Paris Fashion Week: Dior, verão 2026

Jonathan Anderson estreia na direção criativa do feminino da Dior com coleção espetacular e 100% conectada aos tempos atuais.


DIOR HOME
Dior, verão 2026. Foto: Getty Images



A estreia de Jonathan Anderson na direção criativa do feminino da Dior foi grandiosa. Ainda assim, muito do que se viu na passarela comunicava uma sensação de cotidiano, de leveza e até de naturalidade – no sentido de não parecer forçado ou montado demais.

Era algo que já dava para perceber antes do desfile começar. Diferentemente das apresentações anteriores, aqui nenhuma convidada demonstrava estar fantasiada ou vestida com um look improvável de existir em qualquer outra situação. Vide a minissaia e colete militar de Jenna Ortega, a bermuda e jaqueta perfecto de Charlize Theron, o jeans, camiseta e blazer de couro de Rosamund Pike, o trench, camisa e calça de alfaiataria de Jennifer Lawrence.

Isso não é pouca coisa, ainda mais em uma casa tão inserida no imaginário popular, na história e na cultura francesa. Na verdade, um dos grandes méritos de Jonathan é entender bem esses lugares que a marca ocupa.

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Leia mais: 14 DESFILES DA DIOR PARA CONHECER A HISTÓRIA DA MAISON

Para recapitular, Jonathan Anderson foi oficializado diretor de criação das linhas masculina, feminina e de alta-costura da maison em junho, após quase 12 anos na Loewe. As duas etiquetas pertencem ao grupo LVMH. Na Dior, ele sucede Kim Jones, no masculino, e Maria Grazia Chiuri, no feminino.

Naquele mês, Jonathan mostrou sua primeira coleção para a Dior Men. Como ele é o único profissional a supervisionar todas as categorias de produto desde Marc Bohan (o estilista liderou a grife entre 1961 e 1989), algumas ideias ganham continuidade. Tem looks quase idênticos para eles e para elas. Outros são bastante similares. 

O blazer verde, inspirado na famosa jaqueta Bar que abriu o desfile masculino, aparece no feminino com proporção reduzida e combinado à saia pregueada. As dobraduras, que são originais do modelo Delft, de 1948, e já tinham aparecido em bermudas cargo, agora são trabalhadas em trench-coats, vestidos, minissaias e casacos. As camisas azuis, as capas de tricô/crochê e os jeans são mais alguns elementos que se repetem com variações.

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Apesar de mais abrangentes, as principais referências históricas são as mesmas daquele début. Observadores atentos ou fãs dos designers que já passaram por lá, no entanto, reconhecerão outros traços comuns (as pétalas do Venus, as transparências etéreas de Maria Grazia, os chapéus da era Galliano, a linha A de Saint Laurent e, depois, de Marc Bohan). De novo, faz parte do roteiro.

Em um texto enviado à imprensa, Jonathan fala da complexidade e do desafio de criar algo novo dentro de uma maison tão carregada de histórias, personalidades e significados. A apresentação começa com um vídeo do documentarista inglês Adam Curtis, composto de imagens de vários momentos do passado da etiqueta. É tanto repertório que a tarefa chega a ser assustadora, daí o clima de thriller da edição.

Não à toa, o cenário, assinado pelo cineasta Luca Guadagnino e pelo designer de produção Stefano Baisi, consistia em uma pirâmide invertida sobre uma caixa de sapatos. Ao fim da exibição todas aquelas memórias são comprimidas e armazenadas lá. A ideia, segundo o próprio criador, é pegar pedacinhos do que já veio antes, lembranças pontuais, um gesto, uma linha e misturar de maneira livre, natural, suave. 

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dior, verão 2026. Foto: Getty Images

Dio, verão 2026.

Dio, verão 2026. Foto: Getty Images

Leia mais: A HISTÓRIA, A IMPORTÂNCIA E OS ÍCONES DA DIOR

Curiosamente, Jonathan usa a palavra tensão para descrever a justaposição desta coleção. Isso tem a ver com o que falamos lá no começo: a grandiosidade virtuosa, com a objetividade acelerada e descompromissada de uma vida fragmentada, múltipla, sempre em movimento.

Nesta temporada, tem rolado uma descida do pedestal generalizada. Vimos isso na Versace, por exemplo. Não se trata apenas de um look “vida real”. É mais sobre conexão e relevância com a maneira como se vive hoje. E Jonathan expressa isso de maneira muito interessante – e muito francesa –, dentro de uma linha de raciocínio e estética essencialmente Dior. É curioso perceber como, nos últimos anos, a marca deixou seu viés francês de lado.

Dior, verão 2026.

Dio, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dio, verão 2026. Foto: Getty Images

Dior, verão 2026.

Dio, verão 2026. Foto: Getty Images

Agora, é como se o estilista imaginasse uma peça (veja bem, não um look completo) para toda e qualquer situação. E uma peça com a qual muita gente pode se relacionar. Daí o jeans com jaqueta de alfaiataria com peplum supervolumoso, daí a saia com babados e camisa de algodão, daí a bolsa-saco com alça de corrente e a menorzinha bem lady-like, daí o sapato masculino e também a sandália com laço.

Nas palavras do diretor criativo, “tudo se expressa através do filtro da Dior, que é uma sensibilidade cromática, bem como uma maneira requintada de fazer as coisas. A mudança é inevitável”. E, se me permitem, um dado da nossa realidade, dos nossos tempos.

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes