Tudo o que você precisa saber antes da temporada de desfiles de inverno 2023

As estreias, os retornos, as ausências, danças das cadeiras e os gritos de sobrevivência que vão impactar seu feed durante a New York Fashion Week, a London Fashion Week, a Milan Fashion Week e a Paris Fashion Week.


Fila final do desfile de verão 2023 da Bottega Veneta.
Bottega Veneta, verão 2023. Foto: Divulgação



Amanhã, também conhecido como sexta-feira (10.02), começa a New York Fashion Week. Como de costume, é o pontapé inicial da temporada de desfiles de moda inverno 2023, que só termina no dia 08 de março, do outro lado do Atlântico, em Paris, depois de passar por Londres e Milão.

Ao que tudo indica, será um mês no mínimo interessante. Por quê? Bom, porque o mundo anda meio caótico. O surto de novos casos de Covid-19 na China pode ter diminuído, no entanto ainda há muita incerteza sobre as medidas de restrição sanitária daqui para frente. E estamos falando de um dos principais mercados para marcas de luxo. O recente terremoto na Turquia também pode causar tremores nas grandes casas europeias. É que o país europeu e asiático ao mesmo tempo é um importante fornecedor têxtil e de confecção. Como se não bastassem os efeitos colaterais e ameaças de todos os tipos decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia. E a Inglaterra especificamente tem dois outros agravantes: o Brexit e a alta inflação.

O cenário inflacionário, aliás, é uma preocupação geral. Só se fala nisso nos EUA. Aqui também (com o perdão pela força de expressão, sabemos que existem questões mais urgentes), somado os surtos do mercado e a apreensão com rumos do novo governo. Quase todas as análises financeiras preveem uma recessão global em algum momento deste ou do próximo ano. O economês é chato, mas tem impacto direto no que a gente vê nas passarelas e, meses depois, nas lojas. Vale ressaltar que as coleções de inverno 2023 só estarão à venda a partir de setembro. Até lá, muita água pode rolar. Nenhuma previsão é 100% precisa. Porém, melhor prevenir do que remediar.

Para entender o que estamos falando, vale lembrar dos desfiles de moda masculina de Milão e Paris, em janeiro. O grande denominador comum foi o exercício de redução – no cenário, no espetáculo e, sobretudo, na roupa. Já é um fato que uma parcela considerável de consumidores gasta mais com peças clássicas, atemporais do que com algum produto diferentão, marcante ou inovador. Então pode esperar algo similar na rodada feminina.

Finalizada a parte chata, vamos aos assuntos que, muito provavelmente, vão agradar o algoritmo e impactar seu feed.

Volta para casa – ou para passarela

Nomes estrelados da New York Fashion Week e recentemente ausentes dela fazem um comeback nesta estação. Alguns pularam fora por conta da pandemia, tipo Rodarte e Anna Sui, duas marcas que retornam às passarelas físicas. Outras trocaram Manhattan por Paris – caso de Thom Browne, atual presidente do Council of Fashion Designers of America (CFDA) e Heron Preston – e, agora, pegam o voo de volta. Tem ainda aquele visitante saudosista que, após se apresentar na cidade em 2017, decide matar a saudade. Alô, Palomo Spain, welcome!

Every new beginning comes from some other beginning’s end

A semana de moda de Nova York, quer dizer, a moda estadunidense se encontra num momento bem peculiar. Nomes que surgiram, cresceram e se consagraram lá já podem ser considerados consolidados. Ao mesmo tempo, uma nova leva de criadores começa a chamar atenção e não somente pelas roupas.

O melhor, ou mais conhecido, exemplo é Raul Lopez, cofundador da Hood by Air e, hoje, diretor criativo e comandante de seu próprio negócio, a Luar. A marca é sucesso de público, crítica e queridinha das celebridades que garantem alguns milhares de repostagens e compartilhamentos. Nesta temporada, a etiqueta volta ao formato tradicional de desfile (seguido de uma mega festa) no encerramento da New York Fashion Week.

 

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Uma característica relevante da Luar – e emblemática da nova geração de criadores – é o casamento entre vivências, origens e histórias pessoais com os desejos não exatamente do momento nem do mercado, mas de uma comunidade específica. A Head of State, da Taofeek Abijako, parte de narrativas decoloniais para entregar um produto atrelado a projetos de melhorias sociais em Nova York e na Nigéria, país onde seus pais nasceram.

Nesse momentinho de números, métricas e performances acima da criatividade, são profissionais independentes os responsáveis pelos respiros de maior inspiração e inovação no mercado. Vender é, sim, importante para eles. Conexão, representatividade e acesso idem. São visões, pessoas e propostas para ficar de olho para quem sente falta de uma moda menos fria e calculada.

Troca de guarda

Em Londres, a principal notícia será a Burberry sob direção criativa de Daniel Lee. Ele substitui Riccardo Tisci, estilista italiano, ex-Givenchy, chegado a um romantismo gótico que não animou os clientes da maior marca de luxo britânica. Vazaram com ele e com o CEO Marco Gobbetti (no lugar do executivo, entra Jonathan Akeroyd, diretamente da Versace).

Daniel, vocês devem lembrar, foi pupilo de Phoebe Philo, quando a Céline ainda tinha acento, e o diretor criativo responsável por fazer da discreta e silenciosa Bottega Veneta a obsessão de muita gente, influenciador e fashionistas das redes sociais. Até que, do nada, ele foi demitido. A boca miúda diz que ele tinha horários bem malucos de trabalho, era bem uó com a equipe e deixava o ambiente todo bagunçado, para dizer o mínimo. Nada certo, nada confirmado.

Há poucos dias, o britânico deu um gostinho do que pretende mostrar e fazer na Burberry. Numa nova campanha, mudou o logo – uma versão atualizada daquele de 1901 com o mocinho no cavalo – e convidou Vanessa Redgrave, Liberty Ross, Skepta e Lennon Gallagher (filho de Liam Gallagher e Patsy Kensit) para estrelar uma campanha com aquela pegada sofisticademente crua, elaboradamente natural que marcou a moda inglesa lá entre os anos 1990 e 2000.

Já volto!

Em Milão, tudo segue piano. A Gucci anunciou o estilista Sabato de Sarno como o novo diretor de criação, porém a coleção de agora não tem as digitais do moço, saído da Valentino. Ou seja, a coleção de inverno 2023 pode ser vista como um alvejante para deixar a tela (quase) em branco.

Tem o segundo desfile de Maximilian Davis para Ferragamo (agora sem o Salvatore) e as ausências da Marni e da Versace. A primeira está numa tour pelo mundo e, depois da apresentação em Nova York em setembro de 2022, foi para Tóquio. A segunda achou melhor juntar masculino e feminino num evento em Los Angeles, no dia 10 de março.

Ainda bem que we’ll always have Prada.

Musa do Eurostar e uma dancinha das cadeiras

Sabe aquele túnel que conecta Londres a Paris por trem? Então, Harris Reed deve estar usando bastante. Jovem radicado em Londres, famoso por vestir o Harry Styles e por suas criações exageradas e maravilhosamente teatrais, decidiu desfilar sua coleção de inverno 2023 na capital francesa. É que ela é prática. Harris foi nomeado diretor de criação da Nina Ricci – sim, mais um. A estreia rola nesta temporada, então por que não unir o útil ao agradável?

Aproveitando o tema dança das cadeiras, o designer Ludovic de Saint Sernin, aquele das roupas coladinhas no corpo, transparentes, às vezes tipo uma toalha prestes a cair e vendido como o maior impulsionador de uma outra visão sobre a roupa masculina, estreia como diretor criativo da Ann Demeulemeester, grife belga, fundada pela estilista de mesmo nome e uma dos Antwerp Six, cujo estilo tem sua melhor representação em Patti Smith.

Julgamento final?

O que vai incendiar e causar muita gritaria nas redes sociais é o desfile da Balenciaga, na semana de moda de Paris. Desde o BO das campanhas com alegada apologia à pornagrafia infantil, marca, CEO e diretor criativo fizeram a muda. Frias. Antes, tentaram jogar a bomba para a empresa encarregada pela cenografia daquelas imagens e, depois, quando viram que pegou mal, pediram desculpas nada convincentes.

O instagram de uma das casas mais influentes do momento entrou em recesso. As buscas e as vendas caíram significativamente. O Lyst, plataforma de consumo e pesquisa do varejo da moda de luxo, não viu a maison entre as dez mais procuradas por consumidores pela primeira vez em muito tempo.

O silêncio digital foi interrompido semanas atrás, com um post da campanha da nova coleção Garde-Robe 23. Nem adianta pesquisar. Já foi deletado junto com as declarações de arrependimento. O único conteúdo, publicado em 09.02, a semana do próximo desfile da grife, é sobre a parceria com a National Children’s Alliance, uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover e apoiar comunidades no fornecimento de investigações coordenadas e respostas a crianças vítimas de abuso por meio de Centros de Defesa da Criança (CACs) e Equipes Multidisciplinares.

De acordo com comunicado do grupo Kering, do qual a Balenciaga faz parte, o programa de três anos ajudará a treinar quase 2.000 profissionais especializados em lidar com abuso infantil. Além disso, cerca de 55.000 crianças receberão atendimento de saúde mental durante a duração do programa.

Pela reação nas mídias sociais, a apresentação não será nada tranquila, analisada minuciosamente com lente de aumento, cheias de opiniões e cobranças. A história recente mostra que, por muito menos, grandes nomes caíram ao menor indício de impacto no retorno financeiro. Como e por que Demna escapou das estáticas, não está claro até agora. Se continuará assim, vamos saber logo mais.

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