No verão 2024, a grande tendência é o passado?
Para uma indústria que se diz movida pelo novo, parece que a moda anda presa no passado. E isso é um problemão.
O verão 2024 da Versace é uma versão atualizada da coleção de inverno 1995. Ainda sem diretor de criação, a Moschino convidou quatro stylists – Carlyne Cerf de Dudzeele, Katie Grand, Lucia Liu e Gabriella Karefa-Johnson – para interpretar looks emblemáticos da marca. Peter Hawking fez parecido em seu primeiro desfile à frente da Tom Ford. O estilista, que revolucionou a Gucci nos anos 1990, também é inspiração máxima na estreia de Sabato de Sarno na casa florentina.
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Nos tapetes vermelhos, aumenta a demanda por looks vintage, em especial os dos anos 1980 e 1990. E não é só celebridade que quer o brilho único de uma relíquia do tempo, tá? São várias as pesquisas que atestam o crescimento do mercado de revenda de itens de luxo. Sem contar nos leilões de roupas e acessórios cada vez mais frequentes e valiosos.
Tom Ford, verão 2024. Foto: Getty Images
Versace, verão 2024. Foto: Getty Images
E para não deixar ninguém insatisfeito – ou 100% insatisfeito – bora reeditar os clássicos de outrora. Pode até contar com ajuda de alguma celebridade para ajudar na venda. A novidade fica para depois.
Não tem nada de errado em olhar para a história, pelo contrário. É até essencial. Nesta temporada de verão 2024, Bottega Veneta, Prada e Fendi deram ótimos exemplos de como partir do que já foi – ou já é – para chegar em algo no mínimo diferente ou mais interessante. O problema, na verdade, não é a nostalgia desvairada, mas o que ela esconde.
Nas revistas e nos streaming, estrelas de outrora voltaram a protagonizar espaços até pouco tempo dedicados a nomes e corpos antes deixados de lado (para não dizer ignorados). Nas passarelas, diminui cada vez mais a diversidade nos castings, bem como em campanhas publicitárias e ações de marketing. E nem vamos entrar no assunto Ozempic.
Fendi, verão 2024. Foto: Getty Images
Nas conversas de bastidores, só se fala na queda do poder de compra da geração Z, na saturação do mercado e na perda das estribeiras da economia da atenção – aquela que depende de qualquer auê nas redes sociais. O negócio agora, segundo os executivos, é cuidar de quem nunca deixou de gastar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, faça chuva ou faça sol. Em outras palavras, o consumidor imune aos humores sociais e econômicos que quer, cada vez menos, o que está disponível para geral.
Dá até para argumentar que nem isso é uma novidade. De fato, é coisa do passado. Um passado que brigou-se muito para ficar no seu devido lugar, no passado mesmo (perdão a repetição). Então, antes de sair celebrando qualquer tendência, coleção ou meme fashionista, vale lembrar onde estamos e para onde queremos ir. É só uma lembrança ou uma tentativa de restaurar o que já não faz mais sentido?
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