Não misture esses ativos no seu skincare

Consultamos um time de especialistas para alertar sobre combinações que podem até parecer inofensivas mas que, sem os devidos cuidados, devem passar longe da sua rotina de beauté.


Ativos que não podem ser misturados no skincare



O famoso mix & match – ou fazer as suas próprias misturinhas de beleza em casa – pode até ser divertido, mas não é nada indicado quando o assunto é skincare. Especialistas garantem: é melhor deixar o momento alquimista para experimentos mais inofensivos, como na hora de inovar no make – e olhe lá!

Skincare é coisa séria e o fato de termos acesso a diversos tipos de ativos sem prescrição médica – isto é, na forma de cosméticos e não medicamentos – não significa que eles não apresentem riscos ou efeitos colaterais. Muito menos que misturar produtos seja totalmente ok.

“Nós, dermatologistas, fazemos associações de ativos com frequência e elas podem ser muito benéficas para o paciente, mas isso exige muito conhecimento e cautela. A combinação de tratamentos é algo muito individual cuja indicação e aceitação da pele varia muito de pessoa para pessoa”, alerta a dermatologista Ana Carolina Sumam, do Rio de Janeiro.

E mais: além da tolerabilidade de cada um, ao associar ativos, o especialista avalia os hábitos, a rotina, a exposição ao sol, medicamentos, questões hormonais e outros diversos fatores que podem influenciar tanto nos resultados quanto na segurança de cada tratamento. “Fazer essas misturas por conta própria pode causar uma série de efeitos adversos, como manchas, vermelhidão, irritação e até queimaduras”, completa.

“A combinação de tratamentos é algo muito individual cuja indicação e aceitação da pele varia muito de pessoa para pessoa”, Ana Carolina Sumam, dermatologista.

Muitos ácidos (principalmente) podem sensibilizar a pele e, por isso, quando um dermatologista indica associações, o tratamento vem acompanhado de cuidados paralelos de skincare e recomendações específicas que devem ser seguidas à risca. “Isso inclui a frequência de uso, o período do dia, a concentração daquele ativo para o efeito desejado, o uso em conjunto com outros produtos para recuperar ou preparar a pele antes, entre outros”, diz a dermatologista Natasha Crepaldi, de Cuiabá.

São tantas variantes que acaba sendo praticamente impossível nós, leigos, escolhermos uma associação que seja benéfica para a nossa pele. Consultamos um time de dermatologistas para comentar algumas combinações famosas, porém não tão inofensivas assim. Anote aí:

Retinol + Vitamina C

Um casamento (quase) perfeito. Trata-se de duas grandes estrelas da dermatologia e do skincare contemporâneo, cheias de benefícios para a pele, que até podem ser usados por uma mesma pessoa – mas, fica o alerta: nunca juntos ou no mesmo período (manhã/noite).

Tanto a Vitamina C quanto o retinol estimulam a produção de colágeno, a renovação celular e ajudam a homogeneizar o tom da pele. “São ativos que se potencializam, mas a Vitamina C pura precisa de alguns cuidados para se manter estável e eficaz na formulação. Para que ela tenha a máxima penetração e eficácia precisa estar na forma ácida. Então, é interessante manter a aplicação da Vitamina C pura durante o dia e o retinol à noite, por exemplo. Assim você mantém os benefícios antioxidantes e rejuvenescedores da vitamina C e dá um boost com a renovação potente do retinol à noite”, diz a dermatologista Priscila Camara de Camargo, da Clínica Camargo, em São Paulo.

Retinol + Ácido salicílico

Diferentemente da combinação anterior, que desde que feita com cautela pode ser indicada, esta associação de ativos é realmente perigosa. O motivo: “Como o ácido salicílico tem ação esfoliante, ele acaba potencializando a penetração das substâncias na pele”, afirma a dermatologista Fernanda Porphirio, da Clínica Vanité, em São Paulo.

O retinol, por si só, já tem alto potencial de causar irritação. Com essa “abertura” causada pelo ácido salicílico, a pele pode sofrer com ressecamento excessivo, descamação, perda de viço e bastante vermelhidão. “Muita gente busca essa associação para diminuir a oleosidade da pele e combater a acne enquanto agrega os benefícios antienvelhecimento do retinol, mas ela exige muito cuidado”, explica Fernanda.

Vitamina C + AHAs

Os alfa-hidroxiácidos controlam a oleosidade, uniformizam o tom da pele, melhoram a luminosidade e atenuam manchas, assim como a Vitamina C. Por isso, muita gente busca esse mix como forma de potencializar a ação na pele.

“O problema é que os AHAs causam a diminuição dos queratinócitos, isto é, afastam um pouco as células da pele aumentando a permeabilidade. Com isso, a ação da Vitamina C que já tem uma tendência a causar sensibilidade fica ainda mais intensa“, alerta a dermatologista Sayuri Yuge da Clínica Sayuri Yuge, em Brasília.

Ela pode até ser benéfica para algumas pessoas. “Mas, nesses casos, o dermatologista insere cuidados paralelos como o uso de um hidratante junto para aumentar o grau de tolerância da pele, além de alternar dias ou períodos de uso (vitamina C pela manhã e alfahidroxiácidos à noite, por exemplo)”, completa Nanashara Valgas, da Clínica Derm & Vasc, no Rio de Janeiro.

Retinol + Peróxido de Benzoíla

A combinação de retinol com peróxido de benzoíla não apenas deve ser evitada como não traz benefícios. “Se usados ao mesmo tempo, um ativo inativa o outro. Ou seja, a pessoa não terá os efeitos desejados do tratamento”, alerta Natasha Crepaldi.

Além disso, ambas substâncias têm a função de renovação celular e potencial irritativo, podendo sobrecarregar a pele se usadas juntas. Alerta extra para o peróxido de benzoíla, que é fotossensibilizante e, portanto, precisa de cuidado redobrado na exposição ao sol. “Por isso indicamos o uso sempre à noite e em períodos alternados com outras substâncias”, completa.

Retinol + AHAs

Não é raro encontrar essa combinação em produtos de skincare já prontos, nas formulações cosméticas – o que pode gerar confusão. “A questão é que esses produtos já carregam uma concentração equilibrada e livre de riscos para a pele”, afirma a dermatologista Mônica Moya, de São Paulo.

Quando você escolhe esses ativos para usar de forma livre, em casa, você pode acabar errando nesse equilíbrio, correndo o risco de inativar o efeito das substâncias ou, pior, gerar efeitos adversos como irritação e vermelhidão.

“Tanto o retinol, quanto os alfa-hidroxiácidos trabalham a renovação celular para ação clareadora e ambos têm potencial irritativo“, afirma Mônica. Uma saída pode ser o uso alternado e em períodos diferentes, de acordo com indicação médica.

Vitamina C + Peróxido de Benzoíla

A combinação tem o objetivo de tratar acne e os sinais da idade ao mesmo tempo, o que ainda é visto como um desafio do skincare já que os produtos antioleosidade costumam ressecar a pele (que necessita de hidratação para barrar o envelhecimento precoce).

“O peróxido de benzoíla age na bactéria responsável pelo surgimento da acne, além de reduzir a vermelhidão e esfoliar as células mortas”, explica a dermatologista Nanashara. A recomendação é de usar em dias alternados para diminuir irritação, vermelhidão e descamação, além de associar um hidratante leve. Uma dica que pode amenizar a irritação é aplicar um hidratante leve junto ao peróxido.

Peróxido de benzoíla + Hidroquinona

A hidroquinona age no clareamento de manchas, problema comum para quem sofre com quadros de acne. Por isso, essa poderia ser uma boa e comum combinação. “O problema é que o peróxido de benzoíla pode irritar a pele e ao aplicar a hidroquinona sobre uma pele sensibilizada, a pessoa pode ter o efeito inverso, ou seja, uma piora das manchas“, diz Sayuri.

Algumas peles podem até suportar essa associação (sob avaliação de um dermatologista), mas, mesmo assim, indica-se o uso intercalado com um bom hidratante, com o objetivo de formar uma película protetora na pele.

Hidroquinona + AHAs

Uma mistura bastante usada no skincare para clarear manchas como as de melasma enquanto promove renovação celular, mas que também pede dose extra de cuidado.

“Esse tipo de associação normalmente não é bem tolerada por peles sensíveis, podendo piorar a rosácea ou até causar uma dermatite atópica”, alerta Ana Carolina Sumam. Ativos clareadores mais suaves, como ácido kójico, ácido fítico, que não deixam a pele sensível ao sol, costumam ter uma melhor adaptação nesses casos.

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