, drapeados e feitos de tecido elástico, acetinados ou tricô. Alguns têm estampas de flores ou aplicações dessas no busto, numa outra referência ao estilo de Paloma.

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Tem quem diga que são peças duvidosas, que desafiam o bom gosto. Como se essas definições ainda fizessem sentido em pleno 2021 pandêmico. A questão central é o que – e quem – essas roupas representam. Mais ainda, como se relacionam com a realidade, com o momentinho de mundo que a gente se encontra.

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Durante os meses de quarentena, a Saint Laurent foi uma das primeiras marcas a comunicar que abriria mão do calendário habitual de desfiles e lançamentos. As duas coleções anteriores foram apresentadas em vídeo, em locações exuberantes (dunas em um deserto e uma praia gelada). Fazia algum sentido, falava-se muito de escapismo, da moda como válvula de escape e da roupa como algum tipo de autoindulgência estética.

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De volta a Paris, parece que a bagagem das viagens anteriores foi extraviada, se não esquecida. E junto com ela toda aquelas discussões sobre fazer diferente, sobre corpos diversos e roupas que realmente façam sentido para além do clique em um cenário ideal. A coleção de verão 1971 de Yves Saint Laurent chocou a moda, justamente por propor uma ruptura com o status quo. Agora, o choque é quase que pelo caminho contrário, pela negação de que tudo mudou.

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