WTNB, 2025
Ana Clara Watanabe amplia a oferta de produtos da WTNB para além do sob-medida em coleção na qual imagina um futuro com ideais ancestrais.
Como serão as roupas usadas daqui cem anos? Para Ana Clara Watanabe, e a coleção 2025 da sua WTNB, desfilada nesta quinta-feira (27.11), em São Paulo, esses looks estarão mais próximos de ideais ancestrais.

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto
Leia mais: WTNB, 2024
A grande notícia é que a coleção intitulada Toki no Koromo marca uma virada comercial da WTNB: agora, além do sob-medida, a etiqueta passa a reproduzir comercialmente e em escala, tudo aquilo que se vê na passarela.
Em termos de tema, a estilista imagina um amanhã que recupera formas antepassadas de viver. No lugar do completo fim, que tal retomar o senso de responsabilidade coletiva e melhorar o equilíbrio entre o homem e a natureza? Sim, a ideia parece romântica, mas não deixa de ser uma alternativa – e talvez a única saída que evite a nossa completa extinção.

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto
Leia mais: Novos designers: Conheça Ana Clara Watanabe
A reflexão sobre o tempo vem de uma experiência própria com a terra, pautada por um manejo mais sustentável, com ciclos menos fixos e espaçados. É que em fevereiro, os sócios da WTNB, Ana Clara Watanabe, também diretora criativa, Hugo Takemoto e Sofia Leonardi desenvolveram uma agrofloresta em Pindamonhangaba, cidade natal da designer.
O espaço fica localizado no sítio Motoko-Teruaki, propriedade dos avós japoneses de Ana Clara que migraram há mais de 60 anos para o interior paulista para plantar tomates. O sistema de plantio integra diferentes culturas agrícolas com árvores e vegetação nativas, formando um ecossistema mais equilibrado. Uma das espécies cultivadas é o algodão. A ideia é que ele seja usado na produção de tecidos próprios e, consequentemente, nos futuros produtos da WTNB.

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto
Leia mais: Misci, inverno 2026
A apresentação começa com um filme em preto e branco, gravado na agrofloresta. No curta, aparecem fotografias do campo, figuras humanóides que imaginam seres de um amanhã inventado, com audição aguçada e visão prejudicada, além do tio-avô de Ana Clara Watanabe, o Sr. Suzuki, de 103 anos.
Depois, acontece uma performance de dança de Vitor Hamamoto e, enfim, 18 modelos entram em cena com looks que ficam entre armaduras e mantos ritualísticos. Um desejo por proteção gera camisas de mangas duplas e punhos alongados, que cobrem as mãos. As bermudas ganham camadas extras de tecidos para não expor os joelhos.

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto

WTNB, 2025. Foto: Hugo Takemoto
Leia mais: COP 30: Como a moda pode impulsionar a bioeconomia no Brasil
No geral, as roupas fazem um mergulho mais profundo na ascendência asiática da estilista. Dá para dizer também que evidenciam a sua inspiração no movimento japonista do final dos anos 1980. Vem daí a alfaiataria que repensa a silhueta, o gosto por tonalidades sóbrias e o toque da filosofia estética wabi-sabi, onde a beleza da imperfeição é valorizada.
As construções têm shapes geométricos, principalmente triangulares, além de plissados, sobreposições e patchworks. Algumas peças são feitas de panos de quimonos japoneses antigos. A designer os adquiriu com uma professora do Bunka Fashion College, instituto de ensino de moda renomado em Tóquio. É o caso dos linhos que vieram tingidos com carvão e da lona resinada com cera de abelha. Elas ampliam o repertório de tingimento natural da marca com romã e restos de cascas de cebola.
WTNB, 2025.
Foto: Hugo Takemoto
WTNB, 2025.
Foto: Hugo Takemoto


Capas e maxicoletes inspirados no Mino, vestimentas rurais centenárias, procuram proteger das intempéries do tempo. Essas peças foram confeccionadas por artesãs de Pindamonhangaba com folhas e cascas de troncos de bananeiras. Aliás, esse é um destaque da etiqueta: o uso de elementos que deixam a experiência nipo mais brasileira, como a blusa de crochê e os colares com miçangas de madeiras.
Vale apontar que, apesar da passarela possibilitar e encorajar a experiência conceitual, são as saídas de moda mais factíveis da WTNB as mais interessantes. Os cintos de couro de reúso com bolsos e ilhóses trazem um toque utilitário para a imagem, as camisetas de estampas localizadas e as calças encurtadas, bem recortadas, e que se movem de um jeito ergonômico, despertam desejo. É aí que Ana Clara Watanabe fica mais perto do agora e mostra de fato um futuro plausível.
Leia também: COP30 para ir além das manchetes
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes



