Algodão de Xinjiang e Elsa Peretti

Marcas como H&M e Nike pararam de comprar algodão de Xinjiang, China, argumentando trabalho forçado na região. China nega a acusação e responde com boicote total a estas e outras marcas ocidentais. Neste episódio do ELLE News, a gente explica o imbróglio.


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Desde o ano passado, marcas como H&M e Nike pararam de comprar o algodão que vem de Xinjiang, na China. O motivo? Entidades de direitos humanos afirmam que um grupo étnico tem sido submetido ao trabalho forçado nessa região pelo Estado Chinês. O país nega veementemente a acusação e na semana passada passou a responder na mesma moeda: boicote total a essas marcas ocidentais.

Neste episódio, a gente explica melhor este que tem sido o maior imbróglio da indústria da moda na última semana e aproveita para dar um giro nas principais notícias de moda e de beleza, do adeus a Elsa Peretti à nova empreitada comercial de Kris Jenner.

Eu sou Patricia Oyama. E eu sou o Gabriel Monteiro. E você está ouvindo o ELLE NEWS, o podcast com as principais notícias de moda e de beleza da ELLE Brasil.

O corte da marca sueca não é de agora. Desde o ano passado, a H&M parou de usar o algodão que vem de Xinjiang, uma região da China. A decisão veio depois que uma ONG australiana colocou a rede de fast fashion na parede, acusando ela de se abastecer direta ou indiretamente, entre os anos de 2017 e 2019, de estruturas que usam o trabalho forçado.

A gente explica. A China é acusada de violar os direitos dos Uigur, uma população predominantemente muçulmana, que vive justamente nessa região, Xinjiang. As acusações são feitas por entidades de direitos humanos estadunidenses e australianas.

Xinjiang é o grande centro de produção de algodão da China, colocando o país como um dos maiores fornecedores desse material no mundo. A região responde por cerca de 20% da oferta global. E esses institutos de direitos humanos afirmam que ao menos um milhão de uigures estão isolados ali, no que a China chama de campos de educação.

De acordo com os ativistas, os uigures são submetidos a “internação, trabalho forçado, servidão por dívida e esterilização em massa”. Para se ter uma ideia, no início do ano, o governo dos EUA chamou a relação da China com os Uigures na região de genocídio.

A China nega veementemente as acusações. De acordo com o país, todas as alegações são mentirosas e estes campos são, na verdade, “centros de formação profissional, com o objetivo de afastar a população do extremismo religioso e separatista, principalmente depois de ataques que os próprios cidadãos uigures já vinham sofrendo de outros povos”.

Essa panela de pressão estava apitando há um tempo, mas explodiu mesmo na última segunda-feira. Os Estados Unidos, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá decidiram adotar sanções contra autoridades chinesas, argumentando abusos em relação aos direitos humanos em Xinjiang.

Desde esse mesmo dia, a alfândega estadunidense passou a proibir produtos que contenham algodão de Xinjiang. Essa proibição geral está prevista para interromper uma importação avaliada em 20 bilhões de dólares anuais, segundo o Workers Rights Consortium, uma organização que monitora direitos trabalhistas.

A China, claro, respondeu na mesma moeda, com medidas punitivas contra autoridades desses países. E não só. Lembra que a H&M tinha parado no ano passado de comprar o algodão chinês? Agora, bastante em função desse aperto diplomático e comercial, a marca sueca também começou a sofrer retaliação.

Na última quarta-feira, dia 24, os produtos da etiqueta sumiram da plataforma de compras online Taobao, propriedade do Grupo Alibaba, e um dos principais e-commerce chineses. Depois, a H&M também sumiu de outros sites de venda online, como o Tmall, o JD.com e o Pinduoduo. Mais tarde, o aplicativo móvel da H&M foi banido nas app stores da Huawei, da Xiaomi, da Vivo e da Tencent. Além disso, os principais provedores de navegação do país, como o Baidu, o Dianping e o AutoNavi, também removeram as informações sobre as lojas físicas da H&M de suas plataformas.

Você acha que parou por aí? Até os aplicativos de locomoção, os equivalentes a um Uber ou 99Taxi chineses, deixaram de listar as lojas H&M como um local de partida ou de destino. A rede de televisão CCTV afirmou que “a H&M come o arroz chinês, mas quebra a tigela, destruindo o desenvolvimento das empresas e trabalhadores chineses”. E a semana ainda acabou para a marca com a perda dos seus embaixadores chineses, o ator Huang Xuan e a cantora Song Qian, que protestaram virtualmente dizendo que não trabalharão mais com a marca.

Em um comunicado oficial, a H&M afirmou que “o Grupo H&M não adquire mais algodão de nenhum fornecedor direto. Estamos comprometidos com o investimento e o desenvolvimento de longo prazo na China, trabalhando atualmente com mais de 350 fabricantes no país para fornecer produtos sustentáveis para consumidores chineses e globais”.

Mas a H&M não foi a única que suspendeu o uso do algodão chinês e, consequentemente, teve retaliações em função disso. Entre as outras empresas que fizeram declarações em relação a Xinjiang ou pararam de se abastecer com o material da região estão Tommy Hilfiger, Burberry, Calvin Klein, Nike, Adidas, Gap, e Fast Retailing, a dona da Uniqlo.

E os contragolpes da gigante asiática vieram: O maior site de revenda de tênis da China, o Dewu, conhecido como Poizen, em inglês, anunciou a remoção da Nike de sua plataforma. E a marca também perdeu embaixadores, como o cantor Wang Yibo e a atriz Tan Songyun, que encerraram a parceria com a gigante esportiva, argumentando que a decisão da Nike mancha a China.

O jogo de celular Honor of Kings, produzido pela empresa de tecnologia Tencent, cancelou uma colaboração com a Burberry, que estava prevista para ser lançada logo menos. Riccardo Tisci, o diretor de criação da marca inglesa, tinha projetado duas ‘skins’ para a personagem principal do game. A collab foi cancelada. Mais tarde, dois embaixadores chineses da Burberry também anunciaram que não trabalharão mais com a casa. Adidas, Uniqlo, Calvin Klein, Converse, Tommy Hilfiger, Puma e Lacoste também perderam embaixadores chineses.

E nesse toma lá dá cá já tem marca dando um passo pra trás em seu posicionamento nesse imbróglio. A Zara, por exemplo, apagou a declaração que fez em relação a Xinjiang. Até o dia 24 de março, a Inditex, que é o grupo que detém a Zara, mantinha em seu site uma declaração de política zero em relação a trabalhos forçados e afirmando que não tinha relacionamento com fábricas em Xinjiang. Desde o dia 25, porém, e até o fechamento deste episódio, dia 26 de março, o comunicado não estava mais no ar.

Porque é aí que mora o grande nó disso tudo. Muitas marcas anunciaram o boicote ao algodão chinês como uma maneira de transparecer uma cadeia de produção mais ética, mas não deixaram de vender para a China, não. Todas elas estão longe de querer perder esse mercado consumidor, um dos raríssimos casos hoje em dia de compra pungente no mundo.

Uma das razões para o recuo dessas empresas em relação aos seus questionamentos à ética chinesa é porque o bolso vai sentir. A China é o maior mercado de moda hoje em dia, impulsiona o crescimento de várias empresas estadunidenses e europeias, principalmente depois da pandemia de Covid-19 e suas restrições. Para se ter uma ideia, a própria Inditex tem mais de 140 lojas da marca Zara na China, um número que é maior do que nos Estados Unidos.

Outro ponto sensível nessa conversa toda é a generalização dos boicotes. Isso tem tudo a ver com a pouca eficiência da indústria da moda de conseguir rastrear com clareza de onde vêm os seus produtos. Em resumo, a rede pouco transparente, no qual terceirizações e subcontratações pouco ajudam a enxergar a cadeia, geram esse tipo de retaliação que nem sempre é eficaz, certeira, e que acaba impactando também trabalhadores e fornecedores responsáveis. Essa é uma das defesas de fabricantes chineses que vêm o boicote a Xinjiang resvalar também em suas produções.

A gente ficará atento aos próximos capítulos dessa história e te atualizará nos próximos episódios do ELLE News.

O adeus a Elsa Peretti

Morreu no dia 18 de março, aos 80 anos, na Espanha, a designer de joias Elsa Peretti, criadora de algumas das peças mais icônicas e desejadas da joalheria contemporânea.

Nascida em Florença, filha de um empresário do ramo petrolífero, Elsa cresceu entre a Itália e a Suíça. No final dos anos 60, ela se mudou para os Estados Unidos, onde deu início a uma bem-sucedida carreira de modelo e foi musa do estilista Halston. Foi ele, por sinal, uma das pessoas que estimulou a amiga a investir no ramo do design de joias. Algumas das primeiras peças que Elsa desenhou foram feitas para as coleções do estilista.

Mas foi para a Tiffany and Co que Elsa criou suas joias mais conhecidas. O bracelete Bone é uma delas, assim como o pingente Open Heart e os brinquinhos em formato de feijões. As criações de Elsa chegaram a representar 10% do total de vendas da Tiffany. Não é à toa que, em 2012, a grife de joias pagou, de uma tacada só, 47 milhões de dólares pela renovação da parceria por mais 20 anos.

Desde os anos 2000, a designer se dedicava à Nando and Elsa Peretti Foundation, instituição beneficente que apoia projetos para promoção dos direitos humanos pelo mundo, em especial, às causas relacionadas a crianças e mulheres.

Elsa morreu de causas naturais no pequeno vilarejo de Sant Martí Vell, na Catalunha, onde tinha uma casa desde 1968.

A VFiles anunciou o primeiro VFiles Show

E a VFiles Foundation anunciou a data do primeiro VFiles Lab Show, a apresentação das criações dos finalistas do programa de incubação da fundação.

O evento virtual vai ser exibido por livestreaming pela plataforma Veeps no dia 9 de abril, a partir das 16 horas, no horário de Brasília.

Nesta primeira edição, a VFiles Foundation selecionou 7 finalistas, que foram premiados com 10 mil dólares cada um, além de receberem 10 semanas de mentoria online em uma incubadora de talentos.

Os criativos escolhidos atuam no meio da música, das artes, do design e da moda e vêm de diferentes cidades do mundo, como Nova York, Paris e Seul.

Os projetos passam longe do lugar comum. A marca Profet, da dupla Jaylin Kim e Nikolay Artemev, por exemplo, mistura moda e meditação guiada. Joshua Mudgett, da Chimera, propõe uma tecnologia que usa Inteligência Artificial para produzir roupas em 3D e 2D e facilitar o processo de design.

Já a dupla Bolor Amgalan and Boris Brésil, da Faberium, propõe uma plataforma de curadoria e marketplace para artesãos, artistas digitais e outros criativos, que utiliza o sistema de blockchain e o certificado digital NFT, que a gente mencionou aqui no episódio passado.

Vale lembrar que não é à toa que esse evento chama a atenção do mercado de moda. A VFiles, plataforma digital criada por Julie Anne Quay em 2012, é conhecida por ajudar a alavancar alguns dos nomes mais relevantes da moda hoje, como Virgil Abloh, Hood by Air e Heron Preston.

Os tickets para ter acesso ao livestreaming do evento custam a partir de 5 dólares e, na verdade, funcionam como doações à VFiles Foundation, que é o braço sem fins lucrativos da VFiles.

Kris Jenner e Chrissy Teigen lançam uma marca de limpeza para casa!

Kris Jenner, a matriarca do clã Kardashian-Jenner, e a modelo Chrissy Teigen se uniram para criar uma nova marca. Mas, atenção: não se trata de nenhum empreendimento ligado à moda e nem à beleza. Para a surpresa do mercado, as duas celebridades anunciaram o lançamento de uma linha de produtos de limpeza para casa.

Batizada de Safely, a marca traz itens como limpa-vidros, sabão líquido para máquina de lavar roupa e limpador multi-uso, tudo à base de plantas e sem agentes químicos agressivos, de acordo com a companhia.

Mas, apesar de o novo negócio não ter nada a ver com as passarelas, a Safely tem um pezinho na moda. A ideia partiu de Emma Grede, empresária inglesa que fundou a marca de jeans Good Americans, juntamente com Khloé Kardashian, e que também é sócia-fundadora da Skims, a grife de underwear de Kim Kardashian. Ou seja, já é velha conhecida da família

E, claro, as sócias celebridades trataram de dar uma glamourizada nesse negócio de faxina. Nas fotos de divulgação da marca, Chrissy Teigen aparece com um vestido longo trabalhado com plumas, da designer Pamella Roland, e sandálias de cristais Jimmy Choo.

Os produtos vêm com duas opções de aroma, que tem notas de flores de laranjeira, jasmim, sândalo e patchouli, entre outras. De acordo com o site da marca, os produtos fazem a limpeza parecer um pouquinho como um dia num spa.

Bom, exageros à parte, não é qualquer linha de limpeza que pode se gabar de ser lançada com jingle criado por John Legend. O cantor, que é casado com Chrissy Teigen, fez a musiquinha para a Safely, que você ouviu no início desta notícia.

E agora é hora da entrada do nosso editor de beleza Pedro Camargo, que vai falar sobre um lançamento que enlouqueceu o TikTok — e ele também. Conta tudo, Pedro!

“Vem aí, vem aí, vem aí, meninas e meninas e menines e meninos e meninix e meniniriguizis do Brasil! Tá chegando, vem chegando a nova base da KVD, que no mês que vem chega no Brasil pela Sephora, não sei se vocês já viram os Tik Toks, mas é um bafo, gente! Ela tem a cobertura muuuuito potente, que fez com que a base virasse hit no Tik Tok. Ela não virou hit à toa. Tá todo mundo testando e todo mundo fica realmente muito chocado com o resultado. O nome da base é Good Apple, porque ela é feita com extrato de maçã e, enfim, ela é uma base que, apesar de ser mate, apesar de ser alta cobertura, ela tem um acabamento bem natural e tem uma fórmula bastante hidratante, que a gente imagina que vá funcionar muito bem pra pele seca. Então, é vem, aí, fiquem de olho, viu? Porque tá bombando e chega logo mais. Se vocês quiserem saber mais informações sobre essa chegada da Good Apple Foundation Balm no Brasil, pela Sephora, acessem: elle.com.br pra saber de tudo. A gente até conversou com a maquiadora representante da KVD Beauty no Brasil. Lembrando que a KVD, que antes era KVD de Kat Von D, não tem mais nada a ver com Cat Von Dee, porque, enfim, a marca foi vendida, todo um bafafá… Ces querem saber dessa história? De repente a gente pode explicar também. Enfim, é isso amores! Bombação e energia!”

E a nossa editora de cultura Bruna Bitencourt teve uma ideia maravilhosa para matar a nossa saudade daquela apresentação ao vivo dos nossos músicos preferidos. Na dica de hoje, ela traz ótimos shows on-line para ver de casa!

“Oi, gente! Está todo mundo morrendo de saudade de ver um show, mas enquanto a gente não deve nem sonhar em aglomerar por aqui, há uma série de ótimas apresentações para vermos on-line. De Sting a Adele, de Billie Eilish a Erykah Badu, todo mundo do pop já participou do Tiny desk concerts, série de shows intimistas promovida pela NPR, rádio pública americana. E, em meio à pandemia, eles estão fazendo o Tiny desk (home) concerts, em que os artistas se apresentam de suas casas. Bebel Gilberto, aliás, participou recentemente da série, do Rio de Janeiro. Tem sempre novidade, então vale ficar de olho no site da NPR e no canal NPR Music, no YouTube, e dar uma boa passeada pelo arquivo deles. Também vale visitar o canal no YouTube de outra rádio americana, a KCRW, afiliada da NPR, onde dá para assistir apresentações de Norah Jones, Interpol e Tame Impala. E vale ainda ficar de olho no canal da KEXP, rádio de Seattle, que promove diversas apresentações, com foco no rock e na música alternativa. Mudando de rádios para festivais, o Primavera Sound, que rola em Barcelona, disponibilizou shows de Wilco, Jane Birkin, Hot Chip e Queens of the Stone Age, em seu canal no YouTube. Já o canal do Lollapalooza Brasil tem shows na íntegra de Boogarins, Mano Brown, com seu projeto Boogie Naipe, e O Terno. Tanto o Brown quanto o Tim Bernardes, vocalista d’O Terno, estão no Volume 3 da ELLE, clicados por Bob Wolfenson. E no canal do Coachella há um documentário sobre os 20 anos do festival, lançado no ano passado, com trechos de apresentações de Amy Winehouse, Beyoncé e Pixies. É isso, tem bons shows para a gente ver do sofá.”

Este episódio usou trechos dos vídeos de apresentação da VFiles e da Safely; Telepatía, de Kali Uchis; e das apresentações de Erykah Badu, Hot Chip e Amy Winehouse;

E nós ficamos por aqui. Eu sou Patricia Oyama. E eu sou o Gabriel Monteiro.

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