Os vinhos que os sommeliers querem que você beba

Perguntamos a 14 profissionais do vinho o que gostariam de servir de diferente com mais frequência. Para você sair do lugar-comum e eles também.


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Luigi Bosca Riesling, uma das pedidas de Tiago Locatelli, head sommelier da importadora Decanter Foto: Divulgação



Cansou de beber sempre os mesmos vinhos? Quer sentir novos aromas, novos gostos, chacoalhar o lugar-comum? Você não está sozinho. Sommeliers também se cansam de servir os vinhos famosos, as uvas da moda, das regiões mais conhecidas. De fato, deve ser chato estudar a vastidão de uvas e estilos do mundo e ver os clientes de restaurantes, wine bars, lojas e importadoras pedir “o de sempre”.

Abrindo os braços para a diversidade – fundamental não apenas quando se fala em bebida –, perguntamos aos profissionais que pedidos eles gostariam de ouvir mais frequentemente. Que sugestões eles têm para quem quer abrir a cabeça e ampliar horizontes. Se é o seu caso, aproveite as dicas desse painel, que vai de brancos e tintos leves (a grande tendência global) a tintos e fortificados mais volumosos.

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Cão Perdigueiro Peverella, produzido na Serra Gaúcha. Foto: Divulgação


VINHOS BRANCOS FRESQUITCHOS 


“O clima e a comida do Brasil tendem a ter maior afinidade com
vinhos brancos, muitas vezes relegados a um segundo plano pelo consumidor. Vinhos com aromaticidade, boa textura e acidez, como Riesling, Soave, Alvarinho, Chenin Blanc, Encruzado e muitos, muitos mais, demonstram grande versatilidade e qualidade. Em nada devem aos tintos mais populares por aqui, tantas vezes consumidos inadequadamente, em harmonizações com pratos que, por suas características, pediriam mais leveza e frescor.”
Diego Arrebola, Sommelier ASI e consultor na Entre Copos

Dicas de Diego:
Riesling Five O’Clock 2022, produzido por August Kesseler na região de Rheingau, Alemanha (R$ 217,55 na Cave Prime).
Cão Perdigueiro Peverella 2023, vinho laranja produzido na Serra Gaúcha, Brasil (R$ 150 no Empório Augusta).

“Gostaria que o público brasileiro desse mais espaço para os vinhos brancos e se atrevesse muito além de Chardonnay e Sauvignon Blanc. Brancos têm tudo a ver com o nosso clima e com boa parte da nossa gastronomia. Temos grandes possibilidades no nosso mercado e podemos citar várias uvas e regiões: Sémillon na França e no sul da Argentina; Arinto, Loureiro, Alvarinho e muitas outras em Portugal; Verdejo na Espanha; ou a delicadeza da Pinot Grigio no norte da Itália. Não faltam grandes opções no mundo dos vinhos brancos.”
Gustavo Giacchero, sommelier do restaurante Fasano de Belo Horizonte

Dicas de Gustavo:
Era dos Ventos Trebbiano on the Rock, de Bento Gonçalves, Brasil (R$ 199 na Vinhos e Sabores).
Tapada do Chaves Branco, blend de Arinto, Antão Vaz e Fernão Pires da região do Alentejo, Portugal (R$ 189,90 na VinGardeValise).

“A uva Riesling origina muitos dos melhores vinhos brancos do mundo. É bastante versátil, consegue expressar como poucas o terroir onde é cultivada e, por ter acidez elevada, seus vinhos geralmente podem ser guardados por vários anos. Apesar de ter a sua imagem ligada a regiões mais frias da Europa, a Riesling é plantada em vários países do Novo Mundo. Há Rieslings muito secos e outros bem doces. Esses diferentes níveis de dulçor fazem com que sejam bastante gastronômicos. Um Riesling seco é perfeito para peixes grelhados, massas com frutos do mar, saladas. Os meio doces harmonizam com pratos apimentados da cozinha oriental, aves com molhos agridoces (como pato com laranja) e sobremesas leves à base de frutas.”
Tiago Locatelli, head sommelier da importadora Decanter

Dicas de Tiago:
Luigi Bosca Riesling Las Compuertas, produzido em Lujan de Cuyo, Argentina (R$ 196,90 na Decanter).
Eugen Müller Riesling Kabinett Forster Mariengarten, produzido na região de Pfalz, Alemanha (R$ 193,90 na Decanter).

 “Vale do Loire é a região! Gostaria de ver mais Muscadet de Sévre nas cartas de vinhos. É um branco produzido com Melon de Bourgogne, uva nativa do lugar. A vinificação é feita em tanques de inox e os vinhos ficam um tempo em contato com as borras das leveduras. Por isso, ganham mais corpo e cremosidade, mas não deixam de ter acidez elevada e mineralidade. Harmonização perfeita para ostras e frutos do mar.”
Luís Carlos Costa, sommelier do Bistrot Parigi

Dicas de Luís:
Muscadet de Sévre et Maine Sur Lie Jousseliniere (R$ 150 no Emporio Fasano).
Muscadet de Sèvre et Maine Sur Lie Saget La Perrière (R$ 192,90 na Mistral).

 

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Arbois Vieilles Foto: Divulgação


LEVEZA EM VINHOS BRANCOS E TINTOS


“Gosto de vinhos mais frescos, com acidez mais elevada, que convidam ao próximo gole. Vinhos demasiadamente pesados, depois de duas taças, dão a sensação de que você já acabou com a garrafa. Os leves e refrescantes são perfeitos, pois a gente bebe uma garrafa e nem percebe. Na verdade, podem ser perigosos justamente por isso! Eu pensaria em brancos de regiões mais frias como Casablanca no Chile, Mosel na Alemanha, Jura na França e Rías Baixas na Espanha. Ou uvas tintas mais delicadas como Pinot Noir, Gamay, País e Poulsard.”

Jessica Marinzeck, sommelière e gerente de marketing da importadora Cellar Vinhos

Dicas de Jessica:
Alt Scheidt Riesling Feinherb, produzido na região de Mosel, Alemanha (R$ 285 na Cellar Vinhos).
Non Sin Tou Tsefs, tinto de Pinot Noir produzido na região do Jura, França (R$ 335 na Cellar Vinhos).

“Os claretes ou tintos claros são um bom contraponto aos tintos robustos e pesados a que estamos acostumados. São mais leves, têm menos taninos, trazem a fruta em destaque e são mais fáceis de beber do que um Cabernet Sauvignon chileno, um Malbec argentino ou um Primitivo di Manduria italiano. Há uma tendência de fazer vinhos de macerações mais curtas e obter um mosto menos extraído e mais delicado. Todo produtor que hoje tem uma gama mais completa e mais autenticidade na enologia tem feito esses tintos claros, de menor extração. Não são exatamente vinhos simplezinhos. Muitos deles são bastante sofisticados para a gastronomia ou podem ser bebidos mais frescos, em ocasiões informais.”
Ricardo Santinho, sommelier do Grupo Vila Anália

Dicas de Ricardo:
Era dos Ventos Clarete, produzido com um blend de uvas tintas não nominadas, na Serra Gaúcha, Brasil (R$ 210 na Boutique do Vinho Artesanal).
Pequenos Rebentos Atlântico, produzido com as uvas Doçal, Cainho Tinto, Pedral, Alvarelhão e outras na região dos Vinhos Verdes, Portugal (R$ 300 na Grapy).

“Os vinhos da região francesa de Jura merecem mais espaço. O estilo Vin Jaune, feito com a uva branca Savagnin, é muito complexo, com aromas similares aos do Jerez espanhol. Não é fortificado como o Jerez, mas também passa um longo período estagiando em barricas com um véu de leveduras sobre o líquido. Além deste vinho único, a região traz muitas preciosidades, como o doce Macvin, os espumantes Crémant du Jura, tintos e brancos tranquilos feitos com as uvas Trousseau, Poulsard, Pinot Noir, Chardonnay e a já citada Savagnin.”
Danilo Camargo, sommelier e sócio do wine bar Notre Vin

Dicas de Danilo:
Arbois Poulsard Vieilles Vignes Domaine Rolet 2018 (R$ 355 na Belle Cave).
J. Arnoux Savagnin Vin Jaune (R$ 998 a garrafa de 620 ml na World Wine).

 

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Voo Livre Chardonnay, vinho laranja produzido por Vanessa Medin. Foto: Divulgação


PASSEIO PELOS VINHOS NATUREBAS


“Meu desejo é que as pessoas olhem mais para os vinhos de baixa intervenção –
naturais, orgânicos e biodinâmicos – e os entendam como produtos mais puros, mais saudáveis e de melhor qualidade. Eles têm menos aditivos do que os vinhos da grande indústria, pouca correção, não são feitos com leveduras selecionadas. Há uma preocupação cada vez maior em não consumir alimentos ultraprocessados e isso também passa pelo vinho. Os de baixa intervenção são mais verdadeiros, estão bem longe de ser uma receita de Coca-Cola. É possível encontrar esses vinhos honestos e de grande qualidade em todas as regiões vinícolas do mundo.”
Irma Ferreira, sommelière especializada em vinhos de baixa intervenção 

Dicas de Irma:
Voo Livre Chardonnay, vinho laranja produzido por Vanessa Medin em Bento Gonçalves, Brasil (R$ 120 na loja da vinícola).
Champagne Cuvée des Jean Extra Brut, um blanc de noir (elaborado com Pinot Noir) da célebre região francesa (R$ 485 na Wines4U).

“Adoro pét-nats, espumantes de fermentação única, e acho que as pessoas deveriam conhecê-los melhor. São leves, refrescantes, felizes, combinam bastante com nosso clima. Por serem comuns entre os produtores naturais, mais ousados, a chance de se conhecer mais variedades de uvas por meio dos pét-nats é maior. Vinhateiros do Brasil usam castas pouco comuns como Peverella, Glera, Viognier, Gamay, Chenin Blanc. Também são ótimos para fazer o público perder o preconceito contra uvas de mesa como Isabel, Lorena e Niagara. Elas rendem pét-nats frescos e deliciosos.”
Patricia Brentzel, sommelière do projeto Beba Bem em Casa

Dicas de Patricia:
Pét-nat Casa Viccas Glera, produzido em Serafina Correa, Brasil (R$ 140 na Boutique do Vinho Artesanal).
Pét-nat Simple Orange, com uvas Muscat e Ottonel, produzido no Uruguai pelo Proyecto Nakkal (em breve a safra 2024 chega ao Beba Bem em Casa).

 

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Era dos Ventos Peverella, produzido em Bento Gonçalves. Foto: Divulgação

BRASILIDADES


“Queria ver pessoas conhecendo mais os pequenos e jovens produtores do Brasil. Ainda mais nesse momento tão delicado para os gaúchos, todo apoio à produção do Sul é bem-vinda! Minhas indicações são dois brancos ótimos para o ano todo. Um Alvarinho de corpo médio muito versátil, para se bebericar sozinho ou em companhia de peixes gordurosos, e um Malvasia de baixa intervenção delicado, que mescla notas florais e de ervas frescas. Foi uma das boas descobertas desse ano.”

Keli Bergamo, sommelière e educadora de vinhos

Dicas de Keli:
Orbello Alvarinho, produzido em Monte Belo do Sul (R$ 159 na loja da vinícola, vendas por WhatsApp).
Casa Amare Árvore da Vida Malvasia, produzido com uvas de Farroupilha (R$ 120 na loja da vinícola).

“Gostaria de sugerir que bebessem mais vinhos nacionais. Isso seria interessante para romper alguns preconceitos, pois muitos ainda acreditam que o vinho brasileiro não é bom. Valorizar nosso produto é essencial por diversas razões. Ao consumi-los, apoiamos a economia e os produtores locais, contribuindo também para o crescimento da economia nacional. Indico um blend de uvas tintas da Campanha Gaúcha, complexo, rico e agradável. E um vinho laranja de Peverella de produção cuidadosa e artesanal, uma joia da vinicultura nacional, reconhecido por sua elegância e sofisticação.”
Márcia Alpães, sommelière, consultora e palestrante

Dicas de Márcia:
Campos de Cima Tosquia, blend de Tannat, Tempranillo, Malbec e Cabernet Suavignon, produzido na Campanha Gaúcha (R$ 79,90 na Alvino Expert).
Era dos Ventos Peverella, produzido em Bento Gonçalves (R$ 362 na Vinhos e Sabores). 

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Viña Cobos Chañares Cabernet Franc, do Vale de Uco. Foto: Divulgação

VINHOS TINTOS GORDUCHOS


“Gostaria que as pessoas experimentassem mais Cabernets Francs argentinos. São uma excelente alternativa aos Malbecs, geralmente com mais acidez, boa intensidade, taninos macios, complexidade de aromas e sabores diversos. Ainda têm bom potencial de evolução.”

Vinicius Santiago, sommelier do Grupo Víssimo

Dicas de Vinicius:
Punta Negra Block 10 Cabernet Franc, da região de Mendoza (R$ 109,90 na Evino).
Viña Cobos Chañares Cabernet Franc, do Vale de Uco (R$ 989,90 na Grand Cru).

“O sommelier precisa entender o estilo e que tipo de vinho cada pessoa está acostumada a beber, se está aberta a uma nova experiência ou não. Caso já tenha dado seus primeiros passos no mundo do vinho, gosto de indicar os Supertoscanos, que misturam a uva italiana Sangiovese a castas de Bordeaux como Cabernet Sauvignon, Merlot ou Syrah. Os melhores exemplares têm taninos macios, acidez equilibrada e são perfeitos para harmonizar com carnes vermelhas grelhadas. Os que têm mais tempo de madeira trazem notas de celeiro, defumadas, de terra molhada, especiarias. Alguns Supertoscanos podem chegar a custar em torno de R$ 7 mil. Mas é possível provar bons rótulos sem ter de pedir um empréstimo no banco.”
Antonio Cardoso, sommelier do restaurante Mondo Gastronomico

Dicas de Antonio:
Forte Ambrone Etichetta Nera IGT, produzido com Sangiovese, Merlot e Syrah (R$ 69,90 na Grande Adega).
Poderi del Paradiso Silicum IGT, também de Sangiovese, Merlot e Syrah (R$ 419 na Grande Adega).

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Blandy’s 10 Years Old Verdelho, produzido na Ilha da Madeira. Foto: Divulgação

UM FORTIFICADO PARA FINALIZAR (E UM VINHO BRANCO SECO PARA VOLTAR AO COMEÇO)


“Gostaria de ver maior diversidade de vinhos fortificados da Ilha da Madeira disponíveis no Brasil. Eles têm características aromáticas marcantes e podem ser servidos não apenas como aperitivo ou para finalizar a refeição, mas para acompanhar as comidas. Também sou fã da uva Moscato de Alexandria, que não produz apenas bebidas doces. Há lindos vinhos secos de Moscato com aromas cítricos e florais distintos.”

Silvana Aluá, sommelière e diretora da Confraria das Pretas

Dicas de Silvana:
Blandy’s 10 Years Old Verdelho, produzido na Ilha da Madeira, Portugal (R$ 585,88 na Mistral).
Vinho Branco Seco Moscato de Alexandria, produzido no Sítio Rosa do Vale em Poço das Antas, Brasil (R$ 100 na loja da vinícola).

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