O som único dos Young Fathers

O premiado trio escocês conversou com a ELLE durante sua passagem por São Paulo.


Young Fathers por Jordan Hemingway 2
Foto: Jordan Hemingway



Às vezes soa como rock, às vezes como hip hop e até como soul ou um pop experimental. É difícil definir a sonoridade dos Young Fathers. O elogiado trio escocês é também conhecidos pela força de suas performances, que os brasileiros puderam ver no fim de maio, no C6 Festival, em São Paulo. E o show fez jus à fama.

Os amigos Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e G. Hastings começaram a se apresentar juntos ainda adolescentes, em noites de microfone aberto, em Edimburgo, e, em 2008, formaram os Young Fathers.

Seis anos e duas mixtapes depois, lançaram seu álbum de estreia, Dead (2014), que venceu o Mercury Prize (um dos mais prestigiosos prêmios da indústria musical britânica), desbancando nomes como Damon Albarn (Blur). O quarto e mais recente disco do trio, Heavy heavy (2023), foi finalista do Mercury e rendeu à banda três indicações ao Brit Awards (uma espécie de Grammy britânico), além de ter sido eleito pelo The Guardian como o segundo melhor disco do ano passado.

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O segundo álbum do grupo, White men are black men too (2015), é um bom exemplo da inclinação política da banda, que aborda em suas letras de temas como o racismo e o tratamento de refugiados. Alloysious nasceu na Libéria e mudou com a família para a Escócia ainda criança. Filho de pais nigerianos, Kayus nasceu em Edimburgo. Não à toa, a música do trio também traz certa influência africana.

O trio vem se manifestando em suas redes sociais sobre a situação da Palestina – terminaram o show no Brasil pedindo a libertação do território – e doaram cachês de shows para a assistência médica na região e para a Anistia Internacional. No ano passado, participaram de EP ao lado dos grupos Fontaines D.C. e Massive Attack – com quem já colaboraram – com lucros destinados à organização Médico Sem fronteiras na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

 

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O trio visitou o Brasil após uma turnê pelos Estados Unidos, que incluiu uma apresentação no Coachella, e conversou com a ELLE pouco antes do show em São Paulo:

Tocar em palcos estrangeiros  

“Esta é a nossa primeira vez na América do Sul. Isso significa que já percorremos seis continentes. Só faltou a Antártida. É uma sensação ótima, na verdade (tocar para um público pela primeira vez, como o brasileiro). Acho que não nos apresentamos muito em casa. Tocamos em outros lugares antes de nos tornarmos conhecidos na Escócia. Então, nunca pensamos nas diferenças entre onde estamos e para quem estamos tocando. Para nós, é uma forma muito carinhosa não se importar onde estamos, mas nos preocuparmos com a performance. Sempre gostamos de subir ao palco e fazer o que sabemos, o tão forte quanto pudermos”, diz G.

Young Fathers por Matt Brown

Foto: Matt Brown

A força dos Young Fathers no palco  

“Acho que apenas tentarmos nos surpreender, procurando nos manter alertas, seja no estúdio, seja no palco. Nos atraímos pelo momento, em vez de planejar o que vamos fazer. Tentamos construir um ambiente (sonoro) onde as coisas possam voar e seguir em qualquer direção. Obviamente, escrevemos músicas, tocamos as músicas e fazemos isso de uma forma que possamos apresentá-las. Mudamos as palavras, a forma como interpretamos as canções, é diferente a cada show. Reagimos ao que está acontecendo na nossas frente. Estranhamente, essa tem sido a nossa força. Bem, não tão estranhamente. Acho que é confiar em como você está se sentindo no momento. Acho que essa confiança, por estarmos juntos há tanto tempo, continua crescendo porque nos conhecemos cada vez melhor. E também, há uma segurança em não estarmos muito preparados. É como uma improvisação. Se você a pratica, ficará bom em poder ir a qualquer lugar”, diz G. “Nós também não ensaiamos demais. Como disse o G., é sobre espontaneidade ou improvisação”, diz Alloysious.

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Foto: Filmart Media

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Uma banda de amigos

“Passamos por um momento em que nos disseram para ficarmos separados. Mas a sensação de estarmos juntos era algo incontrolável e que queríamos perseguir. Foi isso que nos fez gravar Heavy heavy. Nesse momento, fizemos um balanço do que nos tornamos, as coisas que celebramos entre nós e as que valorizamos uns nos outros. Coisas que sei que não posso fazer, mas esses caras podem. Quando estamos na bolha de gravar um álbum e fazer uma turnê, perdemos isso de vista, estamos apenas vivendo aquele momento. E ter esse tempo nos permitiu valorizar a individualidade de cada um e encorajar o outro”, conta Kayus.

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A apresentação no C6 Festival Foto: Filmart Media


Os prêmios e a crítica

“Acho ótimo, porque isso quer dizer que fazemos algo especial, que pode caber em uma premiação mainstream como o Brit Awards. Não fazemos músicas por prêmios, mas eles ajudam. Te dão cinco, 15 minutos de fama e a oportunidades de conseguir mais dinheiro para shows. Isso ajuda com as contas. Mas fazemos música porque acreditamos e somos apaixonados por isso. Às vezes, você quer provar a si mesmo que pode conquistar isso (prêmios), que pode ir mais longe. É ótimo ser reconhecido por essas coisas, as às vezes você só quer ser aclamado, não precisa ser pela crítica. As pessoas só precisam gostar e pronto”, diz Alloysious.

“Não fazemos músicas por prêmios, mas eles ajudam” Alloysious

 

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