Chappell Roan adiciona glitter e irreverência à música pop

A artista conversou com a ELLE sobre sua relação com a moda, a influência da comunidade queer e seus próximos passos.


Chappell Roan usando um protése que imita um nariz de porco



Chappell Roan está no olho do furacão do pop internacional. Aos 26 anos, a cantora nascida na pequena Willard, cidade de seis mil habitantes no estado de Missouri, foi apontada como o futuro da música pelo The New York Times. Desde o lançamento do seu primeiro disco, The rise and fall of a midwest princess, em setembro do ano passado, ela vê seu público crescer.

O álbum se mantém há 15 semanas na lista de discos mais ouvidos da Billboard, com quatro músicas no top 100 – o single “Good luck, babe!”, lançado em abril, abocanhou o top 10 em julho. No Spotify, são 31 milhões de ouvintes mensais, no Instagram, ela soma 2,9 milhões de seguidores e mais 2,2 milhões no TikTok. A cantora ganhou fãs célebres – Elton John, Charli XCX e Troye Sivan, entre eles –, fez shows em festivais como o Coachella, foi a programas como Tonight Show com Jimmy Fallon, e gravou um set no Tiny Desk, o ótimo quadro da rádio estadunidense NPR.

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Nascida Kayleigh Rose Amstutz, Chappell assinou com uma gravadora aos 17 anos após publicar covers no YouTube, mas o EP School nights (2017) não teve o sucesso esperado. Ao longo de cinco anos, elaborou a sonoridade do primeiro álbum ao lado do produtor Dan Nigro, e mesmo sem ter um disco lançado, abriu os shows da turnê de Olivia Rodrigo em 2022 e 2024.

The rise and fall of a midwest princess fala sobre as descobertas da vida adulta e mostra uma compositora de mão cheia. Ainda que toque em assuntos sensíveis, como amor e relacionamentos queer, ela usa sua música para experimentações lúdicas e bem-humoradas. A sua voz versátil carrega elementos do soul – Chappell cresceu cantando na igreja –, mas pode chegar nos agudos e na estranheza de Kate Bush, ser açucarada como o pop radiofônico de Katy Perry ou alcançar o timbre country de Dolly Parton.

“Quero ser autêntica. Se as pessoas acham isso um bom exemplo ou não, tudo certo. Só posso oferecer quem esou e as coisas em que eu acredito, tudo bem discordar. Estou preocupada em como deixar a minha base de fãs orgulhosa. No fim do dia, estou apenas tentando me sentir bem comigo mesma e orgulhosa do que conquistei. Se alguém quiser acompanhar, vamos nessa”, conta à ELLE.

Como uma mulher cisgênero que se inspira na cultura drag, a artista entende como a sua figura pode ser política e usa o espaço do show para declarar apoio à comunidade queer, especialmente às pessoas trans. No fim da adolescência, quando saiu da cidade natal para morar em Los Angeles, ela encontrou refúgio nos bares no bairro de West Hollywood, reduto das drag queens. O universo exuberante e colorido das boates impactou Chappell, que sabia que precisava experimentar aquele tipo de liberdade.

“Nunca tinha visto uma drag queen ao vivo até me tornar adulta, não cresci assistindo a RuPaul’s Drag Race”

“Acho que, oficialmente, a Chappell Roan se tornou a minha persona drag no ano passado. Amo ver como isso se tornou algo libertador e cheio de alegrias. Nunca tinha visto uma drag queen ao vivo até me tornar adulta, não cresci assistindo a RuPaul’s Drag Race. Todo mundo ao meu redor, todos os meus amigos do colegial não eram gays. Quando me mudei para Los Angeles, comecei a frequentar West Hollywood e isso mudou a minha vida. Fui exposta a aquilo tudo e percebi que estava destinada a fazer isso também”, conta.

Na publicação em que apresentou seu disco, ela dedica as músicas para “a menina do interior que achava que não poderia ser ela mesma depois de sentir vergonha ao se apaixonar pela melhor amiga”.


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A montação de Chappell Roan

A cada show, Chappell surpreende nos looks. Já apareceu no palco de Estátua da Liberdade, jogadora de futebol americano (um dos seus figurinos favoritos), Hannah Montana (personagem de Miley Cyrus na série homônima da Disney), e Divine (drag queen e musa do diretor John Waters). “Você nunca me verá usando algo básico. Aliás, pode até ser mais básico, mas jamais entediante”, conta.

“Todos os meus looks são planejados porque é difícil customizar no impulso, as peças têm detalhes intrincados e são difíceis de produzir. Trabalho com um time para pensar os looks, a beleza e o cabelo. Me dou muito bem com a minha stylist, Genesis Webb. Sinto que ela me influencia a ser mais ousada. Venho com as paródias e o lado burlesco, e ela leva a ideia a um quilômetro além.”

A beauty artist Doniella Davy, criadora da marca Half Magic e maquiadora da série Euphoria, pediu para colaborar no look da cantora no show do Coachella. “A gente nunca tinha trabalhado antes, mas sou grande fã da linha de maquiagem dela”, lembra.


O novo álbum x turnê

Chappell mostrou em junho “Subway”, uma música nova, no festival Governors Ball, em Nova York, em que se apresentou vestida de Estátua da Liberdade. “Não sei se ela será o próximo single, quis cantá-la porque estava dentro do tema Nova York – e eu adoro um tema. Achei que seria divertido incluí-la no set, mas ainda não tenho um plano, porque estou escrevendo o novo álbum quando é possível. Não tenho tempo para compor na turnê. Acho que são dois modelos opostos de trabalho, sinto que é uma vibe semelhante da época em que fui barista e babá ao mesmo tempo. É impossível conciliar.”

“Sigo a Pabllo Vittar há muitos anos e sou obcecada pelo trabalho dela”

A cantora dá pistas sobre o que vem por aí: “Estou interessada em música dançante. Também queria tentar compor um country raiz. Adoraria fazer algo mais rock’n’roll. Amo o meu projeto porque posso ir para diferentes direções com ele e fazer tudo isso funcionar como Chappel Roan”, conta.

Os fãs brasilieros têm a acompanhado. “Recebo mensagens de ‘venha para o Brasil’ desde o começo da minha carreira. Além disso, sei que as drag queen são muito populares por aí. Sigo a Pabllo Vittar há muitos anos e sou obcecada pelo trabalho dela”.

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