E se… chegássemos ao fim?

Ser colunista da ELLE foi a realização do meu sonho de estudante de moda. Mas ventos importantes empurraram meu barquinho para outras áreas de embate. 


Ilustração com clima onírico, com mulher abrindo uma porta e beija-flores voando
Ilustração: Mariana Baptista



Quando minha primeira coluna foi ao ar, em junho de 2020, foi como se, quase 15 anos depois, o sonho daquela estudante de moda de trabalhar numa redação de revista tivesse sido realizado. Eu já havia publicado em outros veículos e fundado a minha própria organização de jornalismo, mas integrar o time de colunistas da ELLE coroava uma jornada profissional – que acabou sendo tortuosa demais pelos acontecimentos da vida – e, ainda que não soubesse, também sinalizava o fim de uma era.  

Nos últimos dois anos e meio, tive toda a liberdade para trazer para vocês os debates mais importantes acontecendo em torno do tema “sustentabilidade na moda” – do greenwashing descarado ao impacto das mudanças climáticas no artesanato brasileiro. Sem meias palavras, pude costurar os principais acontecimentos do setor com discussões sociais, políticas e econômicas.

Foi ao longo dos últimos dois anos também que eu comecei a me afastar da moda e mergulhar mais fundo em outros temas. Minha pesquisa acadêmica somada ao caminhar da vida e da sociedade foram ventos importantes para empurrar meu barquinho para outras áreas de embate e, em certa medida, retomar meu compromisso de longa data com o (eco)feminismo. 

Se estava postergando o fim desse relacionamento com a moda, foi observar o avançado do neoliberalismo na América Latina e a intensificação dos processos de acumulação colonial nos corpos, mentes e territórios (seja pela via progressista, seja pela conservadora). E reconhecer que tal avanço impõe desafios específicos às mulheres e à natureza que precisam ser endereçados – o empurrão necessário para eu escrever o ponto final dessa história que começou com aquela estudante há 15 anos.

Mas como sou de muitas palavras, deixo para vocês um prólogo repleto de possibilidades para quem vai continuar escrevendo a história da moda sustentável. A cartilha Fibras do cuidado: algodão agroecológico buscou mapear os principais desafios e soluções para ampliar a produção e o uso do algodão agroecológico brasileiro na indústria da moda encontrados pelas pessoas que já estão envolvidas nessa rede produtiva. O material é de fácil leitura e está disponível para quem quiser entender mais sobre a importância do algodão agroecológico para a sustentabilidade na moda e descobrir como a agricultura, a justiça social e a moda se entrelaçam por meio da fibra. 

 Agradeço não só a ELLE pelo espaço, confiança e liberdade, mas a quem me acompanhou mensalmente por aqui. A coluna E SE… chega ao fim, mas eu seguirei escrevendo na minha newsletter Lado B, frilando como jornalista e construindo a soflô, projeto de cerâmica experimental e partilhas (eco)feministas, cujo principal objetivo é conectar mulheres – consigo, com outras mulheres e com a terra. 

Um abraço apertado para quem vai sentir falta dessa coluna e os melhores desejos para 2023. Força, foco e fé, pois, como sempre, vamos precisar. Nos vemos por aí.

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