Todo dia é um bom dia para celebrar Cher

No aniversário de 75 anos da artista, relembramos como ela revolucionou as ideias do que uma estrela pop poderia realizar visualmente.


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Existem algumas mulheres responsáveis por deixar a internet no mínimo agitada a cada vez que pisam em um tapete vermelho. Lady Gaga, Beyoncé e Rihanna são algumas delas. Mais recentemente, Dua Lipa e Zendaya também passaram a fazer parte dessa lista. Cada uma delas tem os seus próprios estilos e os méritos individuais de tornar a moda pop, mas, às vezes, em um look ou outro, é difícil não identificar um quê de Cher. Para as duas últimas em especial: as referências à diva têm sido mais constantes e elas fazem questão de admitir.

Com um vestido inteiramente coberto por cristais Swarovski e cabelo liso, dividido ao meio, Dua Lipa cruzou o red carpet do Grammy deste ano com um vestido Versace claramente inspirado no visual de Cher, lá em 1974, na mesma cerimônia. Poucas semanas depois, no Oscar, foi a vez de Zendaya prestar homenagem: ela apareceu com um Valentino que mais parecia ter saído de um episódio do The Cher Show, programa apresentado pela artista durante a década de 1970. Em seu Instagram, Law Roach, stylist de Zendaya, escreveu se dirigindo à Cher: “minha referência constante”.

Mesmo distante do que se entende como atemporal, 50 anos depois, os looks da cantora e atriz seguem inspiracionais e relevantes. Entretanto, diferentemente de hoje, a era hiperconectada das mídias sociais não existia lá trás. O tapete vermelho ainda não havia se tornado um negócio de moda rentável e um bom look nem sonhava em bater recorde de likes no Instagram. Mesmo assim, já havia Cher. A verdade é que a ausência de cada um desses frutos (talvez, um tanto quanto azedos) da contemporaneidade, a tornava ainda mais grandiosa.

Agora, ela resiste ao difícil teste do tempo como poucas. Como? É difícil dizer. Autenticidade? Aptidão? Esforço? Estas até podem ser hipóteses pertinentes, mas é difícil decifrar com precisão algo que mais parece inerente à sua persona. Completando 75 anos hoje, Cher quebrou as regras, preparou o palco para as Lady Gagas atuais e transformou o seu estilo em um símbolo cultural que jamais poderá ser ignorado ao longo de sua carreira.

O casamento perfeito

“O que faço com ela?”, foi o que questionou Bob Mackie quando, em 1967, foi encarregado de vestir Cher para a aparição em um programa, no qual o figurinista trabalhava na época. Depois do rápido estranhamento inicial, Bob já parecia convencido: “Em uma fração de segundos, entendi tudo”, relembrou em uma entrevista à imprensa. “Cher não era como as garotas loiras de penteados em forma de colmeia e roupas de babado dominantes naquele momento da mídia. Ela era diferente, incomum”.

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Bob Mackie e Cher.Getty Images

O que se iniciou como uma enigma de estilo se transformou em uma das parcerias mais icônicas entre celebridade e estilista. Poucos meses depois, eles já haviam se tornado uma dupla e, assim como Audrey Hepburn e Hubert de Givenchy ou Liza Minnelli e Halston, Cher e Bob Mackie construíram uma amizade para além dos figurinos – essa sintonia, aliás, parece essencial para uma relação como essa funcionar verdadeiramente. “Tenho certeza de que o Bob sempre se sentiu confortável para ser completamente honesto comigo e eu sentia o mesmo com ele. Éramos como duas crianças travessas se metendo em problemas”, comentou Cher em entrevista ao The Guardian.

Bob Mackie foi, provavelmente, um dos primeiros estilistas a colocar vestidos sensuais em um tapete vermelho e a trabalhar de forma mais íntima com o mercado de Hollywood (sim, os estilistas que andam desenhando peças para premiações têm uma dívida eterna com o estadunidense). E nada disso aconteceria sem Cher. “Poderíamos fazer qualquer vestido, porque ela era incrível de se trabalhar. Seguraria qualquer peça e, quanto mais exótica fosse, melhor”, disse Bob.

O look para o MET Gala de 1974 é um desses. Com um vestido de plumas, cristais e muita transparência, Cher foi a primeira celebridade de Hollywood a comparecer ao baile 一 e isso mudou tudo. “Assim que nós entramos, já havia milhares de fotógrafos nos cercando e eles me seguiram pela noite toda. As pessoas não se vestiam assim naquela época”, relembrou. Cinquenta anos depois, esse é ainda um daqueles visuais monumentais dignos de lembrança. Não é à toa que continuamos vendo novas versões por aí, inclusive em Beyoncé e Kim Kardashian,em diferentes edições do mesmo evento.

Looks memoráveis não faltam na carreira de Cher e a lógica por trás deles pode sempre surpreender. Para o Oscar de 1986, a atriz e cantora estava decidida que gostaria de estar o mais chamativa possível. Ela apareceu na premiação com a barriga superexposta e um acessório de cabeça um tanto quanto inusitado para a ocasião. O motivo? Naquele ano, Cher não havia sido indicada por sua atuação no filme Marcas do Destino pois, segundo a academia, a estadunidense não poderia ser levada a sério enquanto continuasse se vestindo como se vestia. Em resposta, a artista escolheu lembrar que sempre haverá espaço para a fantasia.

A ideia partiu de Cher e, de início, não agradou Bob. Apesar de ambos impulsionarem um ao outro, ele desejou que ela adotasse um estilo um pouco menos arriscado, enquanto ela mantinha o seu mantra: “Vamos chocar as pessoas”. No entanto, para a dupla, havia uma condição essencial: até as peças mais excêntricas só poderiam ser vistas se elas estivessem impecáveis, tanto em termos de design quanto de mobilidade. “O vestido estava proporcionalmente ajustado? Eu conseguiria me sentar, me mover? Nós dois não ficávamos satisfeitos até que cada centímetro estivesse perfeito”, contou a artista ao The New York Times.

Olhar para os looks de Cher, ao longo da história, é também observar a evolução da moda. Década após década, ela não se conformou nem por um segundo e cada uma de suas múltiplas facetas estéticas refletiam movimentos maiores, seja de sua própria carreira ou seja do mundo. Agora, os visuais parecem incríveis, mas nem sempre foram tão certos assim. A cada vez que a artista pisava em um tapete vermelho, era uma aposta. A chance de ser listada como a mais bem vestida era a mesma de ser listada como a menos bem vestida. O que ela fazia, no entanto, nunca foi sobre isso e, talvez, esteja aí a magia. “Cher nunca se importou se as pessoas iriam aprovar. A sua abordagem era ‘vamos dar a eles algo para olhar’. Era uma questão de diversão”, contou Bob.

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