#StopAsianHate e Semana de Moda de Milão

Como a indústria da moda está se posicionando contra ao aumento de crimes de ódio contra asiáticos e descendentes de asiáticos. E ainda: os destaques das semanas de moda de Londres e de Milão.


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Ataques contra asiáticos e indivíduos de ascendência asiática dispararam nos Estados Unidos e na Europa, desde o ano passado. Essa onda de racismo é causada sobretudo por narrativas xenofóbicas, espalhadas sobre a pandemia de Covid-19.

Neste episódio, a gente fala como a indústria da moda e da beleza tem se posicionado contra esses crimes de ódio, compartilhando informações e vias de ajuda por meio da hashtag #StopAsianHate. E ainda: os destaques das semanas de moda de Londres e de Milão.

Eu sou Patricia Oyama. E eu sou o Gabriel Monteiro. E você está ouvindo o ELLE NEWS, o podcast com as principais notícias de moda e de beleza da ELLE Brasil.

O vídeo de uma senhora de 52 anos, sendo jogada no meio da rua por um homem, em Flushing, no Queens, rodou a internet e gerou muita revolta. A senhora aguardava na fila de uma padaria quando sofreu esse ataque repentino.

No mesmo dia, mais quatro outras mulheres, todas ásio-americanas, sofreram algum tipo de violência. Na última quinta-feira, dia 25, somando a onda de ataques a indivíduos asiáticos ou de ascendência asiática, nos Estados Unidos, um homem de 36 anos foi esfaqueado, perto de Chinatown.

Segundo o Departamento de Polícia de Nova York, o número de crimes de ódio praticados contra ásio-americanos saltou de 3, em 2019, para 28, em 2020. Mas, tanto ativistas quanto a própria polícia, afirmam que muitos outros incidentes estão acontecendo, ainda que não sejam relatados ou classificados como crimes de ódio.

Em Nova York, os ásio-americanos são 16% da população total. E, obviamente, um clima de medo e revolta começou a tomar essa comunidade. Não à toa, organizações começaram a ser construídas, como a Stop AAPI Hate. A sigla é de Asian American Pacific Islander e a iniciativa se esforça para rastrear violências e assédios contra essas populações. Segundo o grupo, mais de 3 mil incidentes já foram relatados nos Estados Unidos desde o início de 2020. Deste número, ao menos 260 ocorreram em Nova York e as mulheres são as que mais sofrem injúrias raciais, sendo elas abordadas pelo menos três vezes a mais do que os homens.

O que levaria a este aumento de crimes de ódio? Muitos culpam a narrativa construída pelo ex-presidente Donald Trump para a sua legião de fãs e seguidores. Ele frequentemente associava o coronavírus a países asiáticos e fomentava uma linguagem racista e persecutória. Vale lembrar que o presidente ficou conhecido por usar expressões como China Virus ou Kung Flu, fazendo uma associação a palavra gripe em inglês com a arte marcial chinesa.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, disse semana passada que tem trabalhado para aumentar a comunicação com líderes comunitários. O objetivo, segundo ele, é o de auxiliar pessoas a denunciarem os ataques e a patrulhar vias públicas, como o metrô, por exemplo.

E outra movimentação tem sido feita nas redes sociais, com estilistas e influenciadores de moda e de beleza se manifestando contra a violência anti-asiática. Eles passaram a usar a hashtag Stop Asian Hate em publicações que ajudam a informar melhor as pessoas e financiam o trabalho de grupos organizados, como o Stop AAPI Hate.

O estilista Prabal Gurung pediu aos seus seguidores que doassem ou se voluntariassem nestes movimentos comunitários. Em um post o designer falou: “Para construir um mundo justo, temos que ser ativamente anti-racistas. O antirracismo é um compromisso para toda a vida”.

O designer Jason Wu também se juntou à causa, afirmando que é um dever dos membros das indústrias de moda e de beleza encorajarem um diálogo aberto sobre a violência anti-asiática. O estilista ainda lembrou que indivíduos asiáticos e com ascendência asiática sofrem há tempos com racismo e discriminação. Segundo o designer: “crescendo na China, quando eu era mais jovem, via apenas rostos ocidentais nas campanhas. Levei uma vida inteira para ficar confortável na minha própria pele”.

Já o estilista Phillip Lim disse que o trabalho de uma marca de moda é representar um mundo que nós queremos ver. De acordo com ele: “hoje, não podemos mais separar as nossas crenças daquilo que fazemos como trabalho. Eu sou estilista, mas, antes de tudo, sou humano.”

Além deles, outros nomes aumentaram o coro, como a diretora de moda do Instagram, Eva Chen, e a jornalista de moda britânica, Susie Lau, conhecida como Susie Bubble.

De acordo com a designer Ji Oh, embora todas as indústrias precisem ir contra este tipo de prática, o assunto é sim mais sensível para o setor da moda, porque nos bastidores, há muitos asiáticos, e que se a indústria não fala por aqueles que a compõem, ela é negligente.

E, de fato. Em 2019, a região formada por Ásia e Pacífico empregava pelo menos 65 milhões de trabalhadores no setor de vestuário. Isso significa que ao menos 75 por cento dos trabalhadores de moda em todo o mundo são desta parcela do globo. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho.

Fora isso, as culturas asiáticas, vindas de tantos países diferentes, seguem influenciando e pautando a indústria em muitos momentos. Pense, por exemplo, na mania de produtos de beleza coreanos que só cresce. Não se posicionar contrário a essas práticas é uma negligência econômica, para além da óbvia falta de humanidade.

Priya Ahluwalia ganha título da Rainha Elizabeth II

E agora a gente dá aquele giro nas semanas de moda internacionais que estão rolando. Como a gente já havia comentado na semana passada, a semana de moda de Londres começou no dia 19 de fevereiro e foi até o dia 23 de fevereiro, terça-feira passada.

A gente já tinha falado de alguns dos destaques, que eles ficaram principalmente entre os estilistas mais novos, mas faltou uma apresentação. E, para a Rainha Elizabeth II, foi a grande apresentação. A gente explica.

A estilista de ascendência nigeriana e indiana, Priya Ahluwalia, ganhou com a sua marca homônima o Prêmio Rainha Elizabeth II de Design Britânico. Até então, já ganharam esse título da monarca outros designers da nova geração de moda inglesa, como Richard Quinn, Rosh Mahtani (da joalheria Alighieri) e Bethany Williams.

Ahluwalia tem a sua marca há três anos e é uma estilista da nova geração londrina que vem ganhando bastante destaque. As suas principais características são o uso do upcycling na produção de um streetwear que valoriza ancestralidades e muita história em roupas bastante praticáveis.

Nesta temporada, a estilista fez essa união de tradição com rua por meio de cores bem fortes, tendo como referência as obras dos pintores negros Kerry James Marshall e Jacob Lawrence.

Para quem quiser saber quais outras marcas e estilistas vale a pena conferir cada detalhe, a gente te pede para, logo depois que nos ouvir aqui, entrar em ELLE.com.br e conferir na íntegra a cobertura inglesa.

Na Semana de Moda de Milão…

E a principal semana de moda italiana, a de Milão, começou na última terça-feira, dia 23, e está rolando até hoje, dia primeiro de março.

Assim como nas semanas de moda de Nova York e Londres, Milão segue também com o evento dentro de um contexto nada fácil. As apresentações virtuais ainda encontram desafios para engajar público, consumidores e a imprensa. Segundo dados da Camera Nazionale della Moda Italiana, o retorno financeiro das empresas de moda locais caiu 25% em 2020, totalizando uma perda de US$ 61.4 bilhões.

Neste cenário pouco animador, alguns nomes importantes decidiram desfilar de forma independente, fora do calendário. A Versace, por exemplo, fará um evento virtual no dia 5 de março. E Bottega Veneta e Gucci, ainda sem datas confirmadas, devem se apresentar nos próximos meses.

Entre os remanescentes, destaque para o retorno da Valentino à semana de moda de Milão, além de Dolce & Gabbana, Marni, Salvatore Ferragamo e Moschino. Até o fechamento deste episódio do ELLE News, nós conseguimos acompanhar dois grandes destaques: a terceira coleção da Prada com direção criativa conjunta entre Miuccia Prada e Raf Simons, além da estreia de Kim Jones, na Fendi, agora com o prêt-à-porter.

Kim Jones apresentou a sua primeira coleção para a Fendi dentro da semana digital de alta-costura, no mês de janeiro. Como a gente comentou por aqui, a apresentação couture do design foi do tipo ame ou odeie, dividindo a crítica. Mas a coleção prêt-à-porter, o inverno 2021 da Fendi, colecionou mais fãs. O cenário é parecido com o do desfile anterior, mas as roupas são menos fantasiosas e irreais. Tailleurs em tons neutros, vestidos-camisola acetinados, conjuntinhos de top e saia midi, além de tricôs e combinações de pijamas soltos vieram mais com a cara do estilista britânico em looks possíveis e que despertam bastante desejo.

A Prada também usou o mesmo cenário de sua coleção anterior, o desenhado por Rem Koolhaas para o desfile masculino, e colocou na passarela roupas que refletem o mundo de agora, mas não vêem a hora de sair da quarentena. O look de trabalho, por exemplo, aparece como uma alfaiataria levemente exagerada. E há look de festa, casaco felpudo dupla-face, botinhas plataforma com muito sonho pelo amanhã não pandêmico.

LVMH compra metade da Armand de Brignac

Parece que o LVMH está confiante de que o mundo vai sair dessa fase sombria da pandemia e terá muitos motivos para comemorar em breve. Na semana passada, o conglomerado francês de luxo anunciou a compra de 50% das ações da marca de champanhe Armand de Brignac. A marca, que pertence ao rapper Jay-Z, também é conhecida como Ace of Spades, por causa do design de sua garrafa de cores metálicas, que traz um ás de espadas em relevo.

Mas o investimento do grupo não indica apenas esperança em dias melhores no mundo pós-vacina. A LVMH sinaliza mais uma vez que quer ganhar espaço para além do tradicional circuito de luxo – ou, mais especificamente, quer garantir seu quinhão no “mercado de amanhã”, como definiu o executivo chefe da divisão de bebidas do conglomerado, Philippe Schaus.

A Armand de Brignac foi comprada por Jay-Z em 2014, e tem uma história curiosa nos bastidores. Até 2006, o rapper era fã do champanhe Cristal. Só que ele não gostou nada quando um dos executivos da Cristal fez um comentário que dava a entender que ele não aprovava a associação do rótulo à comunidade hip-hop. Jay-Z considerou o comentário racista, declarou boicote à bebida e passou a consumir só o Ace of Spades. A garrafa metalizada fez até uma ponta no clipe da música Show me What You Got, que a gente ouviu agorinha. Anos depois, Jay-Z, que, não custa lembrar, é casado com Beyoncé, acabou comprando a Armand de Brignac.

Agora, o rótulo de Jay-Z se une às outras marcas da LVMH, que detém grifes como Louis Vuitton, Céline e Dior, e, no ramo de bebidas, Moët & Chandon, Krug, Dom Pérignon e Veuve Clicquot.

E, para finalizar o ELLE News de hoje, eu pedi licença para a Bruna Bittencourt, nossa editora de cultura, para dar a dica cultural da semana! E, melhor, como se trata de uma arte urbana, essa dica vai valer aí tempo o suficiente para você conferir!

Trata-se do projeto global Converse City Forest, encabeçado pela marca Converse! Desde o ano passado, a gigante de calçados mundialmente conhecida pelo icônico All Star roda o mundo com esse projeto, no qual artistas de diferentes países têm os seus trabalhos valorizados, produzindo murais com tinta sustentável e que contam muita história.

No ano passado, a marca, que já passou por países como Tailândia, Chile, África do Sul e Indonésia, chegou ao Brasil, com o projeto, em São Paulo. E, agora, em 2021, é a vez do Rio de Janeiro, mais especificamente a comunidade de Santo Amaro, que fica ali na Zona Sul carioca. O objetivo do projeto neste ano também é especial: eternizar figuras negras, exatamente nos lugares onde elas fizeram história.

O nome escolhido para a curadoria do projeto no Rio de Janeiro foi Lucas Ademar, fundador do Ademáfia, coletivo de impacto social, por meio do skate, na comunidade. O Lucas, por sua vez, chamou o André Kajaman, um grafiteiro talentosíssimo, para construir um mural de 1064 metros quadrados.

Nesse mural foram homenageados duas grandes figuras da região. O Sr. Baiano, um dos primeiríssimos moradores da comunidade de Santo Amaro, que faleceu há alguns anos, mas segue bem vivo na memória dos locais. A segunda homenageada foi a Dona Martha. E o próprio Lucas me contou um pouco sobre essa escolha e o que ela significa para a sua comunidade:

“A segunda pessoa foi a Dona Martha, uma mulher incrível, de personalidade muito forte. Ela está desde os anos 1980 trabalhando com liderança comunitária, mas foi nos anos 1990 que ela ganhou a primeira eleição, sendo considerada a primeira mulher a concorrer e a ganhar as eleições comunitárias. E já tem uns seis anos que eu toco os meus projetos de skate dentro da comunidade e que eu trabalho com ela. Ela se tornou uma grande parceira, muito profissional, ajuda a gente pra caramba. Ela foi a segunda homenageada neste painel que está aqui, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na comunidade onde eu sou cria. A gente faz este trabalho justamente para mostrar os nossos heróis. E somos nós mesmos. A gente que faz pela gente.”

A parte boa disso tudo é que no Brasil, o projeto não ficará restrito só a São Paulo e a Cidade Maravilhosa, não. Ele chega também a outro ponto turístico do nosso país, Salvador, onde a curadoria é encabeçada por dois nomes da moda que você já conhece ou precisa conhecer: Pedro Batalha e Hisan Silva, o duo por trás da marca soteropolitana Dendezeiro.

Por lá, o projeto chega na primeira quinzena de março, um mês historicamente de homenagem às mulheres. E, não à toa, Pedro e Hisan chamaram duas grandes artistas para a concepção do mural, como o Hisan nos conta a seguir:

“A ideia do projeto é homenagear justamente a grande força e potência da mulher negra, desde a escolha do local, que é o Dique do Tororó, um lugar super importante para religiões de matrizes africanas, para o empoderamento de pessoas negras, quanto na escolha da homenageada, uma mulher forte que revoluciona a música no país, que é Larissa Luz, até a escolha das artistas, Nila e Monique, duas grafiteiras incríveis da cidade de Salvador. Ver essas duas grandes artistas atuando juntas em um lugar representativo, num painel representativo, para uma homenagem tão linda… A gente não pode estar mais feliz.”

Como o Hisan falou, a homenageada em Salvador é a cantora Larissa Luz, uma artista inspiradora, como o Pedro Batalha explica:

“O projeto está ‘quebrando barreiras’ e a Larissa personifica esse conceito da marca. Ela é uma mulher que quebrou barreiras e atingiu espaços e locais que são inspiradores para muita gente.”

Ou seja. Não perca a oportunidade de visitar esses lugares, quando puder, e de celebrar esses artistas e as figuras retratadas. Como eu disse, no Rio ele já pode ser visto, e em Salvador (anote na agenda!) na primeira quinzena de março conferir.

Este episódio usou trechos das apresentações de Inverno 2021 da Ahluwalia, da Fendi e da Prada, além das músicas Gimme Gimme Gimme, de ABBA, Show Me What You Got, de Jay Z, e Descolonizada, de Larissa Luz.

E nós ficamos por aqui. Eu sou Patricia Oyama. E eu sou o Gabriel Monteiro.

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