Documentário sobre Pierre Cardin estreia no Brasil
Dupla de diretores fala à ELLE sobre O Império de Cardin, filme que chega aos cinemas nacionais menos de um mês após a morte do estilista, e conta com entrevistas de Jean Paul Gaultier a Alice Cooper.
Todd Hughes e P. David Ebersole colecionavam móveis, itens para a casa e até um carro licenciado por Pierre Cardin. “Éramos muito obcecados”, conta Todd, por telefone, de Palm Springs (Califórnia). Quando estava em Paris para a exibição de seu penúltimo documentário, Mansfield 66/67 (2017) — sobre os dois últimos anos de vida da atriz Jayne Mansfield —, o casal de diretores visitou o museu de Cardin. “Nunca havíamos parado para pensar que ele era, de fato, uma pessoa, que estava vivo e tinha 95 anos. Nós tínhamos que conhecê-lo”, completa.
A equipe do estilista franco-italiano, que faleceu no fim do mês passado, aos 98 anos, intuiu que a dupla queria conhecer Cardin porque planejava um documentário. “Nós só queríamos conhecer nosso herói do design. Mas antes que o almoço terminasse, Cardin nos perguntou quando gostaríamos de começar, assim como fez com Gaultier e Philippe Starck”, diz David, sobre o estilista e o designer francês, que foram contratados imediatamente por Cardin após o procurarem, ainda no início de suas carreiras. “Estávamos prestes a fazer um filme sobre Pierre Cardin, não tínhamos financiamento nem sabíamos o que fazer, mas era a oportunidade de uma vida”, completa David. “Ele nunca tinha dito sim para um documentário”, diz Todd.
Criações de Pierre CardinFoto: Divulgação/Imovision
O Império de Cardin estreou em setembro, no Festival de Veneza, e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (14), depois de uma pré-estreia no festival online Feed Dog, em dezembro. “Nós estivemos com Pierre em setembro. Ele reuniu todo mundo, vimos o filme, não sabíamos que ele estava se despedindo, mas estava. Foi um fechamento para muitas pessoas”, diz Todd. Para David, foi reconfortante ver a cobertura mundial da imprensa sobre a morte do estilista no fim de dezembro, que foi lembrado, principalmente, por seu pioneirismo em licenciamentos (Cardin emprestou seu nome para produtos que vão de panelas a carros), por suas modelagens geométricas e pelo visual futurista da década de 60, em meio à corrida espacial, além de seu apoio às artes.
“Ele ficou mais conhecido por seu licenciamento e branding, mas aprendemos com o documentário que, por trás de qualquer coisa, sempre havia uma ideia, e não apenas uma maneira de ganhar dinheiro. Seu objetivo era com que todo mundo tivesse a oportunidade de se expressar com beleza e design”, diz David. “Foi ele quem criou um logo ao decidir: ‘Eu não vou colocar este logo dentro das minhas roupas, vou colocar sobre as minha roupas’. Isso mudou tudo. Tudo é branding hoje — Nike, Adidas, Balenciaga…”, completa Todd.
O estilista Jean Paul Gaultier, um dos entrevistados no documentárioFoto: Divulgação/Imovision
A dupla, que já dirigiu documentários sobre Cher e Patty Schemel, ex-baterista do Hole (banda de Courtney Love), conta que sabia pouco sobre o estilista antes do filme, mas repassa com detalhes a carreira de Cardin no filme. Além do estilista, a produção conta com entrevistas de Naomi Campbell, Kenzo Takada (morto em outubro do ano passado), Gaultier e Starck, entre outros. “Foi um belo passeio, como você viu no filme. Não sabíamos sobre Jean Cocteau e (o figurino de) A bela e a fera (1946) ou sobre Christian Dior (Cardin ajudou a construir o New Look, quando foi chefe de ateliê da grife, no início de sua carreira). Ou que ele diversificou a passarela (o estilista contratou modelos negras e asiáticas para seus desfiles) e que foi o primeiro (estilista) a expandir seus negócios para a China, Japão e Rússia”, diz Todd. “Provavelmente, nossa maior surpresa foi seu apoio e interesse pelo teatro e pelas artes”, diz David sobre o espaço que o estilista abriu em Paris. “Não acreditamos quando soubemos que havia uma conexão com o Alice Cooper”. O roqueiro, que se apresentou no teatro nos anos 70, também foi ouvido pelos diretores.
Além da esfera profissional, o documentário aborda o relacionamento de Cardin com a atriz francesa Jeanne Moreau (1928-2017) e com Andre Oliver, estilista e seu braço-direito na grife. “No filme, foi a primeira vez que ele se assumiu publicamente como bissexual, não era algo que ele falava”, diz David.
Depois desse mergulho na vida de Cardin, os dois diretores migram para a música e finalizam um documentário sobre o cantor Trini Lopez (My name is Lopez), que também morreu no ano passado, vítima da Covid. “Ele tem um história incrível. Filmamos o documentário ao mesmo tempo em que fazíamos o de Cardin. E ainda bem que fizemos.”
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