Quem foi Sister Rosetta Tharpe, a madrinha do rock

Às vésperas do Dia do Rock, conheça a mulher que inspirou Elvis Presley e Chuck Berry.


Sister Rosetta Tharpe
Sister Rosetta Tharpe, em 1957. Foto: Chris Ware/Keystone Features/Hulton Archive/Getty Images



Se Chuck Berry é reverenciado como o pai do rock e Elvis Presley o seu rei, que espaço deveria ocupar nesta história a mulher que os inspirou? Rosetta Atkins Tharpe Morrison, ou Sister Rosetta Tharpe, viveu o auge de sua carreira entre os anos 40 e 60. 

Influenciada pelo jazz e pelo blues, chamou atenção ao unir a guitarra com sua vivência gospel. Em 1944, sua canção “Strange things happening every day” se tornou a primeira faixa gospel a atingir o TOP 10 da Billboard. No filme Elvis (2022), de Baz Luhrmann, ela é interpretada pela cantora Yola e lembrada por alguns minutos, na cena em que o astro visita o Club Handy, um bar em Memphis onde músicos do rock se encontravam. 

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Reverenciada também por nomes como B.B. King, Bob Dylan e Johnny Cash, Rosetta é lembrada como a “madrinha” ou “mãe do rock”. Mas por que nunca ganhou a mesma notoriedade de outros ídolos? O fato de ser negra, mulher, de família simples e cristã – os pais trabalhavam colhendo algodão – parece dar a resposta para este apagamento histórico. Conheça mais abaixo sobre esse nome fundamental para a história do rock:  

Talento descoberto na igreja

Rosetta nasceu em Cotton Plant, uma pequena cidade no Arkansas, em 1915. Aos 6 anos, vivendo em Chicago, passou a frequentar com a mãe os cultos da igreja evangélica Deus em Cristo. Neste primeiro encontro com a música gospel, já mostrou que podia cantar com muita facilidade. Com o tempo, sua habilidade com os instrumentos como violão e piano também veio à tona. Conforme crescia, viajava com a mãe e outros membros da igreja para espetáculos gospel e, além de tocar e cantar, começou a compor.

  • Casamento arranjado 

Quando tinha 19 anos, Rosetta se casou com o reverendo Tommy Thorpe (de onde viria seu sobrenome, apesar de um erro de digitação), que pregava na mesma igreja onde ela cantava. A união havia sido arranjada pela mãe da artista e acabou em quatro anos, já que o marido se aproveitou do sucesso da cantora para explorá-la financeiramente.

  • Mudança para NY e sucesso

Em 1938, a cantora se mudou para Nova York, onde começou a tocar em pubs e gravou seu primeiro disco, Rock me, pela gravadora Decca Records. Inserida então na indústria da música, viu sua carreira deslanchar, destacando-se com sua mistura de rock com gospel e influências de jazz e blues. Após chegar ao TOP 10 da Billboard em 1944, com “Strange things happening every day”, emplacou outras canções na parada.

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A cantora em turnê com a Blues and Gospel Caravan, no Reino Unido, em 1964 Foto: Tony Evans/Getty Images

Turnê em meio à segregação racial e romance

Já nos anos 40, no auge da segregação racial nos EUA, com sua carreira decolando, Sister Rosetta não se intimidou ao se juntar a uma turnê de grupos gospel formados por homens brancos. Tempos depois, voltaria a quebrar barreiras ao se unir à artista Marie Knight, que também cantava e tocava piano, para uma série de espetáculos pelo país. Carregando e montando os próprios equipamentos estrada afora, as duas compuseram juntas canções que fariam sucesso, como “Up above my head”. Segundo Gayle Wald, biógrafa de Rosetta, a parceria profissional acabou por se tornar um romance, mas isso nunca foi confirmado oficialmente. Nesta época, ela chegou a fazer shows para mais de 20 mil pessoas. 

De volta ao gospel em meio à ascensão do rock branco

No fim dos anos 60, a cantora já dava sinais de que pretendia, cada vez mais, reaproximar-se do gospel, enquanto a indústria musical era dominada por homens brancos. Dois anos depois de perder a mãe, Rosetta, ainda na ativa, em 1970, sofreu um derrame que lhe trouxe diversos problemas de saúde e resultaram em um afastamento dos palcos. Em 1972, com diabetes, foi obrigada a amputar uma das pernas e, um ano depois, não resistiu ao sofrer um novo derrame. Sister Rosetta foi enterrada na Filadélfia, em um túmulo sem identificação. Somente em 2018, foi incluída no Rock’n’roll Hall of Fame, famoso museu em Cleveland, Ohio, que homenageia figuras importantes do gênero e ganhou tributo de Brittany Howard e Questlove.

Para conhecer mais de Sister Rosetta: seu perfil no Spotify, a biografia Shout, Sister, Shout!: The Untold Story of Rock-and-Roll Trailblazer Sister Rosetta Tharpe, de Gayle Wald, e o documentário The Godmother of Rock’n’roll.

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