Apropriação cultural, Facebook e Kanye West

Neste Pivô, conversamos com estudiosos da cultura brasileira para avançarmos no debate de apropriação cultural, para além da discussão rasa do pode ou não pode. Toda segunda-feira, a redação comenta as principais notícias de moda da semana.


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  • A semelhança entre uma sandália da Prada com as alpagartas artesanais nordestinas, vendidas em feiras como a de Caruaru, reacende o debate sobre a apropriação cultural. Fabiana Moraes, jornalista e professora do Núcleo de Design da Universidade Federal de Pernambuco, explica o episódio.
  • Para avançar na discussão sobre apropriação cultural na indústria criativa, conversamos com Mayra Fonseca, mestre em antropologia e etnografia pela Universidad de Barcelona, e Renan Quevedo, criador do projeto de divulgação de artistas populares, Novos Para Nós.
  • Uma entrevista com Rodney William, doutor em Ciências Sociais, babalorixá e autor do livro Apropriação Cultural, parte da série Feminismos Plurais, de Djamila Ribeiro.
  • E ainda: o boicote ao Facebook e a parceria entre Gap e Yeezy, de Kanye West — o talvez mais novo candidato à presidência dos EUA?

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Se preferir, você também pode ler este podcast:

Uma piada sobre a semelhança de uma sandália da Prada e a popular “percata” da Feira de Caruaru, em Pernambuco, reacendeu um assunto que é velho conhecido da moda mas pouquíssimo discutido com o aprofundamento que merece: o da apropriação cultural. O caso veio das redes sociais de um jeito bem humorado mas esbarra numa prática séria, de histórico violento e que é baseada no apagamento sistemático de símbolos, culturas, povos.

E para entender melhor o processo que caracteriza a apropriação cultural, nós conversamos com estudiosos da cultura brasileira e pesquisadores, entre eles, o doutor em Ciências Sociais e babalorixá Rodney William, nome importante da conceitualização deste assunto, que vai além do debate raso de “pode” ou “não pode”.

Eu sou Patricia Oyama. E eu sou o Gabriel Monteiro. E você está ouvindo o Pivô, podcast que reúne as principais notícias de moda da semana, comentadas pela equipe da ELLE Brasil.

No dia 21 do mês passado a Prada postou em suas redes sociais uma foto de uma sandália de couro trançado, parte da sua nova coleção de pre fall 2020.

A semelhança do produto italiano com as sandálias fabricadas artesanalmente em regiões do nordeste brasileiro, e vendidas principalmente em feirinhas populares como a de Caruaru, chamaram a atenção de duas amigas da pernambucana Fabiana Moraes, que é jornalista, escritora e professora do Núcleo de Design da Universidade Federal de Pernambuco. E elas marcaram a Fabiana no post da Prada.

“Eu abri o olho duas vezes porque a sandália é muito comum aqui, não é uma exclusividade de forma alguma de Pernambuco, de Caruaru, do nordeste brasileiro, mas é algo muito comum por aqui. Muito simbólico, associado com a coisa de Lampião, tudo isso, e aí quando eu fui ver o preço eu achei surreal. Aquela sandália que é muito ligada com a questão da simplicidade e o valor. Claro que o valor está associado com o fato da Prada ser uma marca de luxo. Mas não deixa de ser interessante simbolicamente aquela sandália que associada a essa questão de uma coisa simples com aquele valor de mais de 4 mil reais. Quando eu postei foi brincando mesmo. Uma brincadeira porque eu faço muito no twitter. E quando eu vi virou outra coisa. Pelo menos quando eu postei era uma piada com aquele valor surreal frente àquela sandália com aquele valor que a gente associa a uma coisa de liberdade, simplicidade. Mas enfim virou outra coisa e a internet é isso mesmo.”

O que a Fabiana acaba de contar foi o desdobramento de sua reação. Ela viu o post da grife e fez uma brincadeira que viralizou. Hoje a sua publicação tem mais de 30 mil curtidas. E chamou a atenção até de famosos. A atriz Regina Casé, por exemplo, também comentou: “esta sandália é de Caruaru!”

Como a própria Fabiana disse esse tipo de sandália não é exclusivo de Pernambuco e nem o trançado de couro é coisa só do nordeste brasileiro. Mas a versão daqui, feita à mão em couro trançado, e usada principalmente nos festejos tradicionais custa aí uns vinte reais. Se chorar bem, com trinta você sai com dois pares para uma quadrilha de São João.

Já a sandália da Prada, de couro de bezerro, era encontrada no site da marca por 850 dólares. Algo em torno dos R$ 4 640. Já no e-commerce da Farfetch ela estava um pouquinho mais barata, R$ 4 400. Sim, estava, porque desde a nossa última checagem o produto saiu do site oficial da marca e do e-commerce. O post com a peça na rede social da grife também foi apagado. E em resposta via assessoria, o Grupo Prada afirmou que não se posicionará oficialmente sobre o assunto.

O post da Fabiana, no entanto, ainda que não tenha nascido com esta intenção levantou o incômodo de internautas e reacendeu o debate sobre apropriação cultural. A Fabiana, que inclusive já cobriu moda por um bom tempo, comentou sobre isso:

“A moda está bastante acostumada a fazer isso. É algo assim dificílimo da gente traçar hoje onde é que começa e onde é que termina. A gente vai falar como é que se inicia o bordado e quem é que se apropriou do bordado. Impossível. Mas ao mesmo tempo a gente sabe que muita coisa que é como a moda gosta de rotular de chamar de inspired é chupada, reproduzida e lançada e aí com materiais mais legais, com criadores e criadoras famosas, competentes, tudo isso, mas que traz uma outra roupagem ao produto e obviamente outro valor como aconteceu com o caso da Prada. Mas é muito delicado a gente falar de cara o que é apropriação cultural. Acho que seria bem importante que no caso criadores e criadoras nas suas inspirações, nas suas pesquisas, eles mais do que dizer que viajou para um recanto remoto e exótico seria muito legal que os lugares visitados que serviram de inspiração também fossem beneficiados em relação aos lucros que estas empresas obtém a partir de sua visibilidade, sua tecnologia, seus equipamentos, sua estrutura toda. Acho que seria algo bem interessante bem importante porque mais do que homenagem as pessoas também precisam pagar os seus famosos boletos.”

O Ctrl C/Ctrl V na moda é um assunto extenso. Mas quando se trata de apropriação cultural falamos de uma prática sem o consentimento ou o benefício dos reais criadores, e que reforça uma engrenagem de estrutura de poder entre povos e que é causadora de danos aos apropriados.

Por isso, é necessário fazer algumas distinções. A ideia de apropriação aqui não é a feita dentro de um mesmo contexto cultural, como as criações que falam de cultura do consumo, por exemplo. Em fevereiro do ano passado, em uma extensa entrevista para o WWD, o Demna Gvasalia, que é um estilista famoso pelas peças xérox de objetos e imagens banais do cotidiano, faz uma diferenciação que é importante do processo criativo: “Alguns designers se inspiram olhando para pássaros, e então bordam penas, mas o meu jeito de fazer design é olhar para um chaveiro e pensar numa bolsa. Não há uma competição com o lugar de origem da pesquisa”. E esta última frase dele é bem importante para entender os vários impactos da apropriação cultural na moda.

Embora não exista uma ideia unificada em torno do termo “apropriação cultural”, há algumas tentativas de definição. Brigitte Vézina, advogada canadense especialista em propriedade intelectual, principalmente para marcas de moda, listou para a ONU alguns pilares de identificação para o que nós podemos chamar de apropriação cultural.

Trata-se do uso de um elemento cultural em um contexto diferente do original. Há desequilíbrio de poder entre a cultura de origem e a que apropria. Ou seja, existe uma relação dominante. Não há envolvimento da cultura de origem, o que significa que não há conhecimento e nem sequer consentimento da fonte. Isso fica evidente com a falta de retribuição, pagamento, retorno ainda que não financeiro ou cooperação. E, por fim, esta é uma prática que causa danos econômicos, sociais e culturais. Os produtos autênticos perdem relevância, a identidade cultural é diluída e estereotipada, o elemento original fora de seu contexto é distorcido. Fora que também pode ser uma ofensa, um desrespeito, uma violência.

Como você pode imaginar o assunto não está restrito à moda. E, para lidar com essa questão, não há atalho nem respostas prontas, como diz a comunicóloga Mayra Fonseca. Mestre em antropologia e etnografia pela Universidad de Barcelona, Mayra trabalha em projetos que apresentam e aproximam diferentes culturas. E essa tentativa de trabalhar com outras linguagens, outras histórias, outros sistemas de valores e outras artes, significa entrar em contato com tudo o que é mais complexo na nossa sociedade, diz a antropóloga.

“A primeira coisa que a gente precisa entender é que por causa de a forma como a nossa história recente aconteceu a gente aprendeu a chamar algumas coisas de arte, a gente aprendeu a chamar outras coisas de artesanato. A gente aprendeu a chamar algumas coisas de sofisticado e outras coisas de exótico ou naïf, enfim. E aí o convite que eu costumo fazer é um convite a ressignificar essas categorias. Então, algo que a gente pode olhar e pode de fora imaginar que é uma alegoria ou que é uma fantasia, ou que é apenas uma festa, por trás daquilo tem rituais e tem elementos simbólicos que dão àquilo o caráter de sagrado. Então, um primeiro convite pra diminuir erros, injustiças, apropriações é um convite pra olhar pra essas categorias e pensar por que a gente chama, a gente qualifica tudo isso como algo menor? Esse é um olhar que nos meus trabalhos é um olhar que desloca um pouco as pessoas, e olhar pra isso de outra forma, aprender que algo que a gente aprendeu a chamar de artesanato é arte, algo que a gente aprendeu a chamar de ofício é profissão, algo que a gente aprendeu a chamar de fantasia pode estar relacionado com o sagrado muda bastante a forma de trabalhar, porque isso significa que as empresas, as marcas e as corporações elas vão ter que entrar num lugar de assumir seu pouco conhecimento, sua ignorância, mesmo, com relação a determinadas temáticas, regiões, comunidades, geografias, identidades raciais. Entender que você não sabe o que é aquilo, que aquilo pode ser muito mais do que você aprendeu a chamar. Abre todo um espaço que é um espaço de deslocamento pessoal e profissional que vai implicar em estudo. E vai implicar em ok, eu não sei. Isso não é só uma fantasia, me conte.”

Além de assumir a falta de conhecimento, Mayra destaca que um outro ponto importante a ser levado em consideração pelas empresas que querem buscar inspiração em outras culturas é entender quais são as fontes de conhecimento a ser consultadas, seja na criação de uma peça, de um evento, de um livro ou de outros projetos. E é preciso estar atento também às pessoas contratadas para esses processos. Geralmente, diz a antropóloga, essas pessoas não serão um grupo óbvio e provavelmente não ocupam cadeiras nas indústrias criativas.

“E aí, nessa medida, tem um lugar que as indústrias criativas elas pensam pouco quando elas pensam em fazer um trabalho que seja mais justo, que é recursos humanos. Quem são as pessoas que estão trabalhando nisso, nessa criação? E essas pessoas elas estão nas estruturas, nos processos criativos? Elas estão ocupando lugares que elas realmente tenham lugar de fala? Elas podem falar? Elas podem trazer o conhecimento delas de uma forma que elas serão ouvidas e o que elas têm a dizer será valorizado? Então é um jeito, também, de diminuir impactos negativos de um processo de trabalho.”

A questão da apropriação cultural, no entanto, não é algo a ser trabalhado só por marcas e empresas. Cada indivíduo também faz parte desse processo. Para falar sobre o papel do consumidor nessa questão, nós conversamos com o pesquisador Renan Quevedo, criador do projeto Novos para Nós, que percorre o país conhecendo e divulgando artistas populares brasileiros. Renan fala da importância da valorização dessa arte por todos.

“A gente enquanto indivíduo de uma sociedade muito plural pode tomar consciência sobre a relevância do que é produzido na dita cultura popular e respeitá-la. Consumir é justamente aceitar e escancarar nossa identidade lançando um olhar de respeito pra quem a gente é. É muito curioso quando a gente estuda o pensamento de uma parcela da população que não acha ruim pagar 300 reais em um vaso industrializado, feito por uma máquina. Mas reclama, e muito, de pagar 30 reais em um vaso feito de barro, por uma pessoa que carrega um conhecimento secular, que foi passado de geração em geração, que foi produzido à mão, depois de um longo processo de extração do barro, de esmagá-lo até virar pó, de peneirar, de adicionar água, de preparar, para aí, então, começar a moldá-lo. Depois tem também o processo de queima, que pode durar um dia todo nesses fornos também construídos artesanalmente. Quando a gente discute esse assunto, a gente traz a arte popular brasileira pra um ambiente central e democrático da sociedade, e questiona, deslocando o lugar marginal que esses artistas, infelizmente, ocupam.”

Entender apropriação cultural em sua gênese, no entanto, não é possível sem que se estude profundamente as raízes imbricadas na colonização, no processo de escravização e no racismo. Quem tem feito este importante trabalho de conceitualização deste assunto, sobretudo de uma perspectiva brasileira, é Rodney William, doutor em ciências sociais e babalorixá, além de autor do livro Apropriação Cultural, parte da série Feminismos Plurais, da filósofa Djamila Ribeiro. Nós conversamos com Rodney sobre três pontos importantes de seu livro, que, claro, deve ser lido na íntegra.

Rodney, qual a relação entre racismo estrutural e a apropriação cultural?

“A nossa proposta de discutir apropriação cultural a partir da ideia de uma estrutura de poder e que foi amplamente enfatizada desde o período colonial vem para demonstrar que esta noção de apropriação cultural está imbricada com todas as questões do racismo, principalmente na forma como a apropriação se opera no caso brasileiro. Então a estrutura racista mantém a ideia de que existem culturas superiores e inferiores e aí algumas perguntas ajudam a gente a compreender melhor o problema. Porque se apagam ou se alteram o sentido dos elementos culturais afro ou indígenas? O que faz com que as pessoas acreditem que a origem destes elementos não deve ser valorizada? Então é justamente o vínculo com o racismo que ajuda a responder estas e outras tantas questões ligadas à apropriação cultural. Por isso o problema da apropriação cultural ele reside na desigualdade que o racismo sustenta a partir de sua estrutura que vai determinar todas as relações sociais. Então é sempre oportuno que a gente perceba que quando os grupos minorizados reagem isso amplia a força destes processos de descolonização e faz com que a gente tenha uma reformulação dos próprios grupos que valorizam estes elementos a partir de um processo de resistência. O racismo alimenta no imaginário coletivo as noções de superioridade branca e inferioridade de outros grupos étnicos como negros e indígenas e não se reconhece a humanidade destes grupos que são subalternizados. O processo de apropriação cultural é também um processo de desvalorização desta cultura que promove o genocídio destes grupos que são minorizados.”

No livro você faz uma distinção de apropriação cultural e de outros conceitos, como assimilação, aculturação e sincretismo. E lembra que há mais de 40 anos, no livro O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias do Nascimento, ele já abordava essas questões. Você poderia explicar as diferenças entre esses conceitos?

“É importante dizer que a aculturação consiste na fusão de duas ou mais culturas diferentes a partir de um contato permanente que gera mudanças em seus padrões culturais. Às vezes um grupo oferece mais do que recebe e às vezes alguns grupos são obrigados a assimilar elementos do grupo hegemônico. É uma espécie de intercâmbio de elementos culturais em razão da proximidade entre estes diferentes grupos. Claro que quando você fala de sincretismo você tem que lembrar que os negros por exemplo foram, obrigados a assimilar a religião católica porque era uma condição para a sua existência. Mas os processos de troca acontecem em uma sociedade, às vezes com imposição, sim, mas são processos que podem ser considerados como processos de mão dupla em que as culturas se influenciam mutuamente. A troca. Ainda para lembrar o Abdias, a partir da violência da escravidão, todas as heranças culturais negras foram esvaziadas. E é por isso que eu digo que lá já estava o conceito de apropriação cultural. O colonizador ele se apropriou da cultura do escravizado inclusive como uma forma de aniquilá-lo. É também por meio da cultura que se desvenda o processo de identidade, porque aqueles que se reconhecem entre si demarcam de imediato as suas diferenças com os outros. Era importante demonstrar este processo e aí eu fui recorrer ao Prof. Kabengele Munanga para explicar não só a questão da identidade que passa necessariamente pela cor da pele e passa ainda mais pela cultura e pela produção cultural. Cultura implica pertencimento. Mas na lógica do colonialismo, uma vez que os negros foram expropriados de seus territórios, eles perderiam a proximidade com a sua cultura e isso promoveria de alguma forma a sua desintegração enquanto um povo. E, claro, a gente precisa dizer que o capitalismo representa a continuidade dessa lógica.”

Em seu livro você também fala de como no Brasil foi construída uma falsa ideia de “cultura nossa”, como um patrimônio de todos, e que não dispõe de critérios, de créditos, de limites, de respeito. Pode nos falar da apropriação cultural sobretudo de uma ótica brasileira?

“Talvez seja importante dizer que quando elementos da cultura negra, indígena se tornam tendência quando viram moda a gente transmite uma falsa impressão de maior aceitação destes grupos sendo que nada disso contribui para a diminuição dos efeitos do racismo. O negro continua sendo discriminado. O índio continua sendo perseguido. É muito importante que a gente pense que para além do tornar estes elementos uma tendência, transformá-los em moda, usá-los como uma forma de homenagem a gente precisa lutar pela igualdade de oportunidades e direitos e fazer com que esses grupos sejam respeitados dentro do seu universo, do seu contexto cultural. Usar elementos culturais negros ou indígenas como enfeites, como peças descoladas não dá conta de dimensionar os significados que essas peças tem para aqueles que as usam por questões religiosas, de resistência ou afirmação de suas identidades. Então é entender que a cultura negra que é uma cultura de resistência é um parâmetro importante para saber o que pode ou não pode ser usado por pessoas de outras origens. Você precisa conhecer a cultura, os significados para você não dar um uso diferente daquele que existe na origem e para que respeite esta origem e perceba que estes elementos, o uso individual destes elementos reflete uma estrutura que diminui ou desconsidera a importância social, cultural, histórica destes grupos que foram perseguidos e marginalizados. Então um turbante para um adepto do Candomblé é um símbolo que remete a sua ancestralidade, ainda que você não seja uma pessoa negra você vai incorporar valores ancestrais desta cultura e obviamente este símbolo vai ter outro sentido para uma pessoa branca que pertence ao Candomblé. Um branco quando é iniciado no Candomblé ele conhece o significado ele sabe todos os sentidos de um turbante, que é um elemento sagrado e demarca um pertencimento, a reafirmação de um território de resistência. É muito importante a gente entender que há um genocídio em curso e que este genocídio está comprovado estatisticamente mas isso não alcança a repercussão de um turbante na cabeça de uma pessoa branca que cria uma hashtag para contestar as pessoas negras e colocá-las mais uma vez nesse lugar das pessoas que são violentas e radicais. É muito importante que a gente perceba que o acarajé, a feijoada, os adereços, o samba tem origem, tem raça e tem história. E que isso não pode ser usado como um elemento de todos para esvaziar o significado de tudo o que eles representam para estas populações que foram historicamente e sistematicamente perseguidas pelo racismo.”

Bom, depois dessa pequena aula, vamos para as outras notícias da semana.

Quem apostou que o boicote dos anunciantes ao Facebook seria fogo de palha se surpreendeu nos últimos dias. O movimento convocado por grupos de direitos civis em meados de junho ganhou força e já conta com a participação de mais de 500 companhias. Entre elas, gigantes como Unilever, Pfizer e Starbucks. A indústria da moda também aderiu: Adidas, Reebok, Levi’s e Vans são algumas das grifes que suspenderam seus anúncios na rede social de Mark Zuckerberg. No caso de algumas multinacionais, como Microsoft, Coca-Cola e Volkswagen, a medida vale igualmente para as filiais brasileiras.

O motivo do boicote, que faz parte da campanha Stop Hate for Profit, é pressionar o Facebook a banir conteúdos que propagam o discurso de ódio na plataforma. A empresa já vem sendo criticada há bastante tempo por permitir a veiculação de posts ofensivos, preconceituosos e que, em muitos casos, incitam à violência. Mas a pressão aumentou depois que o Facebook decidiu manter o post do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que dizia que “quando o saque começa, o tiroteio começa”. O post de Trump fazia referência aos protestos pela morte de George Floyd por um policial em Minneapolis, e foi duramente criticado por representar um estímulo à violência contra manifestantes.

Apesar de dizer oficialmente que o Facebook define suas políticas com base em princípios e não em interesses comerciais, e que não as altera por pressão da receita, a empresa anunciou algumas mudanças nos últimos dias. Em sua página pessoal, Mark Zuckerberg comunicou que a rede social iria proibir uma categoria mais ampla de conteúdo odioso nos anúncios. Em relação a posts de políticos e agentes públicos que violam as políticas do Facebook, o fundador da empresa disse que eles serão mantidos, mas receberão um selo comunicando que se trata de conteúdo com relevância jornalística. De acordo com Zuckerberg, a plataforma permitirá que as pessoas compartilhem esse conteúdo pra que ele seja condenado. “Mas vamos alertar as pessoas de que esse conteúdo pode estar violando nossas políticas”, escreveu o fundador do Facebook. Na semana passada, a plataforma anunciou ainda que vai se submeter a uma auditoria pela empresa Media Rating Council para avaliar como o Facebook lida com o controle do discurso de ódio.

As medidas anunciadas, no entanto, foram consideradas insuficientes pelos ativistas, que mantiveram o boicote. Por outro lado, o site The Information, especializado em tecnologia, revelou que, em reuniões com a equipe, Zuckerberg teria declarado que acredita que os anunciantes vão retornar logo mais ao Facebook.

Aí, é literalmente pagar para ver, né? De acordo com estimativas da Bloomberg, Mark Zuckerberg já teria perdido mais de 7 bilhões de dólares de sua fortuna pessoal nessa queda de braço.

Depois de meses amargando notícias de lojas fechando, dívidas milionárias de aluguel e lucros despencando, a GAP voltou a ser assunto nas páginas de economia. Dessa vez, no entanto, a empresa ganhou as manchetes por causa de uma disparada de suas ações na bolsa. Os papéis da rede de varejo subiram mais de 31% no dia 26 de junho. E o motivo para essa injeção nos ânimos tem um nome bem conhecido: Kanye West.

Pelo Twitter, o rapper e designer anunciou a parceria entre sua marca Yeezy e a Gap, onde, curiosamente, Kanye trabalhou quando era um adolescente em Chicago. A música Spaceship, de 2004, que você ouviu um trechinho aqui, fala sobre esse período. Também pelo Twitter o músico anunciou no sábado, dia 4, que vai ser candidato a presidência dos Estados Unidos ainda em 2020. Mas, até o fechamento deste episódio não estava claro se ele falava sério sobre os seus planos presidenciais. Já a dobradinha Yeezy Gap, prevista para chegar às lojas no primeiro semestre de 2021, vai contar com itens pra homens, mulheres e crianças, e promete ter preços mais acessíveis do que a marca de Kanye, onde quase nada custa menos do que 200 dólares. As peças vão ser produzidas sob supervisão do músico pelo estúdio da Yeezy, que recentemente contratou a designer Mowalola Ogunlesi. Nascida na Nigéria, Mowalola se mudou para Londres aos 12 anos. Uma de suas criações mais famosas é o vestido branco com uma estampa que simula um ferimento por arma de fogo, usado por Naomi Campbell num evento de moda em setembro passado. Na época, a designer declarou que fazia roupas para “mudar a cabeça das pessoas”.

Mas em meio a toda essa euforia com a chegada de Kanye à Gap, muita gente se perguntou: e como é que fica a situação de Telfar Clemens? O designer, filho de pais liberianos e criado no bairro do Queens, em Nova York, havia sido contratado pela Gap para assinar uma coleção no início do ano. O anúncio da parceria foi feito com grande alarde, com direito a festa e tudo, durante a semana de moda de Paris, em janeiro.

Telfar já havia desenhado vários looks, mas com o avanço da pandemia do novo coronavírus, foi avisado pela rede de varejo de que o lançamento da nova coleção havia sido adiado indefinidamente. A Gap propôs pagar 25% do valor acordado no contrato, mas depois do anúncio da parceria com Kanye West, e a repercussão em torno do rompimento com Telfar, a empresa garantiu que vai pagar o designer integralmente.

Em relação aos outros envolvidos no imbroglio, não há rusgas. Telfar já declarou que está muito feliz por Kanye e Mowalola, e que ama o trabalho dos dois.

Bom, o Pivô já está no finzinho, mas, antes de encerrar este episódio, a gente vai chamar nossa diretora de redação, Susana Barbosa, que tem uma novidade pra contar pra você:

“Desde que anunciamos a volta da ELLE, felizmente muita gente tem perguntado como faz pra assinar. Finalmente esse dia chegou. Na última sexta-feira liberamos a pré-assinatura da ELLE View, que é o nome da nossa edição digital mensal que estará disponível dia 13 de julho, próxima segunda-feira.

E como vai funcionar? A lógica é parecida com a da edição impressa, só que bem mais sustentável e adequada aos novos tempos: a ELLE View vai ter uma capa e conteúdos exclusivos disponíveis em uma área específica do nosso site. Se você for assinante, vai ser só colocar seu login e senha, para ter acesso. O preço é bem mais acessível também. Em Elle.com.br você encontra todas as informações.

Já sei que alguns de vocês estão se perguntando: mas e a edição impressa? Calma, em breve ela chega. Só que agora ela vai circular em meses específicos. Porém será mais especial do que antes, podem acreditar. Essa discussão em torno do print e do digital é mais complexa do que parece e acho que merece um episódio do Pivô só para ela, não é Pati e Gabriel?”

Ô, se merece! Vamos providenciar, né, Gabe? Vamos, sim, Pat!

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