Romy, do The xx, fala à ELLE sobre sua estreia solo

"Mid air", seu primeiro disco, foi inspirado na cena clubber e na comunidade queer; cantora assinou trilhas para a Valentino e foi destaque na Gucci.


A cantora Romy em frente a placas luminosas
Fotos: Divulgação



Após 15 anos de estrada com o The xx, Romy Madley-Croft lançou seu primeiro disco solo, Mid air, no início de setembro. Três meses antes, mostrou “Loveher”, single que norteou o projeto. “Percebi que precisava cantá-la”, lembra Romy em entrevista à ELLE. “Fiquei mais confiante, entendi que tinha algo a dizer fora do The xx, foi um momento decisivo.” 

Ao longo do disco, que carrega o ritmo acelerado das pistas de dança, com nuances de house e techno, ela reflete sobre o relacionamento com a esposa, a fotógrafa Vic Lentaigne, assim como fala do luto da perda dos pais e das inseguranças da vida adulta.

Mid air leva o ouvinte ao início da carreira de Romy, 34 anos, como DJ em redutos LGBTQIA+. “O disco é uma celebração da comunidade queer”, afirma. Na playlist da inglesa, nunca faltaram hits da eurodance e de grandes divas pop. Mas conforme o The xx ficava mais famoso, ela se distanciava dessa cena.

Como guitarrista e vocalista do trio, ela compôs três discos: xx (2009), Coexist (2012) e I see you (2017) e esteve duas vezes no Brasil. Ainda que o grupo não faça shows desde 2018 – apenas se reuniram para um live em 2020 –, eles permanecem amigos, mas sem data para lançar novas músicas. Os companheiros também possuem carreiras solo. Jamie XX foi indicado ao Grammy com seu In colour (2015) e Oliver Sim dividiu sua trajetória com HIV no disco Hideous bastard (2022).

Em paralelo, Romy escreveu letras para cantoras como Dua Lipa (“Electricity”), Diana Gordon (“Why hide”), King Princess (“Homegirl”) e Kelela (“Better”). Aos poucos, ela também ficou mais confortável em navegar os mares da música pop.

A cantora Romy, sentada, em frente a um fundo vermelho

O single “Lifetime”, de 2020, veio acompanhado da notícia do projeto solo e de uma coleção cápsula com a X-Girl, marca fundada por Kim Gordon, do Sonic Youth, na década de 1990. Um ano antes, Raf Simons criou uma linha comemorativa dos dez anos do debute do The xx. Em 2022, Romy assinou a trilha de dois desfiles da Valentino. No fim de setembro, “Loveher” foi eleita como trilha do desfile da coleção “Ancora”, que marcou a estreia de Sabato De Sarno na Gucci.

A seguir, confira nossa conversa com a cantora:

Quando você encerrou a turnê do terceiro disco do The xx, I see you (2017), já imaginava que não tocaria guitarra em seu projeto solo?
Sabia que queria me desafiar a tentar algo novo. Queria guardar a guitarra para ver o que sabia fazer sem ela e sentir falta dela. Quando me apresentava, ter a guitarra era confortável porque eu poderia me esconder atrás dela. Hoje, com o novo álbum, não preciso depender mais disso. Comecei a cantar as músicas novas e os shows são mais desafiadores, porque sou bem tímida.

Você dedicou grande parte do seu tempo às turnês e composições de discos. Como era a sua relação com a vida noturna ao lado da banda?
Me sentia desconectada da vida nas boates, então eu fazia DJ sets nas turnês do xx. Sentia falta porque é algo grande na minha vida. Amo o senso de comunidade das baladas queer londrinas. Comecei a discotecar aos 17 anos. Fiz isso enquanto gravávamos o primeiro disco e antes das turnês começarem. Algumas vezes, quando a gente fazia after party, tocava faixas pop, tracks dançantes e alegres. Por serem músicas muito diferentes da sonoridade do xx na época, algumas pessoas me perguntavam se eu estava sendo irônica ou se eu realmente gostava daquele tipo de música. Ficava chateada porque não estava sendo irônica, eu genuinamente amo música pop. Não me sentia compreendida. Fiquei com isso na cabeça, então parei com os DJ sets. Com o tempo, percebi o quanto adorava e sentia falta. Os últimos cinco anos me fizeram entender que não me importo com o que as pessoas pensam. Tudo bem ser diferente do xx, é muito bom me reconectar com essa parte da minha vida e dialogar com outros públicos.

Como você compara o público do pop com o da cena indie na qual o The xx está inserido?
Hoje em dia, as pessoas me parecem mais abertas em relação a gêneros musicais. Há 12 anos (no início do The xx), me parecia claustrofóbico gostar de pop e de indie, por mais que não me sentisse assim, porque sempre amei vários tipos de música. Agora as coisas estão mais escancaradas e o público está com a mente mais aberta. Me sinto muito inspirada por vários artistas jovens e queers, que são muito vocais e claros sobre suas vivências LGBTQIA+. Essas mudanças me inspiraram e me deram confiança para ser mais aberta e clara sobre a minha sexualidade.

“Amo o senso de comunidade das baladas queer londrinas. Comecei a discotecar aos 17 anos”

Qual foi o momento decisivo para Mid air sair do papel?
Tudo foi gradualmente se encaixando. Fiquei amiga do Fred (again, produtor do álbum) e começamos a fazer músicas juntos sem planos de criar um disco. A ideia era compor músicas para outros artistas. Com o tempo, começamos a ter um volume grande de ideias, entre elas, “Loveher”, a primeira faixa do álbum. Quando fizemos a demo, nos olhamos e, naquele momento, percebi que eu precisava cantá-la. Depois disso, fiquei mais confiante, entendi que tinha algo único a dizer fora do xx, foi um momento-chave.

Mark Ronson assinou a trilha do desfile da Gucci e escolheu “Loveher” para abrir a apresentação. Ele avisou que a música seria tocada na íntegra?
Conheci Sabato (De Sarno) na Valentino (grife para a qual assinou duas trilhas), ficamos em contato e enviei o meu disco para ele. Quando eles estavam planejando o desfile, o Mark Ronson entrou em contato comigo e disse que incluiria “Loveher”. Você nunca sabe como as coisas vão acontecer: enviei os arquivos, mas imaginei que ele usaria um trecho. Não acreditei que eles começaram a apresentação com ela e que ainda tocaram a faixa inteira. Fiquei emocionada porque estava sentada ao lado da minha esposa, a pessoa que me inspirou para escrever a letra.

Você criou a trilha sonora das coleções “Rendez vous” e “Pink PP”, da Valentino. O que mais te interessa nessas colaborações?
O estilista tem muitas ideias da forma como a música deve expressar a coleção. Acho interessante o desafio de encaixar o som com a visão do designer, além de tentar refletir o tipo de música que eu amo.

Tenho a imagem do The xx usando alfaiataria em tons sóbrios. Já em Mid air, você adotou o neon e peças esportivas. Como você enxerga essa mudança no guarda-roupa?
Foi natural, porque comecei a vestir o que geralmente uso. Quando era mais nova, colocar um blazer era como usar uma armadura, porque me dava confiança para tocar, me sentia protegida. Com esse projeto, tem sido divertido remover a barreira da vida fora do palco porque me sinto mais eu mesma. Então, estou mais confortável para usar peças de sportswear ou da X-Girl, são looks que eu usaria para dançar. Fora que é muito quente dentro das boates, seria impossível usar um terno.

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