No Itaú Cultural, exposição de moda aborda as diferentes funções do vestir
Com mais de 80 obras, “Artistas do vestir: costuras do afeto” reúne nomes como Ronaldo Fraga, Maxwell Alexandre e Walter Rodrigues.
Moda tem a ver com desejo, tendência, ar dos tempos. Mas a gente não pode se esquecer de que moda é também uma roupa que cobre um corpo, costurada por alguém. Quem faz o molde? Como aquele bordado chegou até ali? As roupas nos vestem em que momentos do dia, da vida? A moda tem só um objetivo? A exposição Artistas do vestir: costuras do afeto, com inauguração nesta quarta-feira (27.11), no Itaú Cultural, em São Paulo, é um ótimo lugar para se colocar esse tipo de questão.
Lino Villaventura, Sônia Gomes, Karlla Girotto, Gustavo Silvestre (à frente do projeto Ponto Firme), Mestre Didi, Maxwell Alexandre, Leda Maria Martins e Walter Rodrigues estão entre os mais de 70 estilistas e artistas que exibem as múltiplas maneiras de expressão contidas em uma roupa, uma veste, um traje – que podem tomar a forma de arte, ou de instrumento religioso, protagonizar discussões políticas ou manter memórias vivas.
Jum Nakao Foto: Ale Perroca
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O número de obras selecionadas pelas curadoras Hanayrá Negreiros e Carol Barreto ultrapassa 80 – 10 delas são comissionadas, quatro foram criadas especialmente para a mostra e seis nunca foram exibidas no Brasil. “Começamos a trabalhar depois do Carnaval deste ano, eu em São Paulo e Carol em Salvador. Já fizemos produções intelectuais juntas; temos várias conexões”, conta Hanayrá à ELLE. “O nome da mostra veio logo nos primeiros encontros. A ideia era falar de quem faz moda de um lugar de arte, memória e afeto”, continua.
Hana conta que houve uma preocupação em não hierarquizar a moda. Assim, as roupas, instalações, fotos, vídeos e esculturas estão distribuídas em três pisos do prédio, que fica na avenida Paulista, sob os temas Ancestralidades, Contemporaneidades e Fazeres contínuos.
Isa Silva Foto: Agencia Ophelia
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Em Ancestralidades há trabalhos que recuperam ou mantêm viva a memória, como o de Fernanda Yamamoto, que em 2022 criou uma coleção com a comunidade nipo-brasileira Yuba, ou dos adereços criados pela indígena Irekran Kaiapó a partir dos ensinamentos transmitidos por sua mãe. Ou mesmo da roupa de Iyalorixá, trabalho comissionado criado pela Ekedy Sinha, que tem mais de 70 anos de iniciação no candomblé. “Fomos até a Casa Branca, na Bahia, considerado o terreiro mais antigo do Brasil, para fazer o convite. ‘Vocês estão vindo me dizer que agora sou artista?’, foi a reação dela, que nos arrancou risadas. É claro que ela é”, diz a curadora. No candomblé, “ekedi” é um cargo. Sinha cria as roupas usadas pela mãe de santo e mantém um centro cultural de costura no local.
Em Contemporaneidades estão as obras que discutem questões atuais, seja de política, gênero ou raça. Um exemplo é Veneno, obra que traz reflexão sobre o conceito de loucura, assinada por Vittor Sinistra – ele trabalhou na área de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS). Fause Haten expõe Máscara branca, de 2016, feita com uma camisa do desfile de 2007, uma forma de pensar as camadas de criação possíveis a partir da moda.
Projeto Ponto Firme Foto: Danilo Sorrino
Em Fazeres Contínuos, em que os temas são costuras, desenhos e fazeres do ateliê, estão peças como Lembrança 1984, do pernambucano Ellias Kaleb, um vestido-instalação cuja estampa são as cartas trocadas por seus pais quando namoravam e moravam em cidades diferentes. Há uma escultura vestível de Jum Nakao e também o site specific de Cllaudia Soares, com peças criadas a partir de tecido reciclado de sacolas plásticas.
“Fizemos questão de nos aproximar dos artistas, visitar os ateliês, fazer os convites pessoalmente, e não apenas produzir uma lista de nomes. Nessa etapa, os artistas traziam suas memórias, teve muito choro”, diz Hana, que é professora e pesquisadora de moda. “Nosso objetivo é que a mostra também seja um veículo de educação, que as pessoas anotem, fiquem curiosas e chamem outras pessoas para visitar.”
Artistas do vestir – uma costura dos afetos: de 27/11/24 a 23/02/25, no Itaú Cultural (avenida Paulista, 149, pisos 1, -1 e -2). De terça a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada gratuita.
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