Além da Barbie: 8 filmes que inspiraram desfiles de moda
Não é de hoje que estilistas olham para o cinema em busca de inspirações. A seguir, lembramos alguns momentos desse cruzamento cultural que marcam a história.
Minissaias com borboletas de cristais, vestidos de poá que desenham a silhueta, leggings combinadas à scarpins e uma cartela extensa de tons de rosa. A descrição anterior diz respeito ao pre-fall 2023 da Versace, uma parceria da marca com Dua Lipa. Poderia, no entanto, ser o guarda-roupa da Barbie ou looks da atriz Margot Robbie, nas pré-estreias do filme Barbie (2023).
Embora a coleção da grife italiana não seja registrada pela Mattel, a cantora britânica faz uma participação especial no longa dirigido por Greta Gerwig e assina uma das faixas da trilha sonora da produção – lançada na mesma semana do desfile, no fim de maio. Ou seja, é difícil se tratar de uma mera coincidência.
A poucos dias da estreia de Barbie nos cinemas, a universo da boneca mais famosa do mundo está não só na Versace como em todas as lojas, de Gap e Zara a Melissa e Alexandre Pavão.
Destacar momentos da sétima arte e os fixar em seus moodboards é uma paixão antiga dos estilistas. Essa espécie de cruzamento cultural entre moda e cinema é um testemunho da capacidade de um designer de reimaginar um mundo já existente através de uma nova lente. Ora sutis ora declaradas, as referências filmográficas podem ser a chave para compreender os significados ocultos de uma coleção e a contextualizar em determinada ocasião.
A seguir, analisamos alguns vestígios que o cinema já deixou nas passarelas.
Fome de Viver: Alexander McQueen, verão 1996
Alexander McQueen, verão 2016. Foto: Divulgação
“Filmes sempre me inspiram”, contou Alexander McQueen, em entrevista ao The New York Times, em fevereiro de 2000. “Eu os uso como pano de fundo para criar uma atmosfera emocional.” Entre as suas muitas coleções com referências do cinema, está o verão 1996, que olha para Fome de Viver (1983), o thriller sensual de vampiros estrelado por David Bowie e Catherine Deneuve. Dos corsets transparentes cheios de minhocas até as camisas manchadas por mão ensanguentadas, havia ali uma ironia quase cômica em torno da mortalidade 一 destinada aos seres humanos e evitada (às vezes à revelia) pelos vampiros.
Matrix: Dior, inverno 1999 de alta-costura
Dior, inverno 1999 de alta-costura. Foto: Divulgação
Havia se passado apenas alguns meses desde a estreia de Matrix (1999) nos cinemas quando John Galliano decidiu levar a história à passarela da Dior, casa da qual era diretor de criação. No desfile de inverno 1999 de alta-costura, o couro foi o protagonista absoluto, em visuais monocromáticos de aspecto fetichista. A referência à linguagem estética dos figurinos dos personagens Neo, Trinity e Morpheus era evidente. A imagem perdurou por alguns anos na casa francesa e, ainda hoje, está cravada em nossas memórias. A diferença é que, agora, a narrativa da saga já não parece mais tão distópica.
Avatar: Jean Paul Gaultier, verão 2010 de alta-costura
Jean Paul Gaultier, verão 2010 de alta-costura. Foto: Divulgação
Desde que Jean Paul Gaultier abriu a sua casa de moda, no início dos anos 1980, foi apenas uma questão de tempo até que o cinema o chamasse. Em poucos anos, o francês criou figurinos exclusivos para filmes, como Ladrão de Sonhos (1995) e O Quinto Elemento (1997), colaborou com Pedro Almodóvar em Kika (1993) e Má Educação (2004), e até integrou o júri do Festival de Cinema de Cannes. Porém, foi só no verão 2010 de alta-costura que, inspirado por Avatar (2009), inseriu referências filmográficas declaradas em sua passarela. Mas, não pense em simples criaturas azuis. Embora as tranças típicas dos Na’vi estivessem lá, a imagem edênica do blockbuster foi traduzida para muito além do óbvio.
Jogos Vorazes: Thom Browne, inverno 2014 masculino
Thom Browne, inverno 2014 masculino. Foto: Divulgação
De manicômios surrealistas a cerimônias religiosas, as passarelas de Thom Browne sempre foram palco para apresentações teatrais. Na temporada masculina de inverno 2014, inspirado pelos códigos estéticos de Jogos Vorazes (2012), o estilista estadunidense realizou uma performance em dois atos, o da caça e o dos caçadores. Enquanto o primeiro possuía um conjunto de chapelaria impressionista feito por Stephen Jones, o segundo levava as dimensões das roupas ao extremo, em um aceno ao figurino grandioso da saga.
Os Excêntricos Tenenbaums: Gucci, inverno 2015
Gucci, inverno 2015. Foto: Divulgação
A promoção de Alessandro Michele ao cargo de diretor criativo da Gucci, em 2015, provocou um abalo sísmico na etiqueta italiana. Cinéfilo assumido, o designer constantemente citava trabalhos do diretor Wes Anderson entre suas influências. Na sua coleção de estreia, inverno 2015, havia referências ao figurino de Os Excêntricos Tenenbaums (2002), um dos filmes mais icônicos daquele cineasta. E nas temporadas seguintes, não faltaram um arsenal de versões completas da personagem Margot Tenenbaum (interpretada por Gwyneth Paltrow) com direito a casacos de pele, mocassins e cabelos loiros curtos.
Frankenstein: Prada, inverno 2019
Prada, inverno 2019. Foto: Divulgação
“Estava interessada na compreensão da humanidade: a fraqueza, a miserabilidade, o impulso de não se sentir isolado”, disse Miuccia Prada, em notas sobre o inverno 2019 da Prada. Para isso, pegou emprestado alguns símbolos da literatura e dos filmes de terror, principalmente de Frankenstein (1931), aquela criatura violenta em busca de um amor. A dicotomia do personagem foi traduzida nas composições da coleção: as lãs militares eram suavizadas por bordados rosas de cetim, as jaquetas de exército eram equilibradas com saias rendadas e as botas utilitárias davam peso aos vestidos de silhueta delicada.
Tubarão: Calvin Klein, verão 2019
Calvin Klein, verão 2019. Foto: Divulgação
Dada a tendência de Raf Simons de inserir referências de terror sutis e às vezes não tão sutis em suas criações, essa lista poderia ser facilmente preenchida apenas por coleções do belga. Quando assumiu a direção criativa da Calvin Klein, em 2016, o estilista se debruçou sobre camadas da história estadunidense, o que incluiu também os filmes de Hollywood. No verão 2019, relembrou o clássico de Steven Spielberg, Tubarão (1975). Das alusões literais, como o pôster do longa carimbado em camisetas, até as subjetivas, como as saias mordidas, tudo parecia ter saído do fundo do mar – às pressas e aos pedaços.
Les Biches: Chanel, inverno 2020
Chanel, inverno 2020. Foto: Divulgação
“Tão femininas quanto amazonas”, falou Virginie Viard sobre as mulheres do inverno 2020 da Chanel. Naquela temporada, a diretora criativa citou o filme Les Biches (1968) entre suas inspirações. O longa francês chocou a burguesia da época ao retratar a paixão entre duas mulheres de diferentes origens sociais e o drama de um triângulo amoroso. Daí a explicação para as modelos terem desfilado em pares ou trios. Quanto à coleção, a estilista disse: “quase não há vestidos, apenas casacos alongados, e, pela primeira vez, há botões de pressão nos ternos para um aspecto mais liberto”.
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