Entre lives e streamings: os destaques culturais de 2020

Do cinema à música, o que aconteceu de mais marcante neste ano tão singular


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Talvez nunca tenhamos passado tanto tempo entre quatro paredes como em 2020. Neste ano, tivemos que aprender (ou reaprender) a nos entreter em casa, entre séries, filmes, leituras e lives, muitas lives. As transmissões ao vivo pela internet foram a principal alternativa da indústria cultural para sobreviver à crise provocada pandemia, assim como o streaming. Aqui, passamos a limpo os principais destaques culturais deste ano tão singular, em que dançamos em casa com o TikTok e resgatamos os drive-ins:

Cinema: drive-ins, streaming e o desmonte da Cinemateca

Caetano veloso sentado, \u00e0 frente de uma parede cinza, olha para a c\u00e2mera
Caetano Veloso em cena de Narciso em férias, exibido pelo Festival de Veneza
Foto: Divulgação

Com as salas de cinema fechadas, os drive-ins foram resgatados e se multiplicaram pelo Brasil ainda no início da pandemia. Na capital paulistana, mais de dez deles chegaram a funcionar ao mesmo tempo. A 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo mostrou parte de sua programação em sessões em drive-ins, além de uma plataforma de streaming, recurso usado por vários outros festivais de cinema no Brasil e no mundo que não puderam acontecer presencialmente. A exceção foi Veneza, que exibiu Narciso em férias, documentário sobre o período em que Caetano Veloso esteve preso pela ditadura, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil. 2020 foi também o ano em que assistimos ao triste desmonte da Cinemateca Brasileira (São Paulo), maior instituição cinematográfica da América Latina.

O boom das lives, da Twitch e do TikTok

Perfil de Marcelo D2
Marcelo D2, que dividiu o processo de criação do seu novo álbum na Twitch
Foto: Divulgação/Marcelo D2

A pandemia provocou o cancelamento em série de shows, dos mais intimistas aos grandes festivais. Sobraram, então. lives para todos os gostos, de Billie Eilish a Marília Mendonça, que bateu recorde de audiência, com picos de 3,31 milhões de espectadores, em abril. E as transmissões pelo Instagram foram muito além da música: Anitta deu o que falar com suas aulas de política com Gabriela Prioli. Mas ninguém fez mais sucesso que Teresa Cristina, com lives que entram madrugada adentro e participação virtual dos maiores nomes da MPB. Falando neles, Caetano Veloso fechou o ano com uma live de Natal.

Para driblar restrições autorais, DJs e músicos migraram do Instagram e YouTube para a Twitch. “Essa sensação do faça-você-mesmo, de que qualquer pessoa pode se comunicar, isso é muito bonito. Tudo que eu pensar em uma TV, posso fazer ali dentro (na Twitch)”, disse à ELLE Marcelo D2, que compartilhou na plataforma o processo de criação do seu novo disco, Assim tocam os meus tambores.

O Tik Tok também mostrou sua força em 2020. Suas coreografias virais foram alvo de discussão por conta da autoria de passos. E a plataforma terminou o ano quase banida dos EUA por Trump, que foi barrado pela justiça americana e pelos eleitores para um segundo mandato.

Música: a exaltação à África de Beyoncé e a volta de Fiona Apple

Beyonc\u00e9 em Black is king
Beyoncé em Black is king

Foto: Divulgação/Black is king

O filme/álbum visual Black is king, de Beyoncé, foi um dos maiores acontecimentos pop do ano, promovendo a cultura africana e outros criadores negros. A cantora é a artista com mais indicações ao Grammy (nove), que acontecerá em 31 de janeiro. Dua Lipa e seu Future Nostalgia, BTS e seu BE, The Weeknd e After hours foram outros blockbusters de 2020. Nas listas estrangeiras dos melhores álbuns do ano, Fiona Apple — que não lançava um disco há oito anos —, reinou com seu Fetch the Bolt Cutters, além de Phoebe Bridgers e seu Punisher, e o trio de irmãs Haim com Women in music, Pt. 3.

Outros palcos: teatro digital, Fernanda Young por Maria Ribeiro e os 45 anos do Grupo Corpo

Maria Ribeiro olha para a c\u00e2mera
Maria Ribeiro, que encenou texto de Fernanda Young no streaming
Foto: Bob Wolfenson

O teatro também migrou para o streaming. Sob direção de Mika Lins, Maria Ribeiro encenou o solo Pós-F. O texto é inspirado em Pós-F, para além do masculino e feminino, primeira obra de não-ficção de Fernanda Young, que morreu no ano passado e com quem Maria dividiria o palco. Chico Díaz, Mel Lisboa, Matheus Nachtergaele, Grace Passô, Gero Camilo e Bete Coelho são alguns dos atores que adaptaram espetáculos para o perfil Sesc ao Vivo, canal de lives criado pela rede. E uma das maiores referências da dança contemporânea brasileira, o Grupo Corpo completou 45 anos aprendendo a dançar virtualmente.

Séries: a escrita catártica de Michaela Coel, a chegada de Diana a The Crown e o debate em torno de Emily in Paris

Michaela Coel, em uma pista de dan\u00e7a, em cena de I may destroy you
Michaela Coel, em cena de I may destroy you
Foto: Divulgação/I may destroy you

No streaming, a inglesa Michaela Coel recriou um episódio de abuso que sofreu em I May Destroy You (HBO), uma das séries mais elogiadas de 2020. “A escrita foi tremendamente catártica”, disse à ELLE. O Gambito da Rainha, sobre uma órfã prodígio do xadrez (Anya Taylor-Joy), fez o interesse pelo jogo aumentar vertiginosamente e se tornou a série roteirizada mais assistida da história da Netflix. Também na plataforma, The Crown retornou com sua quarta temporada, com destaque para Gillian Anderson (Arquivo X), como Margaret Thatcher, e a novata Emma Corrin, como Diana. Já We are who we are (HBO) levou Luca Guadagnino (do longa Me chame pelo seu nome) para a TV. “O nome da série já entrega a ausência de juízo de valor sobre a turma”, escreveu Erika Palomino sobre a produção que gira em torno de dois amigos, em uma base militar americana, na Itália. Já a comédia romântica Emily in Paris (Netflix) provocou muito debate por reeditar alguns clichês e um figurino que marcou a década passada.

Literatura: febre Ferrante e Flip online

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Foto: Divulgação/Intrínseca

Os fãs brasileiros de Elena Ferrante puderam comemorar: em setembro, chegou às livrarias brasileiras A vida mentirosa dos adultos (Intrínseca), após o estrondoso sucesso da italiana com sua tetralogia napolitana. E, claro, foi parar na lista dos mais vendidos. Quem também frequentou a lista de best-seller em 2020 foi a filósofa e colunista da ELLE Djamila Ribeiro, com seu Pequeno manual antirracista (Companhia das Letras). Outras peculiaridades literárias deste ano: a venda de livros digitais cresceu e, como mandou o protocolo de 2020, a Flip aconteceu em versão online, reunindo Caetano e Paul B. Preciado.

As despedidas de Vania Toledo, Moraes Moreira e Chadwick Boseman

A fot\u00f3grafa Vania Toledo olha para a c\u00e2mera
A fotógrafa Vania Toledo

Foto: Reprodução

Em 2020, nos despedimos do eterno novo baiano Moraes Moreira; do compositor Aldir Blanc; do jornalista e um dos maiores conhecedores da música brasileira Zuza Homem de Mello; da atriz Nicette Bruno; do criador de Malfada, Quino, e do primeiro agente 007, Sean Connery. Também nos deixou a fotógrafa Vania Toledo, que clicou de Cazuza a Andy Warhol, além de inúmeros personagens da noite. E a partida de Chadwick Boseman, conhecido por interpretar o Pantera Negra no cinema, comoveu de gregos a wakadianos, como escreveu nossa colunista Joice Berth.

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