Documentário “Herchcovitch;Exposto” estreia na HBO Max

Produção documental oferece conteúdo valioso sobre parte dos 30 anos de carreira do estilista Alexandre Herchcovitch.


O estilista Alexandre Herchcovitch durante a gravação do documentário Herchcovitch;Exposto.
Alexandre Herchcovitch. Foto: Divulgação



Não é todo dia que a moda brasileira ganha destaque no horário nobre, ou, para ser mais preciso, em uma das principais plataformas de streaming do planeta. Herchcovitch;Exposto, documentário sobre os 30 anos de carreira do estilista Alexandre Herchcovitch, estreou na Max na terça-feira (25.06). 

A produção da HBO antecede o desfile que marca o retorno do criador à etiqueta fundada por ele no início da década de 1990. Em 2008, Alexandre vendeu a empresa ao grupo InBrands, e encerrou seu contrato sete anos depois. Um dos raros materiais midiáticos voltados à moda nacional, o longa oferece conteúdos valiosos sobre a trajetória do designer e sobre um momento sociocultural excepcional na história da indústria e mercado locais.

 

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Os primeiros anos da redemocratização do Brasil proporcionaram um ambiente singular para a experimentação e florescimento de novas formas de representação pessoal, identitária, de gênero, comportamental, cultural, criativa e comercial. 

Herchcovitch;Exposto traz depoimentos e imagens formativas de tal período. Há vídeos de arquivos dos primeiros desfiles da Herchcovitch;Alexandre, looks criados para apresentações em clubes underground e recortes de reportagens sobre o então novato.

Destacam-se as contribuições da performer e ícone da noite Marcinha do Corintho, da jornalista Erika Palomino, da club kid e hoje DJ Johnny Luxo e, sobretudo, da drag queen pioneira do bate-cabelo, Marcia Pantera

O estilista Alexandre Herchcovitch durante a gravação do documentário Herchcovitch;Exposto.

Foto: Divulgação

“O bate-cabelo começa aí, com o toque dele”, diz Marcia. “Ele (Alexandre) me falou: ‘Aquele movimento que você dá uma chicotada para trás com o cabelo, aquilo é muito maravilhoso. Eu, na plateia, estou escutando o cabelo batendo no vinil. Faz de novo aquilo’.” 

Regina Herchcovitch, mãe do estilista, é outra personagem importante. Sua influência e exposição do filho às realidades e diversidades do mundo são pontos essenciais do documentário, bem como da carreira e vida de Alexandre.

O trabalho conjunto, as colaborações e trocas – pontos cruciais na construção da identidade da marca – também merecem menções honrosas. Maurício Ianês, Geanine Marques, Marcio Banfi, Paulo Martinez e Daniel Raad são alguns dos nomes contribuintes dessa narrativa. Só é uma pena que eles sejam alguns dos poucos nomes presentes no corte final. 

O estilista Alexandre Herchcovitch durante a gravação do documentário Herchcovitch;Exposto.

Foto: Divulgação

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Quem acompanha a Herchcovitch;Alexandre e seu criador sabe do valor e importância de tantos outros colaboradores e influenciadores (não os profissionais das redes sociais) deixados de fora. Seria interessante ouvir os executivos da InBrands sobre a compra da grife e a partida de seu fundador, sete anos depois. Conhecer mais sobre outras relações criativas, como a com Iracema Trevisan, Japa Girl, Marcelona, Fernanda Young e, mais recentemente, com o estilista Rhody. Colegas de profissão também seriam boas adições ao repertório, bem como outros escritores, jornalistas e fotógrafos, a exemplo de Charles Cosac, Regina Guerreiro, Alcino Leite Neto, Álvaro Machado, Bob Wolfenson, Daniel Klajmic e Debby Gram.

Se há uma falha na obra, é justamente a edição seletiva e excludente de fatos e personagens. Questões de agenda e orçamento provavelmente têm papel nos recortes e curadoria de fontes. Herchcovitch;Exposto é codirigido por Rafael Barioni e pelo próprio Alexandre, o que explica o viés pessoal na construção do roteiro e narrativa visual. 

No entanto, não existem na história do designer acontecimentos vexaminosos públicos ou litígios jurídicos capazes de bloquear ou explicar a falta de informações básicas de seu currículo. Não há menção sobre o que o estilista fez após romper com a empresa detentora da Herchcovitch;Alexandre, a InBrands (um ano depois, em 2016, junto a Fabio Souza, ele lançou a À La Garçonne). Tampouco são dados detalhes sobre seu retorno à marca (trata-se de um tipo de concessão de direito de uso de nome). 

Omissões sempre dão aberturas para suposições ou interpretações mal intencionadas. Aqui, no entanto, pecam pela escassez factual. Qualidades que confundem um registro valioso com publicidade. Não que seja demérito, errado, nem nada do tipo. Porém, em um momento de memórias curtas e pouca disposição para conhecimento histórico, seria importante ter uma documentação mais completa e coesa de uma trajetória tão rica e excepcional.

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